– Vivemos em sociedade, Lena. Não podemos simplesmente não nos importar com o que os outros pensam. Ou se calhar sou eu que penso demasiado. Fico a prever tudo e mais alguma coisa – disse-me um amigo ontem à tarde por mensagem, enquanto conduzia para casa.
– Pensas demasiado e vives pouco – respondi-lhe num instante, sem pensar.
Mas, sendo prática e menos teórica, também sei que não é bem assim. Por mais que nos tentemos abstrair de tudo o que nos rodeia e viver somente a nossa vidinha como bem nos apetecer, a verdade é que o peso da sociedade estraga muitas vezes os nossos objectivos. Não fazemos o que queremos, não dizemos o que nos vai na cabeça, não vamos onde nos apetece, não estamos com quem gostamos, não trabalhamos no que realmente nos dá prazer… somos livres mas de um tipo de liberdade que nos aprisiona a todos os níveis.
Esta conversa veio a propósito de ele, acabado de se separar, sentir que tem de fazer um luto. Não digo um luto sentimental – porque isso demorará o tempo que tiver que demorar dentro dele – mas um luto social. E isto deixou-me a pensar o quanto nos subjugamos a regras sociais, como pássaros que por livre e espontânea vontade se fecham dentro de uma gaiola.
Eu gosto de acreditar que sou uma pessoa que não pensa muito. Prefiro viver. Se gosto, digo. Se quero, faço por isso. Se me apetece ir, vou. E o mesmo se aplica relativamente ao oposto. Não perco muito tempo a analisar as coisas ou a pensar o que é que os outros vão pensar de mim porque prefiro vivê-las. Se correr mal, correu. Se não funcionar, era porque não tinha de funcionar.
Claro que escrito parece tudo fácil e eu própria não sou tãããão desprendida assim. Esta semana, estive um quarto de século a ponderar se enviava ou não um email e os riscos que corria com isso. Mas acabei por perceber que ficar calada era-me mais penoso do que simplesmente dizer o que me ia na cabeça. Por um lado, a sinceridade é o maior trunfo que temos em relação a tudo na nossa vida e devíamos dar-lhe mais uso. Por outro, foquei-me realmente no que eu iria pensar de mim própria se não fosse honesta comigo mesma e não no que a outra pessoa iria pensar ao ler.
Vivemos em sociedade, é verdade, mas porque nos deixamos aprisionar com medo do que os outros possam pensar? Afinal, estamos aqui para viver a vida de quem?
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