Cheguei a casa eram umas 3 e meia da manhã, saí do carro, olhei para o céu e só me apetecia levantar as mãos e gritar: vá vida, vem lá lixar-me só mais um bocadinho.
Há uns meses conheci um tipo que tinha sido colega de uma amiga na escola e que, vai-se lá saber porquê, adicionou-me no Facebook depois de me encher o Instagram de likes. Staaaalker, eu sei. Em circunstâncias normais, não teria aceite. Mas este tipo, tirando os seus 2 mil amigos no Facebook e uma qualquer obsessão em adicionar pessoas aleatórias, parecia (minimamente) normal. E era bonito, vá. Não vou dizer que o aceitei porque parecia simpático e educado. Homens nerds e de barba são literalmente a minha cena.
Mas eu sou a pior pessoa para conversas online. Odeio chats de Facebook e isso levou a que, nos últimos meses, só tenhamos falado de vez em quando. Mas quando o fazíamos, as nossas conversas eram interessantes, focadas em trabalho, histórias e perspectivas de vida. Zero engates. Mas porque não falas?, perguntam-se vocês. Porque os chats criam falsa intimidade entre as pessoas. São os chats, os whatsapps ou as mensagens que fazem as pessoas apaixonar-se por imagens que criam umas das outras e que, na vida real, acabam por não corresponder ao que idealizaram. Se gostam de alguém, acreditem, ponham as conversas virtuais de lado.
Isto pode não ser fácil, eu sei, porque passamos os dias no computador e os chats piscam de cinco em cinco minutos. Mas para quem é desligado por natureza, como eu, vai acabar por ser natural. Passo dias sem responder a mensagens, sem maldade, apenas porque, às vezes, não tenho nada para dizer e prefiro falar pessoalmente (ou telefonar) do que estar em conversas intermináveis por mensagens. E há dois perfis de homens: aqueles idiotas que fazem joguinhos e se vocês não respondem, eles também não. E aqueles que não estão para jogos (yeahhh!) e, mesmo que vocês não respondam, eles dão algum sinal de vida quando têm alguma coisa (e vontade) para dizer. Este tipo corresponde a este último perfil. Mesmo que eu estivesse duas semanas sem responder, volta e meia ele aparecia com qualquer coisa para me mostrar ou dizer.
Vai daí, fui ao Porto (onde ele trabalha) há umas semanas e mandei-lhe mensagem a dizer que estava por lá. Combinámos uma saída à noite em que eu não apareci porque adormeci no hotel. E, no dia seguinte, ele combinou aparecer à tarde e, à última da hora, disse (deu uma desculpa) que estava com muito trabalho e não apareceu. Coninhas, eu sei.
Então, esta semana combinámos sair em Lisboa. E ambos aparecemos. E não foi completamente bizarro-do-tipo-catfish como eu achei que ia ser. Na verdade, quando ele apareceu parecia simplesmente alguém que já conhecia desde sempre. E no meio de taaaaaaantos cromos (para não repetir a palavra idiota sempre que me refiro a homens) que se cruzam no meu caminho, este tipo tinha realmente empatia comigo. Ou eu com ele. Cometi um faux pas social de não lhe ter dado mais crédito. Estava numa de aparecer só para não ser eu a coninhas. E disse-lhe para ir ter comigo ao cinema porque, caso corresse mal, não teríamos muito para falar com um filme à frente.
Não sei se foi recíproco mas acontece que teria ficado a falar com ele até de manhã. Estou triste, disse-lhe antes de me ir embora. Porquê? Fiz alguma coisa?, perguntou-me. Não, não fizeste nada de errado e agora não tenho nenhuma história de cromos para contar amanhã, respondi. E ele deu-me a mão, em género de aperta lá aqui, e ficámos ali com as mãos juntas sem saber muito bem o que fazer.
Eu sei que se estão a perguntar qual é a parte em que ele lixou isto tudo.
Mas vamos lá chegar.
Vou para a semana para São Francisco, em trabalho, por tempo indeterminado, disse-me.
Qual é a probabilidade de, no meio de dezenas, milhares, milhões de cromos, aparecer um que faz click e se vai embora?
Cheguei a casa eram umas 3 e meia da manhã, saí do carro, olhei para o céu e só me apetecia levantar as mãos e gritar: vá vida, vem lá lixar-me só mais um bocadinho.
E, não podendo beber, fui dormir para esquecer.
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