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Foto do escritorHelena Magalhães

O funeral de uma (quase) história de amor


Ele veio para Lisboa. Mal-me-quer, bem-me-quer, muito, pouco, ou nada? Tentei ligar-lhe, tinha o telemóvel desligado. Pensei que talvez estivesse com a outra. Se ele veio a Lisboa, talvez tenha vindo resolver as coisas com ela. Fui jantar com elas. Discuti detalhadamente as conversas que tivemos, a carta que lhe escrevi e o nosso fim de semana. Analisei mentalmente tudo ao pormenor e tinha a certeza que estava no caminho certo. Dado que não dava sinal de vida, lá fui para o Lux com elas. A minha ideia sempre foi dar-lhe todo o tempo que necessitasse e jamais forçar o que quer que fosse, principalmente, porque acreditava nele. Caramba, porque não haveria se acreditar no tipo que me gritou aos ouvidos que gostava de mim e me implorou para não o deixar? Estava a falar com elas quando o vi. Comecei a empurrar toda a gente à minha frente e a tentar não me espetar no meio do chão com os estúpidos saltos altos que decidi calçar. Um dos amigos dele vê-me, agarra-me ao colo e tive meio segundo para pensar. Num rasgo de bom senso lembrei-me que se imagino algo entre mim e ele a funcionar, não posso estar em guerras com nenhum dos idiotas com quem ele se dá. Não entendi rigorosamente nada do que ele me dizia ao ouvido porque olhei para a direita e vi-o. Comecei a afastar o outro e, mal consegui chegar ao pé dele, abracei-o.

“Tão querida, abraçada a ele”, disse-me. Helloooo? Só o fiz por ele. Os homens conseguem ser tão burros que é assustador.

“Então não dizes nada?”, perguntei-lhe.

“Não digo nada? Eu disse-te que vinha a Lisboa”, respondeu-me. Fiquei a olhar para ele. Não sabia muito bem o que dizer. E esta situação não estava a fazer qualquer sentido na minha cabeça.

“Sim… Disseste que vinhas. Mas estas cá, agora, neste momento, e não disseste nada”, disse-lhe. Apetecia-me abana-lo. O que raio se estava a passar? Ele estava a olhar para todos os lados. “Sim?”, perguntei-lhe.

E algures por detrás da multidão, uma delas apareceu, agarrou-se ao meu pescoço e disse-me que estava ali a outra. Virei-me e ali estava ela, no bar, à procura dele. Olhei de novo para ele. 

“Desculpa”, foi só o que me disse. Virei costas, furei toda a gente e desci as escadas a correr. 

Eu não gosto do Lux. Era provavelmente o ultimo sítio onde ele poderia pensar ver-me. Onde é que eu errei? Que sinais é que eu não vi? Que mensagens é que não soube interpretar? Ele não veio a Lisboa resolver nada com ela. Deviam ser umas seis da manha quando me mandou uma mensagem. Não dizia nada. Só um coração.

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