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Foto do escritorHelena Magalhães

O meu primeiro namorado e aquilo que não temos


Uma das coisas que muitas vezes me passa pela cabeça – principalmente em momentos de pico dramático quando mais uma amiga me diz que está grávida – é se estou fadada a querer somente aquilo que não posso ter. Aquilo que é complicado. Aquilo que dá tesão mas, no final do dia, não traz conforto nem estabilidade. Só dores de cabeça. E acredito que isto seja um sentimento que muita gente experiencie ao longo da vida – aquele desejo inalcançável de querer sempre algo que nos desafia. Há algo meio frustrante meio sedutor num homem que não devemos (ou não podemos) ter. Ou porque é casado, ou porque trabalha connosco, ou porque não quer saber de nós para nada ou porque é um cabrão e, benzadeus, ter essa noção já é meio caminho andado para evitar histórias deprimentes.

Mas nós queremos as borboletas, queremos a excitação, queremos a taquicardia, os apertos no estômago. Queremos viver toda a emoção que estar com alguém que não podemos nos dá. Todos os momentos se transformam em romances literários e o desejo nunca é totalmente satisfeito porque estamos sempre a ansiar por mais.


O meu primeiro namorado

Quando eu tinha 16 anos apaixonei-me perdidamente pelo João Nuno da minha escola. Era um tipo novo que tinha chegado à escola, tinha olhos azuis, cabelos espetados e logo no primeiro dia de aulas olhei para ele e senti as pernas a tremer. Era daqueles rapazes de romance de sábado à tarde que punha todas as miúdas a olhar para ele. A coisa não se proporcionou logo ali e durante algum tempo nem sequer me passou pela cabeça que se proporcionasse. É de referir que eu tinha sido uma miúda esquisita de aparelho nos dentes e totós estranhos nos cabelo e aquele foi o ano em que de repente me tornei minimamente normal: o cabelo cresceu-me no verão, tirei o aparelho e entrei no décimo primeiro ano a sentir-me absolutamente genial.

A verdade é que houve uma química febril entre mim e o João Nuno, o que era um sentimento novo e difícil de assimilar porque eu podia já não ser a miúda de aparelho e totós por fora mas ela continuava a viver dentro de mim. Passávamos a vida a olhar um para o outro, eu ansiava pelos intervalos para o ver naquele desejo infantil de me cruzar com ele, os amigos que tínhamos em comum tentavam criar ali um ambiente e, meio retraídos, meio retardados porque tínhamos 16 anos e não sabíamos o que fazer, começámos a falar. O João Nuno ligava-me todas as noites para casa. Não faço ideia sobre o que falávamos mas tínhamos sempre tema de conversa nocturna. Deitava-me na cama com o fio do telefone esticado pelo quarto e ali ficava com o coração a palpitar em conversas intermináveis que se prolongavam pelos intervalos na escola. E numa tarde farrusca de Outubro, atrás do refeitório, o João Nuno beijou-me e perguntou-me se queria namorar com ele.

Faíscas. Estrelas. Borboletas. Relâmpagos.

Juntos, ouvíamos Guns & Roses e Aerosmith no leitor de CD’s dele sentados no muro do campo da escola, víamos o por do sol na praia de Carcavelos e andávamos de bicicleta no parque. Beijávamo-nos deitados na relva na Quinta da Alagoa, íamos ao cinema à sexta-feira à tarde e usávamos nicknames estúpidos no mIRC. Almoçávamos na cantina com os amigos dele, íamos ao Tamariz com as minhas amigas e fazíamos tudo aquilo que os miúdos de 16 anos faziam naquela altura – tudo menos sexo. Óbvio. Porque nunca lá chegámos.

A ternura dele era imensa, transbordava-me e fazia-me sentir de uma forma como nunca antes me tinha sentido. Toda eu configurava para ele a fonte da sua alegria. O meu cabelo, a minha cara, os meus olhos, o meu sorriso (sem aparelho, veja-se lá) eram para ele os mais bonitos. E eu deixava-me querer neste sentimento meio tolo e infantil que se tem com esta idade.

Um dia estava na casa de banho da escola com a minha amiga Joana e ela perguntou-me: já não gostas do João Nuno, pois não? E eu percebi que não. Tudo nele me irritava, a forma como esperava por mim à porta da escola todas as manhãs, como me trazia pastilhas gorila da papelaria, como me sufocava com o seu querer demasiado exagerado.

Disse-lhe isso, prometemos ficar amigos e fui à minha vida. Tão simples quanto isso. Até que passado umas semanas percebi que uma miúda mais velha da escola que costumava ver a olhar para nós andava de volta dele. Ali a meio de Janeiro, eles começaram a namorar. E eu fui possuída por um qualquer sentimento de ciúme inexplicável, um amor que me voltou a assolar mais forte e violento do que tinha sentido antes e passei o resto do ano a arrastar-me atrás dele. Tornei-me amiga de todos os amigos dele, passei a fazer parte do grupo e andava literalmente colada a ele todo o santo dia.

Mas ele nunca mais me quis. No final do ano mudou de escola e, o drama!, nunca mais o vi.

Na vida real não vivemos num romance de Nicholas Sparks e ninguém vai mudar milagrosamente por nós

Claro que há muita psicologia por trás disto. Era realmente amor ou apenas ciúme misturado com ego por não o querer mas não aguentar a ideia de ele querer alguém? Mas depois de tantas histórias que partilharam comigo nos últimos meses, a verdade é que acabo por entender este um mal geral. Temos milhares de opções de tipos por onde escolher. Mas vamos gostar dos cabrões. Dos que só nos querem levar para a cama. Dos que não nos respondem a uma mensagem durante horas. Dos mentirosos. Dos trapaceiros. Dos que têm a mania que sabem tudo. Dos que têm mais bagagem que nós atrelada a eles. Dos que têm fobia de compromisso. E a lista continua. Aqueles que literalmente subiriam uma montanha por nós… pfff! São chatos. São aborrecidos. São demasiado queridos. São tudo aquilo que na verdade queremos mas vindo da pessoa errada.

No outro dia uma amiga dizia-me que só gosta de tipos que precisam de ser cuidados. Se têm alguma problema, ela fica irremediavelmente apaixonada. É aquela ânsia de fixar o que está ali de errado. De curar. Mas temo em dizer que ninguém quer/precisa de ser curado porque ninguém vive num romance de Nicholas Sparks. Na verdade, queremos pessoas que nos façam sentir bem. E andamos todos à procura do mesmo.

Então, porque continuamos a insistir nas pessoas que não nos vão dar aquilo que queremos? Porque tentamos mudar alguém para se ajustar aos nossos gostos ao invés de aceitar outrém que é exactamente aquilo que gostamos e que gosta reciprocamente de nós?

Claro que não tenho as respostas para estas perguntas. Nós – o ser humano – não conseguimos entender completamente as coisas que queremos ou precisamos nem quando as temos à nossa disposição. É realmente uma ironia estúpida.

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