Como este é o primeiro Histórias de Girl Power, quero explicar muito sucintamente o meu projecto. Conheço mulheres bad ass. Que ultrapassaram fases menos boas da vida, que estão a mudar o mundo das pessoas que as rodeiam, que passam mensagens positivas e que são, de maneira geral, mulheres que transmitem girl power. Além disso, também estou sempre a receber mensagens de mulheres que partilham comigo histórias absolutamente incríveis. E este é o lado bom das redes sociais – poder contactar com pessoas que inspiram e nos fazem querer inspirar com elas. Dito isto, comecei a reunir nos últimos meses histórias e a entrevistar mulheres com um ponto em comum: todas elas têm o dom de nos tocar, de nos fazer acreditar em nós, de nos incentivar a perseguir os nossos sonhos (quaisquer que eles sejam) e de nos tornar pessoas melhores. São mulheres com percursos e histórias que mostram o que é o Girl Power, que nos dão força para acreditar em nós. Se com estas histórias conseguirmos mudar nem que seja a vida de uma pessoa, tudo isto já terá valido a pena.
Esta é a primeira história de Girl Power. Conheçam a Vânia.
Troquei imensas mensagens com a Vânia antes de a conhecer efectivamente e pessoalmente. A primeira coisa que fizemos quando nos encontrámos – em frente à praia das Avencas a meio de Julho – foi dar um abraço porque, na verdade, parecia que nos conhecíamos desde sempre. Como se fossemos velhas amigas a encontrar-se para um final de tarde à beira-mar. Mas não. Nunca nos tínhamos conhecido. Mas já tínhamos trocado imensas mensagens e eu já sabia mais ou menos a história da Vânia. Uma história do caraças.
Os demónios que vivem dentro de nós
Todos temos demónios. Saudáveis são as pessoas que aprendem a viver com eles porque, na verdade, eles podem acompanhar-nos até ao fim da vida. Já falei várias vezes sobre o meu – a ansiedade e a claustrofobia. A perda de controle do que me rodeia que, por vezes, me condiciona. O medo de me expor, de falar em público, de falhar, de, lá está, perder o controle. O demónio da Vânia é, provavelmente, aquele de que mais mulheres sofre: a imagem corporal. A Vânia chama-o de uma cicatriz interna que a moldou e a tornou mais forte. E é por isso que a história da Vânia é uma história de girl power. É uma história que, espero eu, consiga inspirar e fortalecer muitas mais mulheres desse lado.
“É engraçado, quando faço uma retrospectiva nestes últimos quinze anos da minha vida consigo ver um padrão sempre muito claro e presente: o corpo. Quinze anos em que tive diferentes obsessões mas sempre ligadas ao mesmo assunto – odiar o meu corpo”, começa por me contar a Vânia, acrescentando a parte mais dolorosa do seu demónio. “E quando digo isto em voz alta – eu odiei o meu corpo durante quinze anos – apetece-me chorar porque é injusto. É doloroso pensar que vivi tantos anos com um sentimento tão atroz de negatividade. Apetece-me chorar porque é demasiado redutor pensar que grande parte da minha vida foi passada em completa insatisfação física e em constante comparação com o corpo das outras mulheres.”
De 80 quilos para um corpo perfeito (perfeito?)
A mulher que vejo hoje à minha frente não mostra nem um único vestígio da mulher que ela me contou que foi. E doeu-me ouvi-la falar da mesma forma que me está a doer agora a escrever. Porque não consigo imaginar o que é odiar o nosso corpo ao ponto de o querer maltratar da pior forma possível.
“Tive excesso de peso na adolescência. Pesei 80 quilos e perdi-os a vomitar. Foram oito anos da minha vida com a cabeça enfiada numa sanita a vomitar tudo o que comia e a comer tudo o que podia. Tive uma depressão, sofri ataques de pânico e estive medicada durante grande parte do tempo para me conseguir controlar. E podia falar sobre isto mas não vou”
O que a Vânia me contou foi do dia em que, aos 30 anos, acordou numa cama de hospital, anémica, a chorar com uma médica a dizer-lhe: “Se quiser morrer, o caminho é este”. Mas já lá chegaremos…
Peixe, batata doce, frango, brócolos e omeletes de claras…
Vânia falou-me do início de 2016 e o início da sua mudança… “Nesse Natal abusei da comida e comecei o ano insatisfeita como, aliás, sempre havia começado. Prometi a mim mesma que ia atingir a minha melhor forma física de sempre e que 2016 iria ser o ano da verdadeira mudança. Nada de novo porque eram promessas que fazia todos os anos. Na altura estava num ginásio, treinava todos os dias e andava obcecada com uma máquina que lá havia onde me pesava e controlava constantemente a massa gorda e a massa magra. Era absolutamente doentio.”
Custa-me imaginar, enquanto a ouço falar, que em tempos viveu de uma forma compulsiva e que aceitou dicas de um instrutor de atletas de culturismo que nunca a viu pessoalmente, passou-lhe um plano alimentar virtual e a acompanhou sempre por email.
“O que é que comias?”, perguntei-lhe. Peixe, batata doce, frango, brócolos e omeletes de claras (“só de pensar nas omeletes fico com uma volta no estômago”, diz-me Vânia entre risos). Mas claro que não era só isto. Pelo meio, Vânia começou a tomar uma série de suplementos alimentares (que não vou partilhar) e estava absolutamente entusiasmada. “Sabia de pessoas que estavam a ter óptimos resultados e a verdade é que, ao fim da primeira semana, os meus próprios resultados foram inacreditáveis. O meu corpo desinchou muito e isso deu-me ainda mais motivação para continuar. E passei meses a comer diariamente exactamente as mesmas coisas, com poucas quantidades de hidratos, treinos cada vez mais intensos e somente com um dia para comer uma refeição que eu quisesse.”
Milagre? Claro que não. Com um historial de obsessão e compulsão durante quinze anos, estes meses de privação foram apenas o gatilho para o comboio começar a descarrilar.
Cheguei ao meu melhor corpo e nunca fui tão infeliz
Em três meses, Vânia alcançou a sua melhor forma física de sempre. Nunca tinha tido uma massa gorda tão baixa, estava seca, definida, tinha uma barriga de Instagram e zero celulite nas pernas. E foi aí que as redes sociais entraram na sua vida. “Tinha conseguido alcançar o meu corpo de sonho e, por isso, comecei a tirar selfies em poses espectaculares no ginásio porque queria mostrar ao mundo tudo aquilo que tinha alcançado e o quanto estava em forma. As pessoas aplaudiam o meu progresso e o meu esforço. As pessoas olhavam para o ecrã e viam um físico exemplar. Mas as pessoas só viam aquilo que eu lhes queria mostrar”.
Vânia partilhou comigo que ficou escrava do Instagram. Escrava da aprovação, dos likes, dos comentários, das fotografias. Mas nada do que mostrava correspondia à sua vida real. “Por trás da fotografia perfeita que as pessoas viam, estavam 20, 30 ou 40 que eram tiradas de todos os ângulos para tentar parecer o melhor possível. Por trás daquela fotografia perfeita, e quando desligava a feira das vaidades que é o Instagram, chorava compulsivamente por me continuar a ver exactamente igual. Sim, tinha chegado ao melhor corpo de sempre mas nunca fui tão infeliz como naquela altura. Comer para mim tornou-se um suplício, a comida sabia-me sempre ao mesmo porque, na realidade, comia sempre o mesmo. Peixe, frango, batata doce, brócolos e omeletes de claras. Esta era a minha vida e ansiava compulsivamente pelo dia da refeição livre onde, obviamente, acabei por me descontrolar. Comecei a comer tudo o que me aparecia à frente e foi exactamente aqui que as compulsões que acompanharam grande parte da minha vida voltaram.”
Quem nunca viveu com uma compulsão nem consegue imaginar o descontrolo que isso cria no corpo e na mente. Eu não sei o que isso é, daí ter ficado tão sensibilizada com a história de força de Vânia por ter conseguido voltar a controlar o seu corpo, a sua mente e a sua vida. “Lembro-me de estar no trabalho e um colega ter umas bolachas de baunilha na mesa. Comi vinte bolachas de seguida. Lembro-me de sair do trabalho e correr para o supermercado para comprar pão com chouriço e folhados de salsicha. Comi-os todos no parque de estacionamento. Lembro-me de encomendar pizza, pão de alho, gelado e comer tudo sofregamente. No fim, ainda comi uma tablete de chocolate.”
Perguntei a Vânia se voltou ao ponto de partida. Se voltou a ser a Vânia adolescente. Se com as compulsões para comer voltam as compulsões para expulsar a comida. “Não o fiz, mas estive bem perto disso”, partilhou. “Jurava que ia voltar à dieta, que não ia cair mais em tentações e treinava. Treinava cada vez mais, tirava a fotografia perfeita e comparava-me. Comparava-me a todas as miúdas que seguia e que achava que tinham um corpo perfeito. Todas aquelas miúdas que hoje, quando olho atentamente, percebo que estiveram ou provavelmente ainda estão no ponto onde eu já estive. As redes sociais servem para mostrar o que queremos e, por isso, é fácil construir toda uma mentira e alimentá-la diariamente com frases bonitas e emojis. As pessoas do outro lado aplaudem e dão força porque, afinal, as redes sociais são mesmo para isso: para alimentar a personagem que se cria.”
O final desta história…
… já todos percebemos. Vânia ficou doente e bateu no fundo. “Tinha o meu corpo todo descontrolado internamente devido às carências alimentares seguidas das compulsões. Tinha inclusivamente um excesso de vitamina D, algo que os médicos disseram nunca ter visto antes. Chorei muito nesse dia porque me sentia inútil. Não por ter falhado no meu objectivo de corpo espectacular mas porque, ao fim de 15 anos, eu continuava exactamente a lutar por algo que me matava interiormente todos os dias.”
Nesse dia, Vânia pediu ajuda psicológica e nutricional e começou, aos poucos, a trilhar aquele que gosta de chamar “caminho de amor próprio”. “Descobri o crossfit, deixei de comer carne, de pesar a comida e de me pesar constantemente. Acima de tudo, deixei de me comparar e acho que foi exactamente aqui que a minha cura começou. Hoje em dia não tenho barriga lisa, tenho celulite mas consigo finalmente ser mais feliz do que nos últimos quinze anos. Não há abdominais que paguem esta sensação de leveza que é conseguir olhar para mim com olhos de amor.”
Podem acompanhar a história da Vânia no seu blogue aqui e o seu dia-a-dia saudável e feliz no seu novo instagram aqui.
No final do dia, a única coisa que importa é sermos felizes exactamente da maneira que somos. É a nossa singularidade que nos torna as mulheres mais bonitas do mundo.
Se quiserem partilhar a vossa história de força, falem comigo 🙂
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