A relação que as mulheres têm umas com as outras é estranha. E digo estranha porque – mea culpa – somos mesquinhas, falamos demasiado e somo maldosas, mesmo quando não o queremos ser. Ou sem termos consciência disso. Dizia ontem, numa conversa, que sinto tudo demasiado. Sou muito tudo ou nada. E perco muitas vezes a coerência quando estou num momento de tudo.
Quando um tipo se mete entre os nossos planos
Esta conversa veio a propósito de duas amigas que se chatearam devido a uma situação em que, sem nos apercebermos, perdemos a coerência e vamos de cabeça ao chão. Foi algo meio parvo mas o suficiente para criar desconforto: As, vamos chamá-las assim, Joana e Inês, foram para o Urban Beach – para mim, isto já era motivo mais do que suficiente para haver um corte de relações. Se uma amiga me dissesse que queria ir lá, enfiava-lhe um foguete nos olhos. Mas continuando, a Joana disse que queria sair cedo porque ia trabalhar no dia seguinte, a Inês concordou. Eis que o Urban lança os dados e confunde os planos todos. A Inês conheceu um tipo (conhecer um homem no Urban é o epítome do amor) e a Joana, que queria ir embora cedo, foi chutada para canto. Eram 4h da manhã e a Joana ainda estava à espera da Inês que tinha planos diferentes e estava sentada num sofá com a língua enfiada na boca do tipo que conheceu.
Resumindo e concluindo: chatearam-se. A Inês, com língua ocupada, ficou para lá e a Joana foi embora de taxi, farta de esperar pela amiga (e boleia) que, a meio da noite, encontrou planos melhores e perdeu a coerência.
A noite em que perdi a cabeça (e o bom senso) no Urban
Foi a Joana a contar-me isto no fim-de-semana, aborrecida com a situação. Num primeiro impulso, eu ia dizer-lhe que, no lugar dela, também teria ficado chateada. Mais que chateada, furiosa. Porque, tal como no amor, também vivo as amizades de forma muito intensa. Mas depois lembrei-me de uma noite, há uns anos, precisamente… no Urban Beach. E nunca pensei vir a escrever isto mas – além de ter ido ao Urban Beach, que vergonha – eu também chutei uma amiga para canto. Para tentar diminuir a minha culpa, posso atestar que estava completamente apaixonada pelo tipo e, depois de tantos encontros e desencontros, ele tinha ido lá ter comigo de propósito e eu fiquei absolutamente desnorteada.
Lembro-me de estar para ali a voar com ele pela pista, completamente alheada a tudo à minha volta. Para canto ficou uma amiga de escola que tinha ido comigo e com as minhas amigas de sempre – que ela não conhecia. E claro que, naquela situação, e por ela não conhecer mais ninguém, eu era responsável pelo seu bem-estar e integração no grupo. Mas mal o tipo apareceu, eu desapareci com ele durante horas. Não faço ideia o que é que a minha amiga fez ou como se sentiu. Nunca falámos sobre isso. Ela nunca me falou da situação. E eu também nunca mais pensei nisto – até hoje – tal foi a forma atarantada como fiquei naquela noite.
E eu sei que sou assim – tudo ou nada. É tão difícil para mim sentir tudo que, quando isso acontece, perco o rumo. E, enquanto falava com a Joana, tentei passar-lhe este outro lado da situação. É que por vezes, nós mulheres, somo mesquinhas, egoístas, individualistas e maldosas sem sequer nos apercebermos disso. Sem pensarmos muito nas consequências dos nossos gestos. Passamos tanto tempo nos nossos sapatos que, por vezes, não nos conseguimos colocar nos sapatos dos outros. Descalçamo-nos e deixamo-nos ir por aí. E isso pode magoar.
Ao fim e ao cabo muitos destes tipos não significam nada – passam pela nossa vida de forma tão trivial que resta pouco para contar deles – mas as amigas ficam. Por vezes com mossas e desilusões. A única coisa que podemos fazer não é fugir destes momentos de tudo – que podem ser maravilhosos – mas, pelo menos, não deixarmos ninguém no canto à nossa espera. E pagarmos o taxi para casa, claro.
Comments