Há poucos livros que nos conseguem fazer sentir as emoções das personagens ao ponto de nos sentirmos angustiados pelas suas vivências. E o Quarto de Jack é uma história perturbante que me deixou durante várias dias a pensar no livro e na forma como vemos o mundo que nos rodeia.
Só agora esta semana vi o filme que deu o Óscar a Brie Larson pelo papel de Joy, a mãe de Jack. E é um dos poucos filmes cuja adaptação do livro não destruiu o original. Durante todo o tempo em que estive a ver o filme, senti-me tão perturbada quanto me senti a ler. É intenso, dramático, faz-nos ficar de coração apertado à medida que vamos seguindo o dia-a-dia de Jack e Joy, confinados num quarto de 37m2.
Quem viu o filme e gostou, aconselho brutalmente a ler o livro para ter uma perspectiva muito melhor sobre a história em si. Quando comecei a ler, há uns dois ou três anos atrás, senti que não ia gostar. A história é contada na perspectiva de Jack e as primeiras páginas cansaram-me. Mas à medida que os diálogos entre mãe e filho começam, a leitura torna-se envolvente e é absolutamente impossível parar de ler. Lembro-me que o li em dois ou três dias, simplesmente porque estava presa à história e à forma como os temas rapto e violação nos são passados pela perspectiva de uma criança.
Dei comigo vááááárias vezes a sorrir e a rir à gargalhada enquanto lia, bem como de lágrimas num pranto durante a descrição da fuga. É uma escrita impressionantemente envolvente.
Não se assemelha em nada com a história real de Elizabeth, sequestrada durante 24 anos pelo seu pai, Josef Fritzl. O Quarto não explora o lado da vítima nem do sequestrador mas sim o vínculo entre Jack e Joy que acaba por ser o ingrediente mágico. Este livro funciona tão bem porque nos mostra o mundo que uma mãe constrói para o seu filho perante as condições em que vivem – neste caso, em cativeiro num quarto que, para Jack, é o mundo. E nesse mundo existe uma pia, um roupeiro, um candeeiro, uma cama, uma mesa, únicos e insubstituíveis porque são os únicos que Jack conhece. O que vê na televisão são pessoas de outros planetas – ensinou-lhe a mãe – e lá fora, no mundo, não existe mais nada. Só eles e o quarto.
Há muitas coisas que, no filme, foram cortadas para tornar a história mais fluída e que, quando começarem a ler, vão conseguir encaixar.
Este é, sem dúvida, daqueles livros que nunca nunca nunca me vai sair da cabeça. Vai tornar-se um livro intemporal, um presente ideal para qualquer pessoa, de qualquer idade.
O Quarto de Jack de Emma Donoghue, publicado por Porto Editora.
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