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Foto do escritorHelena Magalhães

o amor é outra coisa #25 As mulheres conhecem mulheres que conhecem mulheres e descobrimos tudo


No fim-de-semana, fomos sair.

Juntámo-nos todas em casa da Cátia, petiscámos, falámos, dissemos mal dos homens que conhecemos, reclamámos dos trabalhos – menos eu, que isto de ser escritora é literalmente o trabalho da minha vida – e trocámos ideias sobre tudo e sobre nada. Que é basicamente o que as mulheres fazem quando estão juntas.

Tudo parecia ser uma noite completamente banal mas a vida dá voltas bastante interessantes. Eu conheci a Cátia através disto dos blogs. Comigo estava a – vamos criar números para todas para não haver muita exposição – amiga 1, que trabalhou comigo e a amiga 2, das minhas amigas de infância. Elas as três conheceram-se umas às outras através de mim e – porque eu só conheço pessoas boas – houve um click entre todas. Isto para reforçar a ideia de que não há histórico nem muitas ligações entre elas e o que acabou por acontecer foi… sei lá, destino – por mais estúpida que esta palavra seja.

Então, retomando a narrativa, estávamos a jantar e a amiga 1 fala-nos do – vamos chamar-lhe assim – Traidor Além-Fronteiras, um tipo que ela conheceu no verão e com quem passou umas semanas de sonho. Foi tudo tão intenso que, no outro dia, ela tatuou uma frase que ele lhe escreveu – com a letra dele. E antes que comecem já a atacar, a frase era algo do tipo “tudo é eterno enquanto dura”, que neste caso fazia sentido para os dois: ele porque perdeu os pais para o cancro e ela porque já passou, duas vezes, por essa doença. E esse foi o elo de ligação entre eles que acabou por tornar aquela relação tão forte. Mas, bem, o Traidor Além-Fronteiras não trabalha em Portugal e, em Setembro, regressou para o fim do mundo e o romance ficou em stand by. Não havia exclusivamente um acordo de fidelidade mas, vamos ser honestas, ficou ali qualquer coisa implícita que levava a trocas de mensagens, conversas via Skype e longas expectativas para Dezembro – a altura em que ele ia voltar por mais um mês.

E estes romances à distância são difíceis mas, por outro lado, criam imensas fantasias na nossa cabeça que acabam por alimentar o tempo e tornar-se tão violentas e intensas. Era exactamente assim que a minha amiga 1 estava: sozinha, a fantasiar com esta relação e com tudo o que iriam viver quando ele regressasse.

“A minha amiga Sofia – vamos chamar-lhe Sofia, um nome fictício – também estava a trabalhar no fim do mundo, na mesma cidade que o Traidor Além-Fronteiras“, disse a minha amiga 2 a meio do jantar.

A Sofia é uma amiga da minha amiga 2 e que, há três meses, foi trabalhar para o mesmo sítio e teve lá um affair, podemos chamar-lhe assim, com um português que ela conheceu.

A minha amiga 1 pega no telemóvel, entra no Instagram, rola pelo iPhone e mostra à minha amiga 2 uma fotografia do Traidor Além-Fronteiras.

Silêncio constrangedor.

“Esse é o tipo da Sofia” – gritou a amiga 2.

Quais as probabilidades da minha amiga 1 vir a conhecer a minha amiga 2 que conhece a Sofia que, no fim do mundo, se envolveu com o Traidor Além-Fronteiras que, voltando ao início do ciclo, estava inicialmente com a minha amiga 1?

Todas as pessoas entram na nossa vida por alguma razão. Nada – mas nada mesmo – é acaso.

Eu sou sempre a favor da honestidade – em qualquer circunstância. Mesmo que doa. Mesmo que assuste. Mesmo que faça a outra pessoa dar-nos um pontapé no rabo. Para mim não há áreas cinzentas, apenas preto e branco. Ou se quer, ou não se quer. Ou se gosta ou não se gosta. Eu não gosto assim-assim. Quando eu gosto, gosto mesmo. Muito ou pouco, mas gosto. Não gosto para sempre, mas gosto agora, que é o que interessa. E, lá está, tudo é eterno enquanto dura.

Pode-se gostar e, neste caso, como existe distância e todo um oceano a separar, ser-se honesto e contar-se o que se anda a fazer. É verdade que, muitas vezes, ocultar-se coisas até pode ser viável. Não vale a pena magoar-se alguém com verdades que ficaram para trás. Mas essas verdades podem vir ao de cima – como aconteceu – e estragar-nos a vida. Eventualmente, ele não lhe quis contar o que andava a fazer no fim do mundo porque não era relevante para o que poderiam vir a viver novamente em Lisboa. E, quando se está sozinho noutro país, é mais do que legítimo que se crie conexão com outras pessoas e haja azo a traições. O ser humano não foi feito para ficar sozinho. Nós procuramos – mesmo que inconscientemente – o conforto das outras pessoas.

Nessa noite, arrancámos para o Radio Hotel onde nos encontrámos com… a Sofia, que entretanto já voltou para Lisboa. E que contou que, lá no fim do mundo, a coisa não correu bem porque ele também andava com outra portuguesa por lá (não vou focar-me em toda a parte de, afinal, ser um idiota, isso já são outros andamentos).

Estão a ver aquele momento em que tudo se estilhaça dentro de nós? Em que cai a ficha. Em que a outra pessoa, de repente, e aos nossos olhos, deixa de parecer perfeita? Em que o encanto morre?

Tudo isso acontece quando a desilusão é maior que a paixão. Ele poderia simplesmente ter sido honesto com a minha amiga 1 – dizer-lhe que queria estar com ela quando voltasse mas que, sozinho noutro país, poderia vir a estar com outras pessoas. Ela poderia aceitar ou não aceitar – mas ele teria feito o papel dele.

A minha mensagem de hoje – já perceberam qual é, certo? A honestidade é uma das maiores armas que temos nas nossas relações. Dêem-lhe uso – mesmo que custe.

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