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Foto do escritorHelena Magalhães

Não morri. Mas doem-me as entranhas


Não morri. Só que começo a perder a esperança no amor. No romance. E, porra, na lealdade. Pelo menos, para mim. Dói-me tudo. Doem-me todos estes sentimentos que me estão a sair pelas entranhas. Como é que posso saber tudo o que dizer (e fazer) sobre a vida dos outros e, no que toca à minha própria vida, só faço asneiras. Enquanto esperava por ele, estava numa ansiedade brutal. Mas, ainda antes dele ter chegado, já sentia uma tristeza a abater-se sobre mim e a consumir-me. Porque no último ano e meio, as nossas conversas profundas, todos os filmes e promessas e dramas e choros e ódios, terminaram. Na altura, não me apercebi porque é que estava triste, se ele estava ali comigo. Mas agora já percebi. O que é que vai vir das noites que já passámos juntos? O que virá dos últimos meses em que ele me preferiu à outra? O que virá dos nossos beijos sob as estrelas? Absolutamente nada. Porque eu estava livre para fantasiar com ele. Para idealizar este homem oh tão perfeito e a um nível tão inatingível em relação aos outros. Um homem tão perto e, ao mesmo tempo, tão fora do meu alcance. E eu podia fazê-lo, porque não era real. E custa-me voltar à realidade, ao meu trabalho, à minha rotina, porque é o sinal que este capítulo mágico e selvagem terminou. Não por ele. Mas por mim. Porque ele não é a fantasia que eu criei. Há momentos em que me sinto a desesperar. Porque não posso mantê-lo aqui ao meu lado. Nunca vou saber se também lhe doem as entranhas e como é que ele se sente, porque não posso perguntar. Se o fizer, vou voltar a mergulhar na fantasia porque ele é muito bom com palavras mas muito mau com acções. E só sei o que é que ele vai fazer: nada. Quando voltei para Portugal, ainda lhe mandei algumas mensagens. Trocámos algumas piadas. Mas ele continua na sua vida. Nas suas mentiras. E isso não é fácil de esquecer. Tal como nunca vou esquecer o que o último ano e meio significou. As coisas que me ensinou. As histórias que partilhámos. A forma como via o mundo graças a ele. Como não me sentia sozinha porque havia alguém que sabia exactamente como me sentia. E nunca vou esquecer as nossas longas conversas a meio da noite porque significaram o mundo para mim. Mas estou triste. Porque viver nas sombras da nossa própria ignorância é bonito e inocente e maravilhoso. Mas quando nos tiram o filtro cor-de-rosa dos olhos, o que vemos não é tão bonito como tínhamos assumido. Agora é hora de limpar os cacos destes sentimentos. Porquê? Porque percebi, tarde mas percebi, que ele não gosta nem de mim nem dela.

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