No rescaldo do fim do ano, acho que todos temos tendência para nos sentarmos e analisarmos a nossa vida ou, em última análise, o ano que passou. E, num ano de tantas mudanças, nunca me senti tão sozinha e, ao mesmo tempo, tão rodeada de pessoas. Num mundo com mais de sete biliões de pessoas, onde 3,5 biliões são homens, onde a ONU diz que existem mais 57 milhões de homens do que mulheres, Portugal ainda tem mais mulheres do que homens e, está claro, alguém tem de ficar solteiro.
Pausa dramática.
Sabem aquele ditado O amor é cego? Ele é verdade, a bom porto nos leva a viver uma vida maravilhosa com pessoas que, aos olhos dos outros, não têm rigorosamente nada de especial. Essa é a magia do amor: encontrarmos em alguém qualidades que só nós mesmos vemos. Mas o amor também é cego porque nos faz imaginar que uma pessoa em 7 biliões é a única que nos vai fazer feliz.
Eu queria, juro que queria, ser como toda a gente que me rodeia. Eu gostava de conhecer o amor à primeira vista, gostava de curar ressacas emocionais com noites em discotecas, gostava de me rir, sacudir os cabelos para trás dos ombros e seguir em frente, gostava de acordar, de manhã, na cama de um tipo qualquer e sentir-me uma personagem cliché do Sexo e a Cidade… Mas enquanto, este ano, muitas das minhas amigas saltaram de relação em relação, eu passei horas, semanas, meses a ouvir Joni Mitchell, Amy Winehouse, Jessie Ware e Corinne Bailey Rae em loop. Enquanto elas me contavam os seus dramas e as suas histórias com tipos cujos nomes eu já esqueci, eu continuei aqui num coma emocional a pensar em alguém com quem, na verdade, nem sequer quero estar nem mora neste país.
O amor é uma coisa lixada. Faz-nos gostar de pessoas que nos trataram mal e viver em função de um sentimento que repudiamos. E embora me tenha obrigado, de quando em vez, a sair com este ou aquele tipo, acabei sempre deitada na cama (e sozinha, claro) a pensar na minha vida. Este foi um ano de perguntas sem respostas. Questionei-me taaaantas (demasiadas, na verdade) vezes como será a vida dele com ela. Será que ela o beija como eu? Será que ela o faz sentir como eu fazia? Será que ela lhe faz tremer o chão? Será que ele sente o mundo dele arrebatado com ela como (dizia que) sentia comigo? E embora toda a gente à minha volta me questione ‘o que é que vias nele?‘ ou ‘estás há quanto tempo sozinha?‘, mais ninguém entende o status emocional do meu corpo.
Eu não queria sentir tudo de forma tão intensa. Na verdade, invejo todas as pessoas que se apegam e desapegam, que se desprendem e deixam de sentir tudo e nada ao mesmo tempo. Porque estes foram 365 dias a amar alguém à distância. 365 dias a imaginar tudo o que poderia viver com alguém que me fez apaixonar por ele para, depois, fugir. 365 dias agarrada a um amor que quero deixar de sentir. 365 dias a pensar em alguém que tem uma vida com outra pessoa. E este é o pior amor que se pode ter.
2015 surge, assim, para mim como um ano para tentar. Simplesmente para tentar sentir mais por outras pessoas e para me despedir deste amor. E porque, segundo os dados do INE dos últimos Censos, existem 600 mil solteiros e 80 mil divorciados em Lisboa, não preciso de nenhum Sheldon Cooper para ter a certeza que as probabilidades são mais que favoráveis.
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