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Foto do escritorHelena Magalhães

O amor é outra coisa #3 Mais amor e menos #cardinais


Não tenho qualquer interesse em saber quem foi ao ginásio de manhã. Ou o que comeram ao pequeno almoço. Quem está a molhar os pés na piscina. Ou quem está a caminho do trabalho, irritado no trânsito. Quem está a experimentar roupas ao espelho numa loja. Ou quem está no sofá a ver televisão. Não percebo esta necessidade extrema de gritarmos o que estamos a fazer, o que sentimos, o que comemos, onde vamos, o que vemos, o que queremos… Gritamos tanto, tanto, tanto mas a verdade é que não temos nada para dizer. 

Eu também gosto do Instagram e do Facebook, e também tiro fotografias idiotas que depois publico, com comentários também eles idiotas. E não, não sou uma info-excluída, mas raramente veem o que como, quando vou ao ginásio, quando saio de casa, quando vou à praia ou quando vou às compras. Ninguém sabe nada daquilo que faço durante o dia, o que gosto, o que sinto, o que vejo, onde vou. Mas provavelmente sabem as coisas que o meu gato faz, os artigos que leio online e as minhas dissertações sobre as mulheres e os homens de hoje, sobre o amor ou sobre o sexo. Provavelmente, conhecem as minhas amigas, já me viram aqui ou ali em situações divertidas com amigos e, se estão a ler isto é porque seguem o The Styland, veem todas as mini produções que fazemos que nada são, se não, meras sugestões e inspirações de como a moda e a beleza se podem incluir no nosso dia-a-dia, tornar-nos mais bonitas, mais fortes, mais confiantes e mais saudáveis. 

Muito pouca gente consegue discernir entre o mundo virtual e o real. E vivem cá e lá. Vivem da fama do Facebook e do Instagram. Dos likes e dos comentários. Do ser-se tão famoso que se tem de fazer tudo o que é suposto fazer porque se quer cultivar mais likes e mais comentários. Vivemos tão obcecados em ser super cool, em sermos aceites e falados, que simplesmente deixámos de viver. Eu não me excluo desta obsessão moderna. Não sou tão hipócrita ao ponto de dizer que não o faço. Mas ninguém me vê na rua agarrada ao iPhone enquanto o mundo corre à minha volta. Ninguém me vê no balneário do ginásio a teclar. Ninguém me vê aos espelhos das lojas a fotografar a roupa que estou a pensar comprar. Ninguém me vê num restaurante a deixar a comida esfriar porque a estou a colocar no Instagram. Sou totalmente a favor da liberdade de expressão e das fotografias de noites ou férias divertidas, das parvoíces que partilhamos, de vídeos engraçados, de inspirações, de fotografias e sites de humor que nos fazem rir por um momento. Mas cada vez me identifico menos, e menos, e menos, com esta obsessão virtual de querer chamar a atenção e esta ânsia em sermos grandes. Mesmo que virtualmente.

E é exactamente por isto que, provavelmente, vou acabar sozinha com 10 gatos. Porque basta-me rolar um bocado pelo Instagram para ver tipos a tirar selfies, fotos ao espelho, a fazer beicinhos para o iPhone, a fotografar a roupa que estão a usar, os seus pezinhos no mar, os seus abdominais ao espelho do ginásio, as suas pulseiras para a zona vip do Bliss… E embora ainda consiga tolerar isto numa mulher, num homem parece-me absolutamente ridículo. Questiono-me se esta é uma doença dos tempos modernos ou se, antigamente, todos tínhamos estas inclinações narcisistas mas, ao não haver forma de as expressar, elas acabavam escondidas dentro de nós. 

Ainda existem homens que não vivam obcecados com a fama narcisista virtual? Que cultivem a cultura ao invés das bebedeiras ao sábado à noite no Urban Beach ou no Lux? Que fotografem viagens e não abdominais? que vão a concertos, ao cinema, à praia sem ter que tirar uma selfie do momento? Que falem mais do que escrevam? Que não registem os seus sentimentos com cardinais? Que partilhem o que sentem e não o que têm?

Não sou nenhuma maluca hipócrita que acha que todos os outros estão errados. Mas será que sou eu que estou errada por não me identificar com as pessoas de hoje?

Tags: amor, redes sociais, facebook, selfie, relações

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