Toda a nossa cultura nos mete na cabeça a ideia de que nascemos para ser felizes. Crescemos com os filmes felizes-para-sempre da Disney, somos adolescentes a ler o felizes-para-sempre do Nicholas Sparks e, quando entramos no pós-adolscência, ouvimos o felizes-para-sempre de tudo o que nos bombeia a rádio. Dos filmes, às telenovelas, aos livros e às músicas, o amor e o ser-se feliz com alguém ao nosso lado é o pináculo de toda a nossa vida. E isso pressupõe que a felicidade é um dado adquirido – mas, na realidade, o que nós temos são picos de felicidade, alternados com picos de infelicidade e, na maioria das vezes, estabilidade. Nós nascemos para ser felizes, é verdade, e eu gosto de acreditar nisso.
Mas como conseguir ter crença no feliz-a-dois quando o nosso “dois” é feliz a três, quatro, a cinco, a seis…?
Imaginem este cenário: um casamento cheio de gente, um dos amigos do noivo está lá com a sua namorada e, de mão nas costas dela, não tira os olhos de vocês. O que é que faziam? Levantavam o dedo do meio? Viravam a cara? Davam-lhe um pontapé na cabeça? Mas se estão frente-a-frente com ele na mesa, no meio de um casamento, fica difícil fugir. Horas mais tarde, a rapariga apanha o bouquet da noiva (aaaalll the single ladies, aaaalll the single ladies) e eles comentam que vão ser os próximos a casar. Felicidades, adeus adeus e vamos embora felizes da vida, tranquilas e em paz por não termos um homem connosco. Dormimos sozinhas, é verdade. Mas, do mal o menos, não temos ninguém a trair-nos naquele momento.
No dia seguinte, o boneco do casamento descobriu-nos no Facebook e enviou-nos uma mensagem. E começa a estupidez. Não vou colocar a conversa inteira mas queria só reforçar que a fotografia dele de perfil é a dar um beijo na boca da noiva do bouquet do dia anterior. Só para aumentar o nível de estupidez ainda mais um bocado.
Era uma coisa que querias muito? Hummm sim, adoro bouquets e queria apanhá-lo para casar contigo e ser traída todas as sextas-feiras à noite no Urban Beach.
Quando ele disse que era muito honesto, ia caindo da cadeira de tanto rir. A resposta antes desta foi que, estando num casamento, e não tendo mais para onde olhar a não ser pessoas, eventualmente tinha olhado para ele, tal como tinha olhado para os outros 300 convidados. Com a idade perde-se um bocado os rodeios, disse ele. E os valores morais também.
Querem saber se um tipo é um cabrão no Facebook? Há várias formas: ou não vos adiciona e passam da troca de mensagens para o número de telemóvel e para as conversinhas de whatsapp. Ou tem a sua lista de amigos privada e ninguém a pode ver. Este, ficou logo nervoso com o pedido de amizade – as outras pessoas iriam ver. Aí está o alerta cabrão (como se o ter namorada/noiva não fosse já um alerta suficientemente gritante).
As partes desfocadas são informações sobre pessoas que estavam no casamento e que não interessam aqui a esta história. E a partir daqui, esta converseta tornou-se um monólogo. E tu conhecendo a moda, aplicas no teu dia a dia em ti?, pergunta ele. Isto é uma pergunta? Não percebo sequer o que é que ele quer saber.
Continuo curiosa? Não – só tinha perguntado a idade dele para perceber em que nível de estupidez de vida é que ele estava. Não queria saber todas as suas frustrações laborais.
Para tudo! Para tudo! Se responderes, fá-lo amanhã de manhã sff, diz ele. Este idiota nem sequer tenta, pelo menos, fingir que toda esta converseta é natural. Responde amanhã para a minha noiva do bouquet não ver sff, pode ser? Sim, pode ser, claro que sim. Vamos lá meter-nos num motel qualquer em Sintra num dia em que digas que ficas a trabalhar até mais tarde com o teu cliente de 77 anos que fez uma luxação muscular e precisa de exercícios extra. E, sff, tenta não me passar clamidia pode ser?
E nem é só isso, é ele acreditar que a ausência de resposta é por motivos de trabalho. Não pode ser porque ele é um atrasado mental e a converseta acabou? Idiotas como este sabem que são bonitos e, como tal, fazem o que lhes apetece. Dão três ou quatro conversas simpáticas, enchem-nos de elogios e preferem os whatsapps ao facebook porque afinal não passam tanto tempo no facebook como parece. Têm a lista de amigos privada porque não sabem como tirar e foi o facebook que a meteu assim. São muito honestos e pensaram muito antes de falar connosco porque é a primeira vez que estão a fazer esta abordagem. O objectivo é fazer-nos sentir especiais. Connosco vai ser diferente. Porque connosco houve um click diferente…
Eu gostava, gostava mesmo, que tipos como este não se safassem a enganar mulheres por aí. Gostava que todas as que caem nestas conversas tivessem a frieza (ou já soubessem a missa de trás para a frente) que eu tenho para desdenhar destas situações. Mas, tal como eu fui, noutra vida num passado longínquo, enganada e emocionalmente ludibriada por quem nos toca ao coração ao querer tocar-nos à cueca, todas as mulheres têm de passar por isto um número razoável de vezes até aprender. Ou até já conseguirem identificar cabrões a uma légua de distância.
Ou numa conversa de chat.
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