Escrevo este post para alertar toda a gente para algo que, confesso, tinha um desconhecimento absoluto. Sou uma boa condutora. Aliás, atrevo-me a dizer que sou mesmo muito boa condutora. Sou reactiva, sou consciente, odeio velocidades, conduzo atenta, respeito as regras e já evitei muitos acidentes porque tenho reflexos rápidos e sei responder rapidamente aos erros de outros condutores.
Posso até dizer que, quando fiz o exame de código, numa sala cheia de homens, fui a única pessoa a não errar nenhuma questão. E a senhora que estava na sala a dar as notas fez questão de dizer que tinha sido uma mulher a única a passar com zero respostas erradas. Yey para mim.
Depois de auto-promover a minha condução e conhecimento das regras de trânsito, deixem-me dizer-vos que em 2015 passei duas vezes a 70km/hora em Belém e, pimba, fui apanhada pelo radar. Bem, por conduzir a 70 na marginal às duas da tarde não estou propriamente a colocar a vida de ninguém em risco mas aceitei a contra-ordenação e paguei (que apenas me chegaram a casa em 2017 e meus ricos 240 euros). Quase no fim do ano passado, recebi outra multa, referente a 2016 e, desta vez, não paguei. Respondi a pedir para enviarem a prova fotográfica do meu carro porque tinha sido autuada por um polícia escondido também a meio da tarde e a uma velocidade ridícula de 70 e pouco numa via rápida com um radar de 50 algures.
Até aqui tudo bem, paguei as multas e e continuei com a minha vidinha. Até receber esta semana uma carta onde diz que, como paguei as multas, assumi a culpa e, como tal, o juiz (não sei que juiz) acha que fui uma condutora inconsciente e negligente. Não sabia que, ao pagar, estávamos a assumir a culpa. Só paguei para não ter chatices. Mas, o lado bom de ter assumido a minha negligência, é o que o juiz decidia premiar-me por não ter crimes para trás e colocar-me numa pensa suspensa de 180 dias por cada multa. Só depois é que li bem que era basicamente um ano nesta brincadeira. Se neste período cometer alguma infracção, por mais mínima que seja, fico sem carta para ver o que é bom para a tosse e as multas já não serão de “apenas” 120 euros (informação dada ao telefone pelo Ministério da Administração Interna).
Eis a parte em que uma pessoa paga uma multa por ir a 70 na marginal e, ainda assim, é penalizada com uma pena suspensa porque se pagou, assumiu. Então a solução qual é? Não pagar e deixar tudo ao Deus-dará? Até me sinto uma criminosa a conduzir um carro tuning e verde brilhante, com tubos de escape gigantes e jantes douradas.
E o que me questiono é em que momento o Estado decide preocupar-se com as almas que passam radares a velocidades normais (na marginal o limite é de 70km, então porque razão a meio da marginal há radares ao acaso com limite de 50km?) ao invés de se preocuparem realmente com quem anda nas estradas portuguesas a colocar a vida de todos nós em risco. Gostava de colocar uma câmara no meu carro só para filmar as coisas absurdas que vejo acontecer todos os dias à minha volta:
– condutores que não param em Stops; – condutores que passam os vermelhos na marginal; – condutores que andam aos zigzags na auto-estrada; – condutores que andam a 50km/hora na faixa do meio da auto-estrada; – condutores que fazem as rotundas como lhes apetece; – condutores que andam aos zigzags dentro das rotundas; – condutores que não sinalizam para onde vão; – condutores que ao entrar na auto-estrada não respeitam a cedência de passagem; – condutores que fazem toda uma rotunda por fora; – condutores que mudam de faixa sem sinalizar e obrigam quem vai atrás a travar a fundo; – condutores que não param nas passadeiras; – condutores que andam a velocidades loucas nas zonas residenciais (como na minha rua); – condutores que batem em carros estacionados a fazer manobras e vão embora; – condutores que não respeitam as filas e entram numa via mais à frente para não ficarem na fila e, com isso, entopem o trânsito todo;
E a lista é infinita…
A única vez que estive envolvida num acidente foi numa rotunda há uns anos (uma senhora veio contra mim por andar aos zigzags entre as faixas e não sinalizar), a seguradora não me quis defender e sugeriu ser 50-50 (bye bye Seguro Directo, até nunca! E mais tarde soube que, em rotundas, há uma espécie de acordo tácito entre seguradoras para se dividir a culpa), mudei de seguradora, fiz uma queixa à Seguros de Portugal, recorri depois à CIMPAS (arbitragem de seguradoras), fui para tribunal (juiz da paz) com o apoio deles e… ganhei. A seguradora da senhora que me bateu teve de me indemnizar.
Não bebo álcool, não falo ao telemóvel enquanto conduzo, nunca fui apanhada em nenhuma contra-ordenação possível e imaginária. Mas tenho uma pena suspensa de 360 dias por ser uma condutora negligente e inconsciente.
Talvez esta caça à multa de radar (estão novos radares espalhados pela A5 desde o início do ano) seja um reflexo do quanto o Estado está a perder com a chamada “vingança” da PSP e da GNR contra as políticas do Governo. Em 2017 foram passadas menos cinco milhões de multas de trânsito, o que representa uma quebra de 55%. Menos multas, menos encaixe financeiro para o Estado que recebe 40% do valor da coima, como explica a RTP.
Se a polícia não passa multas, bora lá colocar mais radares, pegar nas multas antigas que estão aqui nos montes e começar a passar penas suspensas para que, na próxima multa, o condutor tenha de pagar muito mais e ficar sem carta e, na próxima multa, pagar ainda mais e assim sucessivamente.
É por isso que escrevo isto. Estejam atentos aos radares, usem as apps que sinalizam onde há radares e, em situação injusta, não se calem e recorram ao juiz da paz.
Quase que mais vale uma pessoa ser traficante, curtir a vida, vender droga, não pagar Segurança Social nem IVA, que isto de ser honesta e trabalhadora não compensa.
Agora vou ali conduzir o meu mercedes verde fluorescente com jantes douradas, vidros escuros, suspensão baixa, um sistema de estéreo todo janota e um tubo de escape bem barulhento que é para todos reconhecerem a criminosa em pena suspensa que sou.
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