Fotografia tirada por Sara Cabido | Little Tiny Pieces of Me.
Esta é uma história tristemente inspiradora para o início de 2016.
Há uns anos, talvez uns quatro ou cinco, conheci um tipo numa festa. Ele era, de facto, bonito. E o termo bonito é estúpido para se aplicar aos homens mas passei o tempo todo a olhar para ele. Não com um olhar de psicopata, atenção, mas com um olhar de quem quer checar o que é que ele anda a fazer. Ok, talvez um bocadinho psicopata.
Algumas horas depois, ele abordou-me e – obviamente – adicionou-me no Facebook e começámos a falar nos dias seguintes. Cliché e nada de novo.
Uma noite, fomos jantar. Txararammmmm! E a meio do jantar, uma rapariga ligou-lhe. E, por mais rápido que um homem tente ser, uma mulher é sempre muito mais. Em meio segundo, e antes dele conseguir virar o telefone para baixo, já tinha visto o nome e a fotografia dela no ecrã. “É a minha prima”, disse ele. Nem mentir sabia. Este era como o idiota da kizomba que disse que os corações no whatsapp eram da tia.
Na altura, já trabalhava numa revista feminina e escrevia muito sobre sexo. E não sei se foi inspirado por isso – ou por achar que eu era altamente mente aberta ou que estávamos num episódio do Californication – começou a contar-me como tinham sido as suas férias em Ibiza que incluíram sexo, milhares de euros gastos por noite, drogas e álcool. Ele já me tinha perdido com a parte da prima mas continuei placidamente a ouvir a história. O telefone voltou a tocar. Desta vez, ele pediu desculpa e afastou-se para falar. Eu tirei uma nota da carteira, coloquei-a em cima da mesa e fui-me embora.
Helena – 1; Idiota – 0.
Cinco minutos depois, estava a telefonar-me com mil histórias, que estava numa situação complicada, que era a namorada dele mas que a relação já estava no fim, que já não estavam bem, mas que ele ainda não tinha conseguido resolver as coisas, blá, blá, blá. A única coisa que eu lhe respondi foi se, com tanto sexo em Ibiza, ele tinha pelo menos feito um teste a todas as DST’s que existem, por respeito à namorada com “quem ainda não tinha conseguido acabar”.
Helena – 2; Idiota – 0.
Nunca mais voltei a pensar neste tipo mas, não sei quanto tempo depois, ele publicou, no Facebook, o seu convite de casamento. E, naquele momento, tive uma pequena taquicardia. Como é que um idiota destes conseguia enganar uma mulher durante taaaaaaaaanto tempo?
Parabéns pelo casamento! Espero que a lua-de-mel seja em Ibiza, de certeza que a tua namorada vai adorar – disse-lhe, numa mensagem no Facebook.
Casaram – porque vi as fotos. Não foram de lua-de-mel para Ibiza – também já não me lembro para onde foram. E nos últimos anos fui vendo, esporadicamente, algumas fotografias deles aqui e ali.
E porque é que vos estou a contar isto agora? Porque tínhamos amigos em comum. E, várias vezes, apeteceu-me abrir a boca. Mas a minha consciência dizia-me sempre para não o fazer porque não devia meter-me em assuntos alheios.
Este fim-de-semana, fui jantar com um amigo que me contou que – finalmente – eles se vão separar. Porquê? Porquê? Porquê?
Porque ela descobriu algumas das suas traições – algumas, atenção. Porque quando uma mulher descobre uma coisa, descobre logo quatro ou cinco.
Embora este início de ano esteja a ser para ela, de certeza, um inferno, foi o melhor que lhe podia ter acontecido. Porque a paixão tolda-nos a capacidade de ver para lá dos filtros cor-de-rosa que se prendem à frente dos nossos olhos. Perdemos a coerência e deixamos de ver a realidade. Este idiota transpira cabrão em tudo o que diz e faz. E, para quem está de fora, é sempre muito fácil constatar coisas que, para quem as vive, estão a léguas de se tornarem reais.
Ao longo dos últimos anos, lembrei-me deste idiota várias vezes. Porque aqueles homens tremendamente bonitos que, à primeira vista, todas as mulheres os querem são, na grande maioria das vezes, descartáveis. Porque quem nunca tem de lutar por amor, também não o sabe manter, respeitar e retribuir.
Esta é a mensagem de hoje – não se deixem deslumbrar por aparências.
O que fariam? Ter-se-iam metido no assunto? E se alguém de fora vos abordasse para vos contar coisas sobre o vosso marido que vocês nem imaginavam? Como reagiriam?
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