Achei que devia começar uma rubrica que seria algo do género: livros que não recomendo para ler nas férias porque 1) vão ler em três dias e precisar de comprar outro e 2) se o levarem para a praia vão chorar baba e ranho em público. O Rouxinol é um desses. Encontrei-o nas sugestões da Fnac e é o primeiro que leio de Kristin Hannah mas já estou em ânsias de ler outros.
É um livro histórico (não fujam já!) – não o chamaria de romance porque não é necessariamente um. Mas romantiza a história. E é, do principio ao fim, uma leitura intensa, violenta e e absorvente. Retrata o papel que as mulheres tiveram durante a Segunda Guerra Mundial ao contar a vida de duas irmãs, Vianne e Isabelle, e ao mostrar como uma mulher pode ser poderosa mesmo num contexto de fome e morte. Não sei dizer ao certo onde é que os factos reais começam e acabam mas ao longo dos anos descritos na história vamos sentindo a revolta perante a ocupação Nazi e orgulho nos actos das mulheres – uma a salvar soldados Aliados e outra crianças judias.
É fácil apaixonarmo-nos por estas personagens e torcer pelo final que – por ser histórico – já sabemos que nunca será 100% feliz – a história diz-nos que, durante a Segunda Guerra, morreram mais de 70 milhões de pessoas – um número absurdo aos nossos olhos, nascidos em tempo de paz. Ao longo da narrativa vamos acompanhando, pelos olhos destas duas irmãs, toda uma série de mulheres e dos seus diversos papéis durante a guerra com França ocupada pelos alemães, os recursos naturais a acabarem, as casas invadidas, os bens dos franceses saqueados, vilas inteiras queimadas. Conhecemos mulheres violadas por soldados nazis, manipuladas a trair os seus amigos ou obrigadas a entregar familiares em troca de comida. Mas é, ao mesmo tempo, absolutamente comovente ler e sentir como, mesmo em tempo de guerra, o amor ultrapassa qualquer dor e perda. Se acham que este é um livro em contexto de guerra que termina com um final de amor feliz, não é nada disso. Vamos é acompanhando a forma como o amor no impele a ser melhores, nos dá forças para ultrapassar tudo na vida e dá-nos simplesmente coragem para sobreviver. E isto aplica-se a todos nós e em qualquer fase da nossa vida.
O que torna este livro ainda mais intenso é a conjuntura política em que vivemos nos dias de hoje com o terrorismo e os refugiados na ordem do dia. Acaba por se tornar numa leitura reflexiva que nos consegue fazer sentir o que uma Guerra faz à humanidade graças às descrições irrepreensíveis que a autora faz do contexto histórico da Segunda Guerra Mundial. Acaba por ser, ao mesmo tempo, uma leitura cruel que nos faz experienciar todo este horror, baseada em factos reais de tantas outras milhares de mulheres que sobreviveram a um dos episódios mais tristes da nossa história.
O que retirei deste livro? A coragem, a inspiração, a bondade e amor que une as pessoas em tempos de crise e as emoções que, enquanto leitora, senti durante a narrativa. Não é um livro para ler na praia porque vão dar por vocês em choros constantes 🙂 Ou talvez, depois de cada capítulo, consigam queixar-se menos e viver mais e melhor cada dia das vossas férias.
Porque aquilo que temos hoje em dia é, sem dúvida, uma dádiva: liberdade, conhecimento e (na medida do possível) paz.
O Rouxinol de Kristin Hannah, publicado por Bertrand Editora (está neste momento em desconto na Fnac). PS: está a ser feita uma adaptação para o cinema. Vou estar obrigatoriamente na estreia.
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