Nas últimas semanas, várias pessoas (amigas e conhecidas) têm estado a enviar-me fotografias, mensagens e partilhas de links sobre a questão do #freethenipple e dos seios e de todo este zunzum em torno deste tema. E por eu estar sempre a insurgir-me contra a exposição de figuras públicas como Chiara Ferragni e as suas quinhentas fotografias dos mamilos, têm-me dito que estou contra uma mensagem básica: a liberdade, a igualdade e o poder de escolha.
Oooooora bem. Eu não tenho nada contra mamas, ponto. Se me virem na praia, o mais certo é verem-me as mamas. Porque na praia, gosto de as ter ao léu. O que é que não veem? O telemóvel. Porque não sinto necessidade de me fotografar. Não tenho nenhuma mensagem para passar com as minhas mamas. Nem quero obter nenhuma reacção com elas. Então, não me fotografo. Não me exponho. Nem uso as redes sociais como palco da minha necessidade de atenção.
Todo este meu quesito é focado única e exclusivamente na necessidade de exposição gratuita, sem nenhum propósito, em redes sociais. Porque todas as acções querem uma reacção. Se apenas nos sentimos bem connosco próprias, com o nosso corpo e com a nossa sensualidade, podemos usar um top transparente na rua, podemos usar um vestido curto, podemos andar de seios ao léu na praia (como eu), podemos usar decotes, podemos fazer tudo. Temos essa liberdade. E ninguém tem de nos chamar de p-u-t-a-s porque o fazemos. Podemos, sim, insurgir-nos contra quem o faz – homens ou mulheres. Mas quando sentimos a necessidade de nos expor numa rede social pública, fazemos com que intuito? Foi sempre aqui que quis chegar.
Os mamilos na cultura popular
Nos últimos anos, houve vários momentos marcados por mamilos na nossa cultura popular. O “acidente” de Janet Jackson, o vestido de Lil’Kim, a capa de Kim Kardashian e até, esta semana, o vestido de Nicki Minaj na Paris Fashion Week. E todos estes momentos tiveram um objectivo muito particular – criar uma reacção através desta exposição. A própria Nicki diz que se quer reinventar e não basta mudar de cor de cabelo, quer chocar, quer ser diferente.
É isso que vocês querem quando se expõem nas redes sociais? Porque tem de haver um motivo. E esse motivo não pode ser apenas “porque posso”. Se víssemos um homem com uma mama de fora e uma estrela no mamilo, iríamos achar igualmente ridículo. Então, não usemos argumentos de falso feminismo que apenas têm um objectivo final de uma exposição e, daí, obter uma reacção – qualquer que ela seja.
Vou relembrar alguns momentos interessantes e onde, para mim, os mamilos tiveram uma mensagem de feminismo e poder absoluto. Keira Knightley na Interview Magazine em 2014 contra o constante uso de Photoshop nas suas fotografias; Sharon Stone na revista Paris Match em 2009 a celebrar o seu 50º aniversário e a mostrar que aos 50 podemos continuar a ser sensuais; Beyoncé na Flaunt Magazine em 2013 a mostrar que o corpo da mulher continua a ser bonito após o parto; ou Amy Winehouse e Sade na revista Easy Living em 2008 com o fim de apoiar a luta contra o cancro da mama.
Há mil e um motivos por que devem gritar pela liberdade de exposição. Mas gritar por uma rede social não é um deles. Dizem que esta luta tem como fundamento o facto de um homem poder ter uma fotografia sem t-shirt e uma mulher não. Uma mulher também pode – mostrei aqui várias em cima. Emma Watson acabou de aparecer na capa da Vanity Fair de peito exposto. E está fantástica. Mas vocês gostam de ver fotografias de tipos sem t-shirt nas redes sociais? Eu não. Passo logo à frente, reviro os olhos, acho ridículo e são exactamente o tipo de homens de que fujo a sete pés. Então, esta é uma luta inglória e que, no fundo, não é real. Porque na nossa realidade – na nossa vidinha de todos os dias – nós não queremos mostrar os nossos mamilos.
Deixem-me contar-vos uma história. Tive um patrão que era a coisa mais machista e chauvinista que alguma vez conheci. Um dia, tinha uma festa ao final do dia e já não ia a casa. Então, fui trabalhar já com a roupa que iria levar. Estava com um vestido curto mas bem normal (um decote normal) e, na redacção, coloquei os saltos na mala e calcei uns ténis. Ao fim do dia, calcei os saltos porque ia directamente para a festa e, à saída, cruzei-me com ele. Olhou-me de cima a baixo e perguntou se, em pós laboral, era trabalhadora da noite. Que é uma forma menos nojenta de me chamar puta. Got it? É contra isto que devemos lutar.
Gritem contra esta sociedade que explora a sexualidade das raparigas cada vez mais novas. Gritem contra o nome mais feio que se dá a uma mulher – puta. Por tudo e por nada. Gritem a favor da liberdade. Da equidade. Da paridade. Das escolhas. Das oportunidades. Gritem contra os julgamentos. Gritem contra a descriminação. Mas de que nos serve gritar para podermos mostrar os nossos mamilos nas redes sociais?
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