Eu não nasci feminista. Embora este universo sempre me tenha estado no sangue, só aos 20 anos é que me deparei com questões, dúvidas e ânsias que não conseguia explicar. Grande parte delas surgiram-me quando entrei para a Rede Portuguesa de Jovens para a Igualdade de Oportunidades entre Homens e Mulheres e é a esta organização que agradeço todo o trabalho que fizeram comigo e que me colocou no caminho onde estou hoje.
E grande parte desse caminho passa, não só pelas igualdades de género, mas, acima de tudo, pelas próprias igualdades entre a mulheres. Liberdade é pouco, o que eu desejo ainda não tem nome. E, na verdade, o que eu desejo é, além de um mundo em que as mulheres não sejam olhadas de lado por serem como são (independentemente do que quer que isso seja – por quererem levar para a cama quantos homens quiserem, ou por quererem não ter ninguém até chegar alguém que lhes faça palpitar a alma, por quererem usar calças, ou mini saias, por quererem trabalhar ou ficar em casa com os filhos…), é um mundo em que as próprias mulheres não sejam ameaças para outras mulheres. Porque é isso que nós fazemos, todos os dias, provavelmente (ou não) sem nos apercebermos. O que eu desejo é um mundo em que não olharemos de lado para outra mais magra, ou mais gorda, no ginásio. Um mundo em que não julgaremos beleza, peso e celulite. Um mundo em que não iremos atacar outra mulher por ser, profissionalmente, melhor ou pior que nós. Um mundo em que não iremos julgar a liberdade de expressão de outra mulher e fazer actos das suas palavras.
O que eu desejo, acima de tudo, é um mundo em que nós todas nos iremos conseguir olhar ao espelho e gostar do que vemos. Um mundo em que deixaremos de lutar contra nós, e contra as outras mulheres, em prol de uma imagem. Porque aquilo que eu vejo em todas nós são almas bonitas em corpos bonitos. Mas está na hora de começarmos a olhar para nós próprias pelos olhos dos outros. E isso implica olharmos para as outras mulheres com os mesmos olhos com que gostaríamos de ser olhadas:
Bonitas!
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