E este não é um post cheio de clichés sobre como podemos todos ser bons uns para os outros. É sobre usar do nosso poder – qualquer que ele seja – para fazer qualquer coisa por alguém, por mais pequena que seja.
Por vezes quando estou no Instagram, dou por mim de boca aberta a ver a forma como todas estas personagens digitais se relacionam com quem as segue. Não digo personagem de forma pejorativa. O que eu sou no Instagram também é uma personagem digital de mim. Porque todos temos três personalidades: a digital, a pessoal e a social. E a nossa digital é aquilo que quisermos mostrar a quem não nos conhece e apenas nos segue numa rede social. Então, quando vejo pessoas em discursos passivo-agressivos como se interagir com quem as segue fosse uma grande merda, dou por mim a pensar que também é preciso uma gigante dose de bom senso para se ter uma personagem digital.
Eu também me chateio com coisas que leio, também me irrito com as coisas parvas que às vezes me dizem, mas não me vou por a discutir com as pessoas e muito menos a escrever ou a fazer stories com respostas arrogantes e cheias de fúria porque se quem me segue não me entende, azar o deles. Porque é aqui que perdemos a razão e a nossa imagem digital se torna menos positiva. Além disso, tudo “isto” (o digital) é muito volátil, muito insignificante quando usado para nos desgastar.
Assim, tento sempre ter mente aberta, ler as opiniões dos outros e responder com educação e o mínimo de simpatia (e muitas vezes sarcasmo porque é suposto divertirmo-nos com isto), mesmo que não concorde com nada daquilo. Porque se tenho um canal de comunicação aberto, tenho de ter o bom senso de saber lidar com… exacto, com a comunicação que daí advém.
Fora isso, há coisas incríveis que já tive oportunidade de fazer por pessoas que não conheço nem nunca vi na vida, apenas porque não me custa e isso poderá ter um impacto positivo nas suas vidas. Há uns tempos, uma rapariga tinha comprado o meu livro, falou bastante comigo, mandou-mo por correio, eu assinei e escrevi uma mensagem para ela e voltei a enviá-lo para ela. Porquê? Porque não me custava nada e porque não ficava mais pobre pelos três euros que gastei a enviar o livro de volta para ela por correio.
Mas esta não é a história que quero contar.
Como a Fnac me ajudou a ter impacto na vida de alguém (e não, a Fnac não me pagou para isto)
Há umas semanas coloquei um story com o novo livro do Daniel Silva que tinha recebido. E imediatamente a seguir, uma rapariga – a Daniela – mandou-me uma mensagem a dizer que também estava a ler Daniel Silva e tinham acabado de lhe roubar o livro nessa manhã à porta do trabalho. Uma daquelas mensagens em que primeiro me ri por ser tão bizarro – alguém rouba livros? – mas depois acabei por ficar solidária com a dor dela. Porque trabalha em Barcelona e só quando vem a Portugal é que compra livros em português para levar e ler.
Depois de trocarmos algumas mensagens sobre o sucedido, fiquei a matutar no assunto. O que é que eu podia fazer? Enviar-lhe o meu livro por correio? Mas também o queria ler. Podia pedir à editora que mo enviou? Sim, também podia. Mas depois lembrei-me que tenho uma relação privilegiada com a Fnac: já trabalho com eles há alguns anos e sei que têm uma filosofia de relacionamento com os consumidores maravihosa e, acima de tudo, gostam de desafios. E depois de lhes contar esta história, perguntei se queriam, juntamente comigo, fazer uma surpresa à Daniela e enviar-lhe o fatídico livro roubado. E nem foi preciso sequer dizer mais nada porque a Fnac disse logo que sim.
E é esta história que vale a pena contar: um simples gesto de dois minutos a falar com a Fnac mudou tudo. A Daniela agora não se vai lembrar de quando lhe roubaram um livro. Vai lembrar-se de quando alguém que ela segue e que não conhece de lado nenhum lhe proporcionou esta surpresa. E, acima de tudo, vai lembrar-se da Fnac. E esta relação que se cria com os consumidores é impagável e dura uma vida toda. Provavelmente sempre que falar de lojas de livros, a Daniela vai falar da Fnac. E sempre que quiser comprar um livro, provavelmente vai à Fnac. Porque a Fnac vai trazer-lhe sempre uma boa lembrança.
Eu podia ter-lhe respondido, ter encolhido os ombros e voltado à minha vidinha como se nada fosse porque o problema não era meu. Mas eu não consigo ter a postura de vida da avestruz: enterrar a cabeça na areia e alhear-me de tudo o resto. Se calhar foi por isso que, sei lá, estudei políticas sociais e criminologia e tudo o mais que me trouxe até aqui. Sempre gostei de me envolver nas vidas dos outros.
Assim, o que gostava de vos deixar com esta história é a mensagem de se abrirem mais aos outros. Porque com pequenos gestos quase insignificantes conseguimos mudar a vida de alguém. E, claro, os livros têm este poder de mudar vidas.
Obrigada à Fnac por me ter ajudado a salvar a vida literária da Daniela eheheh! 🙂
Nota: camisola da coleção primavera Jumbo Moda.
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