Por muito que nos tentemos convencer que grande parte do amor é fisico – desculpem-me todos os que crêem que o sexo conduz ao amor – não é. O amor é, em grande medida, psicológico. Está relacionado com a forma como uma pessoa nos faz sentir na sua presença, com as suas palavras, com o seu toque, o seu olhar, o seu sorriso, as expectativas que nos cria. Aquele amor que sentimos depois de horas de conversa com alguém. Melhor que o sexo é aquele amor que sentimos por alguém que nunca nos tocou. Pode parecer completamente absurdo para muita gente – ridículo, até. Mas este é aquele tipo de amor – e se a palavra amor ainda vos assusta, saiam daqui – que vai muito mais além do físico. E isso é raro nos dias de que correm.
Há uns tempos conheci um tipo num jantar e demo-nos bem. Não tínhamos nada a ver um com o outro mas falávamos tanto sobre trabalho e ideias que as nossas conversas fluíam de forma natural. Mas – e porque eu não estava interessada nele – sempre tracei bem essa linha nem nunca fiz nada que lhe desse a entender o contrário. Depois de vários convites para sair recusados, acabei por aceitar um para um concerto que queria ver e ele tinha passes. E acho que, aí, pisei a linha. Porque ele idealizou um cenário que nunca se iria concretizar. E acabou por idealizar uma pessoa que eu não era.
Mas porque eu tinha respeito por ele, fui honesta, expliquei o que (não) sentia e que não era aquela pessoa que ele tinha imaginado na cabeça dele. E ele disse-me aquilo que uma mulher tanto deseja ouvir e que, em 99% dos casos, não ouve da pessoa que quer – que estava apaixonado por mim. Na altura, eu não consegui compreender como é que ele estava apaixonado por alguém que nem conhecia decentemente. Eu era apenas uma figura, uma personagem virtual com quem ele falava, uma imagem que ele tinha imaginado na cabeça dele. Falava com ele como falava com os meus amigos, de forma completamente banal e despreocupada. Mas acabei por perceber – e pedi-lhe desculpa, mesmo não tendo de o fazer – que ele tinha criado expectativas irreais relativamente a mim. Sem eu ter feito rigorosamente nada.
Às vezes, temos de ter cuidado com os sinais que passamos aos outros. Porque pior do que não gostar de alguém é dar-lhe a entender que sim, é alimentar o nosso ego com essa pessoa e no fim não corresponder às expectativas que ajudámos a criar.
Pior que aqueles cabrões que desaparecem e não nos dizem nada, são os vestidos de cordeiro que nos vão dando festinhas para nos manter na prateleira, confundindo-nos a cabeça e o coração.
Porque, no final das contas, não podemos fazer uma pessoa apaixonar-se por nós se não temos a intenção de corresponder. Porque o amor não é só físico – muito dele é mental e baseado em expectativas.
Claro que, algum tempo depois, este tipo passou-se e chamou-me – vejam lá – puta e eu deixei de ter pena dele e de lhe responder. Mas, mesmo assim, consigo compreender a frustração que as expectativas falhadas criam e que, por vezes, acaba por lixar tudo.
Já vos aconteceu? Partilhem as vossas diferentes visões sobre isto 🙂
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