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Foto do escritorHelena Magalhães

Quando um estranho nos aborda na rua…


No outro dia vi este vídeo (em baixo) sobre o amor bonito, cliché, romântico, mágico, intenso, imprevisível e todos os adjectivos que lhe quiserem chamar. Aquele amor que todos (secretamente ou não) desejamos encontrar mesmo ali ao virar da esquina, na nossa vida banal, no dia-a-dia, enquanto esperamos pelo metro ou tomamos café ou lemos um livro ao final do dia. Porque, na verdade (e nisto acredito mesmo), todos começamos como estranhos uns para os outros.

O único problema desta visão tão cor-de-rosa da coisa é que não é simplesmente real. E isso continua a dar continuidade aos desejos fantasiosos que perseguimos e que, de forma muito prática, nos fazem perder as oportunidades que realmente são reais e estão mesmo ali à nossa frente.


Vamos analisar esta ideia tão fofinha das relações. Se um tipo olhasse para mim desta forma, o mais provável era eu levantar-me e ir embora. Porque, sim, começamos todos como estranhos mas o mundo está cheio de tipos demasiado estranhos.

E agora o que eu quero mostrar é o outro lado deste vídeo e a mensagem errada que passa.

Em 99% dos casos, se uma mulher não dá resposta aos avanços de um tipo, significa simplesmente que não está interessada. Se ela não tira os headphones para falar com ele e diz que não tem número de telefone, está basicamente – e de forma até bem educada, eu não seria tão cortês assim – a dizer que 1) não quer ser incomodada, 2) não está interessada e 3) não, não está a fazer-se de difícil à espera que o tipo pense em formas românticas e bonitas de a abordar. Muito menos vindas de um estranho. Até porque na vida real muito dificilmente nos cruzamos com as mesmas pessoas nos mesmos sítios à mesma hora. A não ser que, sei lá, trabalhemos ali ao lado e estejamos ali todos os dias na hora de almoço a beber café. E neste caso, a abordagem até está mais ou menos positiva: muitos tipos não sabem simplesmente o que fazer para nos abordar sem parecerem assassinos psicopatas porque, lá está, são como nós. E estão a tentar fazer qualquer coisa com piada para chamar a nossa atenção.

Mas o que este vídeo mostra é que nós, mulheres, quando dizemos não, na verdade queremos dizer que sim. Mas queremos que os homens se esforcem um pouquito mais. E isso é uma mensagem tremendamente errada. Claro que não estou a generalizar. Gosto de homens que se esforcem mas há uma diferença entre um tipo que conheço e se está a esforçar para (e esta é a minha palavra favorita de sempre) me conquistar e um tipo bizarro na rua que fica a olhar para mim no banco e a colar-me post-its nos meus livros à espera que eu responda aos seus avanços. Estes são aqueles que, depois, nos vão esconder numa cave debaixo da casa dele.

Um dos grandes problemas desta geração que se esconde atrás das redes sociais é que perdemos aquela capacidade básica de abordar alguém, de conversar, de tentar conhecer. E nisto, este vídeo até está a acertar na mouche embora de uma forma um pouco incoerente: temos de voltar a ter coragem de falar com as pessoas. Em tempos, um amigo disse-me algo que nunca mais me saiu da cabeça: tu não tens coragem de abordar um homem que te atraia, mas aqueles que te vão abordar são exactamente aqueles que tu não queres. Quando eles vêm com a conversa toda é porque já a praticaram demasiadas vezes e aqueles que tu gostas são os que nunca te vão abordar porque têm tanto medo de serem rejeitados como tu.

E isto foi a coisa mais certa que alguém me disse. Podemos ficar à espera encostadas ao balcão do bar e ser apenas mais uma que um tipo abordou durante a noite (a ver se tem sorte). Ou podemos ter cojones para, se alguém nos atrair, abordar, dar o primeiro passo, convidar para um café e por aí além. Porque, acreditem, o homem errado é sempre aquele nos vai abordar facilmente. Porque está demasiado habituado a isso. E há mais: se estamos num grupo de amigas, um homem não nos virá abordar porque se sente tão intimidado quanto nós nos sentiríamos a abordar um tipo num grupo de homens. Se estamos na rua com os headphones nos ouvidos, um tipo não nos irá abordar como o do vídeo. Se estamos num café a falar ao telefone ou a rolar pelo Instagram a passar o tempo, um tipo não nos irá abordar porque não faz ideia se estamos solteiras ou a falar com alguém. Há mil e uma condicionantes e, tal como nós, os homens também pensam nelas todas. E, provavelmente, 99% dos homens não vai fazer o que este tipo do vídeo faz por uma única razão: têm medo de parecer phsycos. Como este parece.

O que não podemos fazer? Acreditar nestas mensagens deste tipo de vídeos que, no final, até têm boas intenções (spoiler: ela é surda e é por isso que não tira os headphones) mas que são uma fantasia. Gostava de conhecer o tipo que teria coragem de fazer isto.

Se não queremos estar sempre a conhecer cabrões, temos simplesmente de saber ler os sinais – porque eles estão sempre lá. Os olhares, os sorrisos… e quando olhamos para alguém, o nosso cérebro demora 0,3 segundos a responder a um estímulo e, neste caso, para sabermos se a outra pessoa nos atrai ou não. E, aí, podemos dar o primeiro passo com aquele homem que nunca o irá fazer porque, na verdade, tem tanto medo como nós. Se ficamos eternamente à espera de encontrar o amor ao virar da esquina, só vamos conhecer tipos bizarros que nos continuam a chatear mesmo quando dizemos que não.

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