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Foto do escritorHelena Magalhães

Os nossos ideais de beleza Reflexões da conferência sobre beleza entre Máxima & Vichy


Durante muito tempo achei que tinha olhos de rato. São redondos e esbugalhados. E eu queria uns olhos de gata alongados que é, afinal de contas, a imagem de perfeição que as revistas e a maquilhagem nos vendem. Por isso, sempre tentei fazer cat-eyes, olhos esfumados e por aí fora. Então, ao fim de 28 anos de tentativas (algumas) frustradas, começo a ser maquilhada por profissionais diferentes e todos me dizem o mesmo – os meus olhos são tão expressivos que tenho de os destacar. Não os tentam alongar, mas tentam torná-los ainda mais expressivos, o que para mim equivalia, pensei eu, a torná-los ainda mais em olhos de rato.

A beleza de hoje é uma beleza fabricada. E eu sei que já bati nesta tecla várias vezes mas com a democratização da informação, com a internet, os blogs, a imprensa, a beleza passou a ser uma preocupação diária e um alvo de imitação. Tentamos com todas as nossas forças imitar ideais de beleza que vemos nas capas das revistas, nos filmes, nas produções de moda, nos blogs. E o que nos esquecemos é que acabamos por não saber diferenciar a personagem da personalidade. Quando tentamos imitar o que vemos na moda, no cinema ou na televisão, estamos a querer ser uma personagem que não é real. E grande parte, arrisco a dizer a maioria, das mulheres ainda não se apercebeu disso.

No outro dia, assisti à primeira conferência sobre beleza em Portugal, realizada em conjunto com a revista Máxima e a Vichy. A ideia era juntar oradores nas áreas da moda, da beleza, da medicina e da cultura para se tentar perceber o ideal de beleza feminino nos dias de hoje. A actriz Fernanda Serrano, a maquilhadora Cristina Gomes, a ex-modelo Yolanda Noivo, o dermatologista Miguel Trincheiras, o realizador Vicente Alves do Ó e a historiadora Dalila Rodrigues reforçaram a ideia de que a beleza não é algo fútil, muito menos sexual, mas sim um reflexo do nosso bem-estar e saúde.

E isto é importante porquê? Porque toooodos os dias me apercebo como tantas, e tantas, e tantas mulheres vivem com o peso de não se sentirem bonitas, de quererem ser uma coisa que não são e de carregarem atrás de si uma bagagem de características pessoais que, aos seus olhos, são defeitos. Todos somos um bocadinho defeituosos, certo? Mas, enquanto não aprendermos a viver em paz com o nosso corpo, vamos continuar a ver defeitos onde deveríamos ver particularidades. Os meus olhos não são defeituosos porque são redondos. E eu não sou menos bonita por não ter uns olhos esfumados. A beleza é a reflexão de um bem-estar interior e exterior. A beleza é transversal a milhares de características. E a beleza ideal não é aquela que vemos na moda, no cinema ou na televisão.

Por isso, está na hora de pararmos de fazer mal a nós próprias e de nos continuarmos a achar feias e a dar à beleza uma conotação sexual que nos é exigida e à qual não somos obrigadas a corresponder. Não temos de ter pernas de um metro. Não temos de ser magras. Não temos de medir 1,80cm. Não temos de pesar 50kg. Não temos de ter lábios carnudos. Não temos de ter dentes brilhantes. Não temos de ter um nariz simétrico. Quando começarmos a compreender a beleza como uma resposta de bem-estar, vamos deixar de fazer tanto mal ao nosso corpo. E à nossa cabeça.




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