Ontem fui jantar com umas amigas de infância. O que é para lá de espectacular porque, nos dias de hoje, pouca gente mantém amigos durante tanto tempo. E estas não são as amigas com quem estou normalmente no meu dia-a-dia, mas são as minhas amigas mais antigas. Toda a gente cresce e segue a sua vida, faz novos amigos, cria novas cumplicidades, é normal. Mas nós continuámos a falar e a encontrar-nos de tempos a tempos. Nós, atenção. O nós é um grupo restrito. Porque na maior parte dos casos, as pessoas crescem e perdem tudo aquilo que aos 16 anos tinham em comum. Neste caso, quase 15 anos depois, continuamos todas a ter coisas em comum, embora uma seja arquitecta, outra médica, outra veterinária, outra hospedeira de bordo, outra enfermeira… e eu, a pessoa mais estranha que, para elas, tem um emprego de sonho. «Recita-nos um poema», disseram-me 500 vezes durante a noite. «Só nos vossos casamentos», respondi, entre risos. (eu não faço poemas, atenção. Estou longe de dominar essa arte. Mas elas acham que, por escrever sobre amor, estou apta a rimar sobre o amor.) Mas é exactamente aqui que me quero focar. Ali estávamos nós, sentadas ao redor de uma mesa a falar sobre homens, sobre histórias antigas, sobre outras histórias de outras pessoas. E as conversas tinham de recair em mim. Porque uma mulher que ainda vive num romance de Jane Austen é um bicho num mundo onde toda a gente já vive com os seus amores de há mil anos. E eu fico feliz por elas. Porque acho que encontraram pessoas fantásticas. Mas eu não. E isso faz de mim um bicho estranho? Epá… não. «Então e o Fábio?», perguntou-me a Vânia. «Era phsyco, tentou sufocar-me no outro dia quando me encontrou no Lux», disse-lhe. «Como assim? Que horror», respondeu. Pois, acontece. «Porque eu não lhe liguei mais. Era um chato». C-H-A-T-O! «Mas o que é que ele fez?», perguntou? «Começou a lamber-me os pés no cinema». Argh. «E o Carlos? Vocês estavam sempre juntos», voltou a perguntar. «Olha… era um phsyco», disse-lhe. «Outro? Mas porquê?», perguntou-me. «Porque me ligou a perguntar o que é que ele não tinha. O que é que ele não tinha para eu não gostar dele», disse-lhe. E continuei: «E eu respondi-lhe que ele tinha tudo o que uma mulher procura, mas o amor não se força. Depois, foi morar para Barcelona e nunca mais me falou», disse-lhe. «Que bizarro. E o Lucas?», perguntou. «O que é que achas? Esse é o rei dos phsycos.» E aqui já nos estávamos a rir à gargalhada, mas eu não acho tanta piada assim. Porque, para elas, é fácil dizer que sou uma eterna insatisfeita que vê defeitos em toda a gente. Eu não vejo defeitos em ninguém. Mas é muito raro encontrar alguém que me fascine e me prenda. E poucos homens estão dispostos, ou têm paciência, a darem-se a conhecer. A criarem romance. E também acho que poucas mulheres estão dispostas a isso. Num mundo cada vez mais pautado pelo sexo, procurar o amor tornou-se secundário. É tudo demasiado fácil. E demasiado rápido. Vivemos com uma urgência tão grande em viver tudo aqui e agora, que nos perdemos pelo caminho. E, no meu caso, os homens tornam-se pouco interessantes e acabam por não ter nada de novo para me dar. Nada que eu queira conhecer. «Vou apresentar-te um amigo do meu namorado», disse-me a Tamára. «A sério, vamos jantar esta semana. Acho que vocês se vão dar bem e esqueces finalmente esse idiota de Madrid». E este é o outro lado de se ser assim. Toda a gente tem alguém que acha que é perfeito para mim. Partilhei isto com alguns amigos (sim, homens!) e todos concordaram comigo. Disseram que sentem uma pressão escandalosa para se juntar com alguém porque todos à nossa volta começam a juntar os trapos e a mudar-se. E nós, nós somos os estranhos do circo.
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