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Foto do escritorHelena Magalhães

O dançarino


Imaginem que estamos em Julho do ano passado. Estava um calor sufocante, eu estava a escrever o Diz-lhe Que Não, andava maluca com tudo, não fui de férias e fiquei mesmo por Lisboa em retiro literário. No meio deste verão solitário, conheci o Dançarino e só não escrevi esta história mais cedo porque havia alguns constrangimentos que só irão perceber no fim. Txan, txan – já estou aqui a apimentar a coisa para lerem tudo.

Então, agora que já entraram no espírito – não estamos em Abril mas em Julho de 2016 – vamos começar. Vão buscar pipocas.

Conheci-o numa festa de uma amiga num restaurante em Lisboa e não lhe achei grande piada mas como não tinha mesmo mais nada para fazer e não conhecia praticamente ninguém, fiquei ali na conversa. E pensei que tivesse sido mesmo só isto mas no dia seguinte, não me lembro bem como, ele já tinha o meu número de telefone. Depois de tantas mensagens a convidar para jantar, para lanchar, para ir à discoteca (alguém ainda convida para uma ida à discoteca?) para isto, para aquilo, lá aceitei ir ao cinema – pelo simples motivo que (a ver um filme) não iríamos ter que passar muito tempo a conversar. Tipo o Telecomunicações – para quem já leu o Diz-lhe Que Não.

E eu achei que um cinema não tinha nada que pudesse correr mal mas foi sempre a descambar.

Logo para começar, fomos ao cinema do Almada Fórum. Querem saber porquê? Porque era o único sítio que tinha o filme do Chris Brown – o seu ídolo e que ele achou por bem informar-me no “primeiro encontro”. Quando eu saio com um tipo também o levo ao cinema a ver o filme da Cher. Só porque sim. E levar uma mulher a ver um filme do tipo que quase matou de porrada a namorada é inspirador. Ou, se calhar, até é bastante promissor.

Lá fomos… para o Almada Fórum. E ele levou o dinheiro contado para o bilhete dele. Fez questão de colocar o dinheiro no balcão (e esvaziar a carteira para contar as moedas). Não é que eu tivesse à espera que me pagasse… bem, sim estava. Porque foi ele que me convidou e, ainda por cima, para ver um filme que eu não queria ver jamais em tempo algum. Disse-lhe que tinha um cartão Millennium que dava dois bilhetes pelo preço de um. Ahhh, até te ofereço o bilhete ehehehe, disse excitadíssimo. Right. Pagou e lá entrámos literalmente a correr porque ele não queria perder o início do filme. Tivemos mesmo de correr. Eu parecia uma atrasada mental atrás dele.

Só que chegámos ainda a tempo dos anúncios. Disse-lhe que ia buscar uma garrafa de água e perguntei se ele queria alguma coisa. Só por educação.

– Ah ok, então traz umas pipocas – disse, ele.

Fiquei à espera que me desse o dinheiro. Não deu.

Voltei com as pipocas e, entretanto, o filme começou. Enquanto arrumava a minha mala no banco do lado, ele sacou o balde de pipocas do meu colo, colocou no dele e começou a comer.

Comeu.

Comeu.

Comeu.

E, a dada altura, começou a cuspir o milho das pipocas para o corredor (ele estava no último banco da fila).

Eu tive de me rir porque estava a achar tudo isto absolutamente hilariante. E uma pessoa tem de rir para não chorar. Algures a meio do filme, fartou-se de comer pipocas, disse-me ‘não quero mais‘ e colocou o balde no meu colo. Como se eu fosse a mamã.

Gostastesssss? Como o Telmo perguntou à Célia. Gostei.

O filme foi ridículo. O Chris Brown é ridículo. A noite foi totalmente ridícula.

Voltámos para Lisboa. E quando eu pensei que a noite estava finalmente a terminar, ele parou ali em Belém ao pé do rio (o meu carro estava ao pé do, agora, MAAT) e parou o carro. Eu estava com medo que ele achasse que nos íamos comer ou algo do género. Mas a conversa foi mais ou menos assim.

– Estás triste? – Não. Só estou mesmo cansada. – Mas vamos conversar um bocadinho. – Ok. Mas eu queria mesmo ir dormir. – O que é que posso fazer para ficares menos triste? – Não estou triste. Só quero dormir.

Colocou-me a mão no ombro, com cara séria, e olhou-me profundamente. Ai. Juro que tremi. Pensei que me ia beijar à força. Ou que me ia fazer uma consulta de psicologia para me tirar a tristeza de cima.

– Queres que dance para te animar?

Não tive tempo para responder. Despiu a camisola, ficou em t-shirt de mangas cavas (oh. meu. Deus), ligou a música aos gritos, saiu do carro e começou a dançar feito maluquinho. Ali mesmo. Ao lado do carro. Comigo lá dentro sem saber se olhar para ele ou virar a cara com vergonha alheia.

Dançou durante uns 2 minutos. Deu tudo ali. Até que a musica acabou e ele, meio suado, entrou no carro. Agora já entendo o fascínio com o Chris Brown. – Gostaste?

E ele estava tão, mas tão, feliz, que tive que responder que sim. Como a Célia respondeu ao Telmo no Big Brother depois do grande momento de sexo em directo debaixo dos lençóis da casa d’El Gran Hermano. Gostastessss? Sim!! Só que, na verdade, eu queria dizer que não.

Ele lá me deixou no meu carro. E depois de muitos convites que eu rejeitei nos dias seguintes – não compreendo como é que não viu o desastre que a noite foi – ele acabou por deixar de falar comigo. E porque o seguia no Instagram, comecei a prestar mais atenção ao Dançarino – habitué frequente do Main e do Swag On e do Place. Fotografias em t-shirts com mangas cavas. Selfies no ginásio. Selfies no carro. Beicinhos para a foto. Tudo o que de errado um homem faz – para mim.

Ou, pelo menos, tudo o que de errado o homem comum faz. Só que ele é extraordinariamente não comum. Ou está no topo da lista das histórias bizarras d’O Amor é Outra Coisa.

No dia 11 de Setembro à noite estava em frente à televisão com umas amigas a ver o início da sexta edição da Casa dos Segredos.

E morri ali. O Dançarino era um concorrente. JURO! Este foi o assunto mais gozado por nós todas durante umas boas semanas ou todos os domingos à noite sempre que víamos as galas. Só para gozar com o Dançarino.

Pedir pipocas e não pagar? Cuspir o milho? Tirar-me o balde do colo? Dançar em frente ao carro? Passou tanto tempo a inscrever-se no programa que perdeu alguns neurónios pelo caminho.

Nota: O Dançarino não saiu comigo mas sim com uma amiga com quem eu estava a ver o início da Casa dos Segredos e que, só agora, me deu autorização para contar esta história divertida. Apenas me tornei a narradora para ter mais piada. Toda e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. Ou não 😉 

Fotografia tirada por Faz de Conta Fotografia

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