Quando um homem realmente quer uma mulher, nada o vai manter longe. E esta é uma mensagem dura de assimilar mas que, quando o fazemos, nos vai salvar muitas dores de cabeça. E de coração.
Durante muito tempo, tentei arranjar desculpas e justificações para o comportamento de um tipo que simplesmente não queria estar comigo. E, acreditem, eu arranjei as justificações mais idiotas que alguém pode dar. Ele gosta de mim porque me liga às quatro da manhã bêbado. Não, ele ligava exactamente porque estava bêbado e o álcool traz carência. Ele gosta de mim porque quando o ignoro, ele vem atrás. Não, ele apenas me esticava um dedo para ver se eu ainda o agarrava. E eu agarrava, duh! Ele gosta de mim porque todos os sábados me pergunta se vou ao Jezebel. Ele só se lembrava de mim ao fim-de-semana para ver se podia ir molhar o pincel no sábado à noite.
Isto já aconteceu há alguns anos (alguém ainda vai ao Jezebel?) mas o que eu fazia era tentar justificar algo que simplesmente não tinha de acontecer. Era deixar-me estar na prateleira de alguém que sabia que não queria ter uma relação comigo mas era demasiado cobarde para o afirmar.
Uma vez convidou-me para jantar e levou-me ao McDonald (maior alerta vermelho que isto é impossível). Nem sequer nos sentámos. Foi ao McDrive e ficámos no carro a comer no parque de estacionamento da praia de Carcavelos. Eu não como fast food há mais de 10 anos por isso podem imaginar que não tenha sido nem um pouco agradável estar sentada no carro a comer batatas-fritas – a única coisa que ainda consigo comer – com ele a perguntar todo lambão se podia, então, comer os meus nuggets. Este jantar, se é que o posso chamar de jantar, tinha um propósito – claro – uns amassos no carro antes de ele ir sair não sei para onde com os amigos. Mas estava de tal forma inebriada que tudo isto me passava ao lado. Naquela altura, provavelmente, teria concordado com qualquer plano que ele me fizesse (se não pusesse a minha vida em risco, é claro, que era ingénua mas não era estúpida).
E é aqui que quero chegar – encontrar alguém que esteja disposto a conhecer-nos é muito raro. Alguém que queira conhecer a nossa alma e não o nosso corpo. Alguém que não nos queira só quando é conveniente. Ou quando dá jeitinho. Alguém que não nos ligue só quando bate aquela carência típica da bebedeira de sábado à noite. Alguém que não nos mande um whatsapp à meia noite a perguntar se queremos ver um filme lá em casa. Alguém que nos chame bonitas ao invés de gatas. Alguém que nos faça perguntas, nos desafie e nos faça ver o mundo com outros olhos.
Desde quando é que falar de amor se tornou tabu? As pessoas têm vergonha de se apaixonar. Pudor de gritaria, lágrimas, beijos à chuva, flores, cartas de amor e saudade sem fim. Deixam que o sexo as ludibrie com sentimentos efémeros e passageiros. Viram o disco e tocam o mesmo. Saltam de discoteca em discoteca, de caso em caso, de boca em boca, de cama em cama. Já não se deixam levar por amores épicos. Amores que fazem doer as entranhas, amores que nos fazem meter num avião para ver alguém, que nos levam ao aeroporto para um último beijo, que nos fazem mudar de país, de cidade, de rua, amores que nos fazem ficar acordados a noite toda a trocar mensagens tolas, amores que nos tremem as pernas e o estômago, que nos desequilibram o coração e nos tiram o fôlego. Amores em que não vivemos no nosso mundo para, de vez em quando, entrarmos no mundo da outra pessoa. Mas amores em que partilhamos o nosso mundo sem medo.
E já não se fazem amores destes. Agora é tudo porque nos dá jeito. Ou jeitinho. Mandamos mensagem pelo facebook, analisamos meia dúzia de fotografias, mandamos umas piadas pelo chat e decidimos se essa pessoa é, ou não, fodivel. Convidamo-la para beber um copo, porque jantar dá muito trabalho, e esperamos que duas horas de conversa sejam suficientes para terminar a noite a levá-la para casa.
Falar de amor é literalmente um tabu. Correr atrás de alguém é uma humilhação. E gritar ao mundo o que se sente é constrangedor. Hoje em dia, se um tipo nos deixa, tiramos umas fotografias meio despidas para trocar a nossa foto de perfil e metemo-nos na cama com um amigo dele para provar que nos estamos nas tintas. Já não escrevemos romances, baladas e histórias de amor. Ninguém quer amar. O amor morreu. Foi enterrado e descansa em paz.
Eu quero amar. Mas os homens ficam muito incomodados quando lhes digo que não tenho interesse em ir para a cama com eles. Como se quem estivesse errada fosse eu.
E não o resto do mundo.
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