Terminar uma relação pode ser o fim do mundo. Ou, pelo menos, o fim do nosso mundo e da forma como o conhecemos. É como uma experiência de quase-morte em que nos sentimos à beira do penhasco e, quando estamos prestes a saltar, vemos a luz lá no fuuuuundo do túnel (eu sei que penhascos e túneis não fazem sentido, mas perceberam a analogia). Eu sempre chamei estas fases como a fase do luto.
Choramos, gritamos, temos raiva, entramos em negação, achamos que a relação se pode voltar a resolver e tentamos que a outra pessoa também o perceba – e às vezes tornamo-nos psicopatas: olá mensagens com testamentos que depois nos vamos arrepender. Algures pelo meio, então, acabamos por aceitar. Nessa altura, vemos muitos filmes sozinhas na cama, ouvimos muito jazz, blues, lemos imensos livros e fazemos maratonas de séries. Simplesmente porque precisamos de voltar a colar os cacos da nossa vida. E isso tem de ser feito interiormente até chegar o dia em que, acordamos, e a primeira coisa em que pensamos não é a outra pessoa. De repente, o sol já brilha, já nos apetece dançar, comer, sair. Conseguimos respirar fundo e perceber que chegámos finalmeeeeente ao fim do túnel. E, sim, lá está a luz.
O luto terminou.
Como cada pessoa vive esta fase de sobrevivência emocional já é muito particular. Há quem faça todo o roteiro filmes-jazz-livros-séries, como eu. Há quem vá para os copos e acorde, cada manhã, em camas diferentes. Há quem faça uma viagem sozinho. Há quem entre numa nova actividade. Há quem arranje um trabalho extra para estar ocupado. Há quem escreva um livro. Há quem apague todos os seus registos das redes sociais… a lista é infinita. E este luto pode demorar, sei lá, uma semana, um mês, um ano, uma vida… vai depender do tempo que cada pessoa demora a sarar as suas feridas interiores.
E é aqui que quero chegar: sarar as feridas interiores. E isto tem de ser feito sozinha. Temo em dizer que muitas mulheres vivem toda uma vida a serem magoadas porque são emocionalmente dependentes de outra pessoa. E melhor que fazer um luto e esperar pela tal luz é enterrar tudo o que nos magoa e ocupar esse buraco rapidamente. Porque esta espera é a pior parte. É o que dói mais. Mas não se pode passar de uma experiência de quase-morte para uma nova pessoa em três tempos. Perdoem-me quem o faz mas não consigo ver futuro em relações que nascem de cacos e de fragilidades. Sermos vulneráveis leva a relações vulneráveis. Porque ao invés de atrairmos alguém pelas nossas forças, atraímos pelas nossas fraquezas.
Os meus lutos sempre foram demorados. Há quem me ache parva – porque fico a chafurdar na depressão – mas eu sempre preferi lidar com as minhas dores sozinha. Perceber com os meus erros. Compreender as minhas falhas. E entrar em novas relações de alma vazia. Com as malas desfeitas e a roupa arrumada no roupeiro, por assim dizer. Não gosto de carregar bagagens – embora tenhamos malas e malinhas que nos seguem para todo o lado.
Terminar uma relação pode ser, e é, o fim do (nosso) mundo. Mas são momentos de reflexão sobre quem somos e não deveriam ser usados a colar buracos com outras pessoas e relações. Há 3 coisas importantes nesta fase:
Dar tempo ao tempo e ter paciência: O luto é um processo em que aprendem a estar convosco próprias, compreendem o que falhou naquela relação e, normalmente, é quando se vão apercebendo do que gostam, o que querem e o que não vão repetir. Este processo pode ser bastante leeeento. Às vezes, basta voltarmos a ver a outra pessoa para revivermos tudo novamente. Mas é por isso que têm de ter paciência – o coração e a cabeça têm de voltar a estar em sintonia.
Não ficar agarrado aos “e se“: E se tivessem feito as coisas de outra forma, a relação não tinha acabado. Se tivessem ido àquele jantar, se tivessem feito aquela viagem, se tivessem sido menos possessivas, se tivessem sido mais flexíveis, se, se, se… A vida é feita de “e se’s” a toda a hora mas a verdade é que não os conseguimos controlar. Não colocar todo o peso do fim da relação do vosso lado é o primeiro passo para seguir em frente.
Acreditar que nada acontece por acaso: Este é o meu mantra, por mais clichê que seja. E há aprendizagens e um crescimento emocional a retirar destas situações que nos vão levar a outros sítios na vida. Quanto melhor se conhecerem e aprenderem com as experiências falhadas que vão vivendo, melhores decisões vão saber fazer no futuro e evitar desilusões e sofrimentos acrescidos.
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