Ontem demos uma palestra ‘Vive a Tua Beleza’ na Universidade de Letras e perguntámos às mulheres na audiência o que sentiam relativamente ao seu corpo e à pressão da sociedade. E a verdade é que uma das palavras mais usada foi: objectificada. O nosso corpo é objectificado pelos homens e, principalmente, pelas outras mulheres.
E esta pressão é alimentada por tudo o que nos rodeia. À noite fui jantar com um grupo de cinco homens e, a dada altura, a conversa recaiu no perfil de mulher – para eles – bonita. Um deles, pegou no telemóvel, abriu o Instagram e mostrou-me uma fotografia de uma rapariga cujo feed era dezenas e dezenas e dezenas de fotografias dela de todos os ângulos possíveis – todas elas focando o peito e o rabo. Chegámos a um ponto em que nós, mulheres, que deveríamos ser sensuais apenas para a pessoa com quem estamos, somos sensuais para todas as nossas redes sociais. Usamos o nosso corpo para alimentar likes e nós próprias criamos mais pressão em nós e nas mulheres que nos rodeiam.
Eu estava ali, sentada à mesa com cinco homens, a falarem de mulheres cujo perfil não tinha rigorosamente nada a ver comigo. Nenhum deles sequer parou para pensar que isso me poderia deixar desconfortável – que não deixou, mas poderia. Falavam de mulheres loiras, de pele morena, peito XXL e perfil de surfista à minha frente – pálida, magra e cujos melhores atributos acho que estão dentro da cabeça e não numa fotografia com filtros.
Esta pressão está em todo o lado. Vislumbramo-nos ao espelho a medo e continuamos a não ser aquilo que vemos no Instagram, nas revistas, na televisão e nas palavras dos homens que nos rodeiam. Eu respondi-lhes que quanto mais uma mulher mostra, menos sensual ela é. Porque depois de despidas todas as camadas, o que é que vai la estar? Eles já viram tudo – em fotografias.
Se eu gostava de ter mais curvas? Gostava. Se gostava de ser morena? Gostava. Se gostava de ter um rabo maior? Gostava. Uns lábios maiores? Gostava. Mas não tenho. E agora? Vou massacrar-me com isso? Claro que não.
Uma rapariga, na palestra, disse que se olhava ao espelho e via que não era uma Deusa do Olimpo. Pois não, não é. Mas aquelas que vemos no Instagram, cheias de filtros, poses e ângulos altamente estudados para uma fotografia, também não o são. Elas representam um ideal que, no final do dia, não existe. Porque debaixo de tudo aquilo tem de haver muito mais. Um corpo pode atrair, mas não é um corpo que vai fazer outra pessoa apaixonar-se por nós.
Não podem deixar que todas estas pressões que vêm de todo o lado vos afectem ao ponto de não conseguirem amar o vosso corpo. Porque debaixo de todas as camadas, existe uma mulher fascinante que pode não ser morena, loira, ter olhos verdes, lábios grandes e um corpo cheio de filtros do Instagram, mas que, mesmo assim, é singular, deslumbrante e perfeita.
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