Fui passar o fim de semana com ele. Fui porque queria resolver todas estas dúvidas. Porque ele enche-me a cabeça de que fomos feitos um para o outro e andamos há demasiado tempo nisto. E é fácil, muito fácil, ver amor onde ele não existe quando estamos carentes. Vivemos em países diferentes e, à distancia, é muito fácil fantasiar com uma vida que não conhecemos e com uma personagem de amor que acreditamos que existe. E é fácil falar com alguém que, estando do outro lado, nos aquece o coração e nos torna a vivência mais leve. Quando cheguei, jantámos e fomos sair. A ultima coisa que me apetecia era sair, tinha estado em fecho de edição, não dormia nada de jeito há mais de uma semana e só queria encostar-me a ele, sentir o seu cheiro e fechar os olhos. Entre a música alta, eu só olhava para ele e sorria. Não conseguia acreditar que estava ali porque era demasiado irreal. Enquanto furávamos a multidão de uma discoteca qualquer, agarrou-me na mão e arrastámo-nos, colados um ao outro. Dançámos, ou eu tentei fazer algo parecido com isso porque estava completamente paralisada. Ele tocava-me no cabelo, no rosto e eu só me ria porque era a coisa mais fácil a fazer quando todo o meu corpo gritava. Já o sol estava a nascer quando nos metemos num taxi para casa e aterrei na cama. Dormimos, vimos filmes, saímos para almoçar, demos umas voltas na cidade, jantámos fora… Volta e meia via-o a responder a mensagens. Foi ali, sentada no sofá, quando olhei para ele e o vi, nervosamente, a responder a uma mensagem dela, que percebi que não queria mais isto. Não queria te-lo dividido com outra pessoa. Nessa noite, estava no outro quarto quando ele me me mandou uma mensagem a dizer que a porta dele estava aberta. Podia ter ido lá aconchegar-me na curva da sua cintura, mas de que me servia? O que fiz foi uma outra coisa: escrevi-lhe uma carta. Agarrei numa folha que encontrei e escrevi-lhe. Pedi desculpa por o ter magoado, por ter demorado tanto tempo mas que a minha resposta a tudo o que ele me tinha dito nós últimos meses era sim. Sim, eu quero ficar com ele e sim, eu quero que ele acabe de vez o que raio tem com a outra e sim, eu acredito em nós. Quando à bocado me deixou no aeroporto, abraçámo-nos e dei-lhe a folha amachucada cheia de palavras incertas sobre uma coisa que não sei bem se quero mas que tenho a certeza que não quero perder. Entrei no aeroporto e não olhei para trás. Sabia que, se o fizesse, a minha coerência poderia perder-se.
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