Tornei-me aficionada em redes sociais provavelmente desde o mIRC em 2001, o MSN lá para 2003 e o Hi5 lá para 2005. Em 2006 ou assim virei-me para o Facebook. Hoje em dia sou completamente anti-redes na minha esfera pessoal – tenho e uso mas de forma muito básica. E nunca vi uma mais perigosa que o Snapchat.
É verdade – as redes sociais vieram mudar a forma como vivemos em sociedade e do Facebook passámos para o Twitter para falarmos de temas da moda e então chegou o LinkedIn para termos uma rede social profissional e de repente toda a gente quer é o Instagram e partilhar fotos altamente (não) espontâneas da nossa vida mas então o Whatsapp está a um botão de distância e não vale a pena telefonar porque podemos partilhar todos os nossos pensamentos por mensagens e porque só fotos já não nos satisfaz, vamos fazer vídeos de tudo o que fazemos no nosso dia-a-dia e publicar no Snapchat para mostrarmos ao mundo o nosso pior lado.
Fiquei cansada só de escrever isto.
Há uns meses, a Miranda convenceu-me a entrar no Snapchat e criámos uma conta em conjunto – confesso que mais para cuscar do que outra coisa. Tinha curiosidade em ver o que toda a gente fazia nessa app. Começámos a seguir uma catrefada de gente, amigos, bloggers e figuras públicas – portuguesas e internacionais – e volta e meia também contribuímos para a desvirtualização da vida que são estas apps. Mas contribuímos q.b., que é como quem diz, fizemos uns vídeozinhos de coisas que estavam a acontecer, momentos divertidos, viagens, parvoíces no carro, vídeos dos nossos gatos e por aí em diante.
O que quero partilhar hoje é a aflição que me dá a ver a estupidificação do ser humano. Mulheres – e mesmo as que eu conheço e vejo no Snapchat – não se estupidifiquem. Mesmo que aqueles vídeos desapareçam em 24 horas.
E em vez de se sentirem altamente ofendidas – pfff quem é que ela pensa que é? – eu não penso que sou ninguém mas o Snapchat torna-vos – perdoem-me a expressão – idiotas. É como se, mal ligassem a câmara, se tornassem uma personagem infeliz de vocês próprias que faz carinhas e beicinhos, fala com uma voz estúpida, anda na rua a falar para a câmara, faz monólogos sobre o vosso dia, canta sozinha no carro a olhar para a câmara, mostra a quantidade de compras que faz, para de conviver com amigos para estar a falar para um universo virtual a que chamam seguidores e – o mais ridículo – partilha toda a sua vida para alguém inexistente que está do outro lado a ver. Eu e a Miranda algumas vezes demos por nós a cair nesta linha de actuação e acabámos sempre por concordar em como não sentíamos que fossemos nós no vídeo que tínhamos acabado de fazer. E sentíamo-nos tão desvinculadas da app que – pelo menos eu – deixámos de lhe dar uso.
Se é giro fazer vídeos divertidos em amigos? Filmar situações giras? Partilhar coisas que se estão a viver? Uma viagem? Um evento? Um concerto? Claro que sim. Esse é o lado saudável.
A surpresa é que, com o Snapchat, vocês têm a capacidade de mostrar uma versão de vocês próprias ainda mais estúpida que o Instagram ou outras redes sociais – e contra mim falo que, no Instagram, também dou por mim a publicar fotos sem qualquer propósito que não seja mostrar-me. No outro dia, ao ver a história de uma blogger, contei a quantidade de vezes que ela, enquanto falava para a câmara num monólogo interminável, mexia no cabelo e fazia carinhas. Contei mais de 40 a mexer no cabelo e mais de 20 momentos em que parou de falar para fazer um beicinho ou uma expressão sensual enquanto se observava a si própria. Narciso, personagem da mitologia grega, morreu ao observar-se a si próprio nas águas da lagoa de Eco. É por isso que a palavra narcisismo tem uma conotação negativa.
E nós – mulheres mas também homens, embora só siga alguns – temos de ter uma noção de como as nossas decisões relativamente a estas tecnologias afectam o nosso dia-a-dia. Porque interrompem a nossa vida constantemente e incentivam-nos a documentá-la ao invés de a viver. E – para mim o pior – mostram um lado do ser humano altamente oco e desvinculado do que realmente importa nesta vida.
Não se estupidifiquem. Não se tornem na pior versão de vocês próprias. E não se exponham de forma tão negativa.
Do outro lado posso estar apenas eu, a contar a quantidade de vezes que mexem no cabelo porque há momentos do meu dia em que apenas me apetece ver trash tv, mas também pode estar um futuro empregador, um futuro contacto de trabalho, o homem da vossa vida…
E a imagem que estão a passar é a mais vazia possível.
Comments