Surpreendentemente, não foram leituras planeadas como gostaria de dizer. Agarrei nestes três livros ao acaso no último momento, já de malas feitas e pronta a arrancar para Amarante. Levei três porque já sabia que ia ler muito – ia estar no meio do nada numa casinha no meio de um monte onde nem internet tinha. E, mesmo assim, estava com medo de ficar sem nada para ler. Mas acabei por ficar com o último a meio e trouxe-o para acabar aqui em casa.
A única coisa boa é que, mesmo sem planear, levei três livros dominados por personagens femininas absolutamente deliciosas e enredos divertidos e misteriosos.
A Musa de Jessie Burton
Foi o primeiro que comecei a ler e o que gostei neste livro é que nem sequer é um romance. Ou seja, há episódios românticos que até têm algum relevo para o desenlace final mas não é sobre isso que gira a história. Muitos escritores têm feito, nos últimos tempos, livros que são contados em dois momentos temporais e isso funciona muito bem. Mas nesta história está absolutamente bem feito porque são dois momentos que, à partida, não têm rigorosamente nada que ver um com outro mas no fim se interligam brutalmente. Começamos com a Guerra Civil na Espanha nos anos 30, uma família inglesa que se refugia nos campos espanhóis e uma jovem pintora – Olive – que nos mostra a visão das mulheres artistas da época excluídas e colocadas em segundo plano. Depois, passamos para Londres nos anos 60, somos levados para as questões raciais da época com Odelle que vai trabalhar para uma galeria de arte, conhece a estranha diretora Quick e, num acaso, e através de um homem branco por quem se apaixona, dá de caras com um quadro dos anos 30 que estava escondido. E é aqui que estes dois espaços temporais se entrelaçam
Dou um ponto a mais por todo o background histórico que a autora criou que torna a leitura mágica e nos transporta visualmente para todos os cenários. À medida que estava a ler, estava a construir hipóteses na minha cabeça sobre quem seria quem e a interligar todas as personagens que, só no final, se abrem ao leitor. E os saltos no tempo só tornam a leitura ainda mais empolgante.
As três Miss Margarets de Louise Shaffer
Trouxe este livro antigo da Déjà Lu (livros em segunda mão) simplesmente porque achei o título espirituoso e vi que devia contar uma história divertida. E, por vezes, só me apetece mesmo ler coisas leves e que me façam rir. Este livro conta basicamente a história de três velhotas de uma cidade pequena do sul dos Estados Unidos que escondem um segredo que envolve muitas outras pessoas da cidade. Mas não é um policial nem nada que se pareça. É, na verdade, uma grande sátira contada pelas três Miss Margarets cheia de episódios de comédia e outros de drama no meio do pico da segregação racial nos EUA em que os negros vivem de um lado e os brancos de outro. Durante a leitura, vamos conhecendo todas as personagens que vivem na cidade e a forma como se envolvem umas com as outras ao longo dos anos e das várias gerações – desde que as Miss Margarets eram jovens até ao presente. E na verdade, durante todo o livro, o que realmente tem relevo é a história que está nas entrelinhas, as amizades sólidas, o companheirismo e o amor. Além do segredo, dos crimes e de toda a agitação que dá vida ao livro, o que eu gostei mesmo foi como a autora conseguiu mostrar a forma honesta e real como nós – seres humanos – nos ligamos uns aos outros.
Achei um livro bem leve de se ler em férias, divertido, com uma série de episódios cheios de sátira aos costumes – a mãe bêbada, o rico violador, a filha feia – cheio de personagens deliciosas e hilariantes.
Os Olhos Amarelos dos Crocodilos de Katherine Pancol
Este foi o último que li e que acabei por trazer para cá e estou neste momento mesmo a terminar. Optei por falar já dele porque, independentemente do final, já tenho uma opinião formada. Basicamente retrata a família de Joséphine que, na verdade, poderia ser a nossa família: a irmã rica e perfeita que casou com um homem rico e perfeito que tem um caso com um jovem rapaz (ele, não ela); a mãe snobe e que não tem onde cair morta mas que casou com um novo rico cheio de manias de, palavras dela, pobretanas que a envergonham; a filha mais velha snob que quer seguir as pisadas da tia e da avó e todos os bastidores da família e dos vizinhos nas ruas de Paris. A história começa quando o marido de Joséhine que está desempregado (e se recusa a trabalhar em algo inferior àquilo que ele julga que é) sai de casa para se juntar com uma manicure da rua que tem dinheiro de família e vai para o Quénia gerir uma quinta de crocodilos. Depois há de tudo: dramas, um filho secreto, segredos familiares que se vão revelando, amigas ricas, amigas pobres e todo um elenco de personagens totalmente humanas, cheias de falhas, fraquezas, inseguras, manipuladoras… como todos nós. Ao longo do livro vamos torcendo por Joséphine mas há segredos que viram a história do avesso. Estou absolutamente empolgada com esta leitura. Não sei se ainda está à venda porque também o trouxe da Déjà Lu em segunda mão.
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