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Foto do escritorHelena Magalhães

O AMOR É OUTRA COISA #53 As relações virtuais e a exposição excessiva


Estas são as novas relações dos tempos modernos – as relações virtuais. Já não são as relações via tecnologias. São mesmo as relações vividas para um público. Expomos tanto, tanto, tanto da nossa vida pessoal que, mesmo sem nos apercebermos, tornamos a nossa vida uma narrativa que deixa de ser privada. Vivemos todos num rol de telenovelas públicas à espera da aprovação de terceiros para termos a certeza que somos validados. Porque Deus nos livre de não termos validação traduzida em likes.


E isto faz algum sentido? Porra, claro que não. Para vos falar da minha ideia de relações virtuais, deixem-me falar-vos deste obsessão com a fama virtual.

A fama virtual que acaba com a vida privada

Hoje em dia, as pessoas não aspiram a uma carreira. As pessoas aspiram a fama, ponto. Aspiram a esta vida de sonho que vemos nas redes sociais – viagens, festas internacionais, luxo, roupas, bens, dinheiro e um estilo de vida de celebridade, antigamente vedado ao comum mortal. Só que ao contrário das celebridades – pessoas que têm profissões que as tornam públicas: actores, músicos, atletas… – que, fora da sua profissão, têm uma vida completamente normal, agora aspiramos a tudo o que eles têm – mas sem a vida normal.

Não sei se me estou a fazer entender – todas estas bloggers que seguimos têm um dia-a-dia focado essencialmente em entreter um público. Não estão a trabalhar e, depois, vão para casa. Não são fotografadas na rua por paparazzis (elas próprias são paparazzis) enquanto vão às compras ou passeiam com os filhos. Todo o seu dia começa e acaba com a necessidade absurda de entreter. E, para isso, têm de estar em todo o lado, ir a todo o lado e aparecer em todo o lado.

E o que é que falha no meio disto tudo? A vida pessoal. É que deixa de existir… Fim.

Os casos Camila Coutinho e Chiara Ferragni

A blogger brasileira Camila Coutinho partilhou esta semana que ela e o marido – casados há 12 anos – vão dar um tempo na relação, que agradecem a compreensão dos seguidores, blá, blá, blá. Lembram-se da última vez que tiveram o vosso coração partido? Bem, eu chorei um dilúvio, fechei-me em casa, vi filmes, falei com as minhas amigas e fiz o luto da relação. Sozinha. Não consigo imaginar o que seria ter de terminar a relação, não com uma pessoa, mas com não sei quantos mil seguidores. Se um coração partido dói como se nos tivessem a espetar agulhas em todo o corpo e só o vivemos connosco próprias, que merda de vida é esta em que temos de continuar a entreter? 

Enquanto ela deveria estar a sofrer – é o fim de uma vida a dois, é o coração em sangue, é uma merda mesmo – as suas redes sociais mostravam-na em Paris, em festas, em desfiles e feliz da vida. Porque ela não podia parar. O público é mais importante. Entreter os outros é mais importante. Em que momento é que viver para uma rede social é mais importante do que viver simplesmente?

Lembram-se de Chiara Ferragni? Quando se separou do fotografo começou, de repente, a colocar uma enchente de fotografias com mensagens subliminares: todas as frases que deixava, as t-shirts a dizer “fuck you” e as poses sexuais com os mamilos de fora eram um grito de “olha para mim, estou bem sem ti”. E será que estava? Mas ela expôs tanto a relação que, quando se separou, não foi só ela que o fez. Também o seu público se separou daquela relação. 

A praga das relações modernas: queremos partilhar tudo

Este é – para mim – a grande praga das relações modernas. Queremos partilhar tudo, tudo, tudo. Vejo amigas a partilharem fotos das suas pernas na cama com os novos namorados. Vejo pessoas no meu Facebook e Instagram a partilhar tudo o que fazem. Os jantares a dois, selfies aqui e ali, fotinhas ao espelho da casa de banho e dos pequenos-almoços ao domingo de manhã. Tudo isto é bonito – estarmos apaixonados faz-nos querer gritar ao mundo o que estamos a sentir. Mas se pararmos para pensar um pouco na quantidade de informação pessoal que estamos a dar a um público que, em última análise, só nos segue para coscuvilhar a nossa vida, isto deixa de parecer tão bonito assim.

Mesmo a uma escala muito mais pequena – todos nós, meros mortais – fazemos uma exposição gratuita e constante da nossa vida pessoal. Bem, eu não. Mesmo quem me segue no meu Facebook pessoal, pouco partilho da minha vida. Somente uso as redes sociais para partilhar trabalho. E chega.

A mensagem que gostava de deixar é para viverem mais as vossas relações apenas para vocês próprios: a dois, como deveria ser. Sem a necessidade constante de partilharem tudo o que fazem com as redes sociais. Sem abrirem a porta de vossa casa a qualquer pessoa que vos siga. Sem exporem demasiado o vosso coração.

Porque ao contrário do que pensamos, não sabemos quando as reviravoltas se vão dar. E se fazer o luto de uma relação sozinha já dói, fazê-lo para um público – como se estivessem num palco de um teatro – é miserável.

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