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Foto do escritorHelena Magalhães

O amor é outra coisa #9 O que aprendi com uma mão cheia de relações falhadas


Durante os últimos 10 anos, estive sempre com alguém. Tive casos e paixões e longas relações. Estive com um homem que me traiu com a ex-namorada e estive com um homem que traiu a namorada comigo. Estive com homens com os quais sabia que jamais iria ter uma relação séria mas que, na altura, me faziam bem. Mas também estive com homens que não quiseram ter uma relação séria comigo e, óbvio, não me fizeram bem. E, quando parei para olhar para os últimos 10 anos da minha vida, percebi que nunca estive sozinha. Literalmente sozinha.

Não sei precisar quando me deu o click ou se alguém o despoletou, mas depois de uma longa relação confusa e doentia com um tipo que me bloqueou, apagou de todas as suas redes sociais e removeu a minha, e a nossa, existência da sua vida, percebi que estava farta. Não estava farta de homens. Estava farta de relações com homens que não valiam a pena. E decidi que queria ficar sozinha.

O que é que me aconteceu durante esses 10 anos? O que é que eu ganhei e aprendi com essas relações? Mudaram a minha vida? Valeram a pena? – Se algumas destas questões alguma vez vos passaram pela cabeça, não comecem a hiperventilar, acontece a todas. Já entrei em pânico algumas vezes. Já me questionei se não teria desperdiçado o homem da minha vida. E, pior, já tentei reconciliar-me com homens do passado – tentando acreditar que tinha sido precipitada. E, não, não tinha sido precipitada. Não tinha funcionado no passado e, voilá, não havia razões para funcionar no presente.

Ninguém entra na nossa vida por acaso – é cliché, eu sei, mas acredito e vivo sob este mantra. Todas as relações falhadas dos últimos 10 anos ensinaram-me a ser a mulher que sou hoje. Se não tivesse passado por elas, eventualmente não teria capacidade para, hoje, olhar para trás e apreciar o que cada uma me deu. Aprendi a valorizar-me, a relativizar os dramas, a não aceitar migalhas de atenção de ninguém, a respeitar o espaço da outra pessoa, a não exigir que alguém seja da forma como quero, a comunicar melhor e, acima de tudo, aprendi a perceber aquilo que quero e não quero. E a apreciar a minha própria companhia.

Querer estar sozinha não significa que estou traumatizada. Muito pelo contrário – o meu coração já foi partido, espezinhado e quebrado mas eu sei que vai amar outra vez. Com sorte, a próxima pessoa vai tratá-lo com amor e respeito. Estarmos abertas ao amor não significa apenas focarmo-nos em atrairmos uma nova relação. Significa estarmos abertas à vida.

Durante os últimos 10 anos, perdi amores, amizades e a minha saúde. Algures no passado, cheguei a acreditar que tinha perdido tudo (e-nada-mais-fazia-sentido-oh-meu-deus-o-drama!) e passei horas em prantos intermináveis na minha cama, com a cabeça debaixo da almofada. Neste ano que decidi ficar sozinha, e que não tinha a minha cabeça focada em relações e em tentar, com todas as forças, encontrá-las ou mantê-las, percebi que comecei a fazer todas as coisas que, no passado, não tinha feito – mudar de emprego, viajar, começar a escrever um livro, sair mais, abrir-me aos outros e a ser basicamente a pessoa que quero ser. Nunca me senti tão livre como me sinto agora em que faço exactamente aquilo que quero sem a necessidade constante de tentar agradar alguém.

O conselho que tenho para vocês hoje é a não esperarem até terem perdido tudo para perceberem realmente aquilo que vos faz falta. Com ou sem relações, estarem abertas ao amor é estarem abertas à vida e a tudo aquilo que ela vos pode proporcionar. Não ponham os vossos sonhos em segundo plano. Não dediquem a vossa vida a ninguém que não vocês próprias. Não amem ninguém mais do que vocês. E, para reforçar o que estou sempre a dizer, não esperem por algo de fora (aka um homem) para vos fazer feliz.

Porque já o são.

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