Esta semana tive uma discussão absurda com um amigo sobre a forma de se estar numa relação e tudo o que envolve tabus, experiências e exclusividade do que é ser um “casal”.
Ora, eu sou uma pessoa aberta q.b. Aberta no sentido que não me preocupo minimamente com o que cada pessoa faz na sua vidinha a dois. Tenho zero preconceitos e eu pessoalmente já vivi – e espero viver mais – imensas experiências a dois que me enriqueceram não só enquanto pessoa mas, acima de tudo, enquanto pessoa numa relação. Aprendi sobre os meus sentimentos, as minhas inseguranças, sobre a minha forma de viver as emoções e de as expressar.
Motéis, stripteases ou peepshows. É demasiado a dois?
Se se estão a questionar de que género de experiências falo, sei lá, tudo o que possa sair fora da rotina normal de jantar e cinema mas que não seja demasiado arrojado, tipo casas de swing – que eu também não sou tããããão aberta assim.
Ora, esse meu amigo dizia que não há necessidade nenhuma de um casal se expor a certas experiências (dormir em motéis, ir a um striptease a dois ou até um peepshow) porque isso é banalizar a respectiva exclusividade do casal que deve estar dentro de casa. E, acrescentou ele, sermos demasiado abertos vai trazer-nos surpresas e o fim da relação porque rapidamente a outra pessoa deixa de ser fiel.
Drástico.
Bem, em primeiro lugar, este é o tipo de experiências que cria cumplicidade e, acima de tudo, confiança. Se não há confiança na outra pessoa, vê-la a olhar para uma mulher nua num varão pode desencadear toda uma série de inseguranças. E para mim, testar a confiança é uma coisa que se deve fazer bem cedo numa relação. O porquê de, muitas vezes, estarmos demasiado tempo em relações erradas é exactamente porque não nos conhecemos a nós nem à outra pessoa.
Temos de nos colocar em situações extremo para nos conhecermos
Que requisitos procuramos? Alguém que nos faça rir? Alguém querido? Que nos trate bem? Com valores parecidos aos nossos? Certo, isto faz sentido. Mas isto também são conceitos muito vagos. No dia-a-dia, nós todos somos imaturos, ciumentos, impulsivos, neuróticos, ansiosos, depressivos de muitas formas mais ou menos intensas. Mas nem sempre nos conseguimos ver assim porque foram poucas as vezes em que alguém nos colocou em situações que despontassem este tipo de emoções. Nós acordamos, vamos trabalhar, voltamos, jantamos com o nosso parceiro, vamos ao cinema ou jantar fora, bebemos uns copos, saímos com amigos e voltamos para casa. Nas férias, viajamos ou vamos para a praia, passeamos e damos umas voltas para passar o tempo. Na verdade, todos temos uma rotina mais ou menos estabelecida com a qual nos sentimos confortáveis.
Para mim, uma das coisas mais urgentes a fazer numa relação é literalmente sair desta rotina confortável e colocarmo-nos em situações que nos exponham a alguns dos nossos medos mais primários – sejam eles subir uma montanha ou ir a um striptease a dois. Eu, pessoalmente, procuro sempre alguém que saiba lidar com as minhas neuroses e a minha ansiedade. Se, num ataque de pânico, um tipo me mandar beber um copo de água, claramente não é o tipo certo para mim. Uma relação saudável vai nascer entre duas pessoas que, quando expostas a experiências diferentes, se consigam encontrar.
Se fizer sempre a minha rotina, nunca vou saber se a pessoa com quem quero ficar sabe lidar comigo no meio da minha ansiedade estúpida
Uma vez, fui tomar o pequeno-almoço com um looooover. E ainda não tínhamos dormido, se é que me entendem. Tínhamos estado numa discoteca. E eu só podia estar apaixonada para ter ficado numa discoteca até de manhã. Estava exausta, cheia de fome e a meio do caminho comecei a ter um ataque de ansiedade porque estávamos a conduzir há imenso tempo, não havia ainda nada aberto e estava a ter uma quebra de tensão com a fome. Comecei a suar e a tremer ao mesmo tempo, a não conseguir respirar e tive de me deitar no banco. Ele entrou numa auto-estrada qualquer, parou na primeira bomba que encontrou – que tinha restaurante e estaria sempre aberto – tirou-me ao colo do carro e sentou-me à mesa. Durante o tempo em que conduzia, falou sem parar, nem sei bem do quê, apenas para me manter ocupada e deixar de me focar no ataque de ansiedade. Depois, à mesa, rimo-nos imenso. E, naquele momento, apaixonei-me mais por ele por, ao invés de me ter achado maluca, ter simplesmente lidado com a situação.
Isto foi uma coisa positiva numa relação que tinha muitas outras negativas, é certo. Mas tive de aprender a expor-me numa das minhas piores neuroses. Com quem muitas outras pessoas não souberam nem vão saber lidar. E isto foi uma lição que vou levar para o resto da vida. Se eu fizer sempre a minha rotinazinha por forma a evitar ter ansiedade, nunca vou saber se a pessoa com quem quero ficar sabe lidar comigo no meu pior.
Quando é que uma relação deixa de ser normal?
Nesta discussão, o meu amigo disse que as pessoas que iam a esses sítios eram só casais estranhos que, claramente, não tinham relações normais. E eu gritei-lhe que isso era um preconceito. Acabámos por não falar mais entretanto mas a minha opinião não mudou. Como vamos casar com uma pessoa com quem nunca vivemos experiências que nos confrontem com os nossos limites? Precisamos de conhecer o funcionamento íntimo da pessoa com quem planeamos casar, não? Não basta ser alguém divertido, simpático, com quem nos rimos e passamos bons momentos. É preciso questionarmo-nos do que é que realmente gostamos nessa pessoa. Como é que ela nos faz sentir? Como é que ela lida com tudo o que somos? – o bom e o mau. Como é que ela é insegura? Neurótica? E como é que lida com esses mesmos aspetos em nós próprios? E gostamos da pessoa ou da companhia que nos faz?
Podia ficar aqui horas a questionar-me – e a questionar-vos a vocês – mas sou só eu que penso de uma forma bastante aberta? Eu acho que uma relação só pode funcionar a 100% se as pessoas se conhecerem profundamente em situações extremo a que, no dia-a-dia, raramente nos expomos. Seja um casa de swing, uma noite no striptease, motéis ou, sei lá, ir de férias para uma cabana isolada, subir uma montanha ou qualquer outra coisa que nos coloque em contacto directo com as nossas emoções.
Se tivermos confiança que a pessoa que temos ao lado conhece e sabe lidar com as nossas emoções, isto é meio caminho andado para se ultrapassar grande parte dos problemas relacionais que vão surgindo ao longo do tempo.
Mas, sei lá, isto sou eu… Estarei errada?
Nota: para quem gosta de ler, deixo este artigo sobre casarmos com as pessoas erradas. É longo, mas interessante.
Camisa, Jumbo Moda (nova colecção). Fotografia, Faz de Conta Fotografia.
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