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Foto do escritorHelena Magalhães

Festival Iminente em Oeiras





Este fim de semana entrevistei um rapaz – é um jovem, só tem 16 anos – que me fascinou. Quando me apareceu à frente, vestia um casaco de cabedal com franjas, calças pretas rasgadas, botas bicudas. Tinha um chapéu preto e o cabelo comprido apanhado num rabo-de-cavalo. Olhando para ele, jamais me passou pela cabeça que fosse um dos mais jovens promissores guitarristas de guitarra portuguesa. E que já é uma estrela no fado português. Teria feito mais sentido, à primeira vista, que fosse um cantor de punk ou algo do género. E conhecê-lo deixou-me a pensar nas injustiças que fazemos ao julgar imediatamente os outros . No outro dia, li um comentário por aí sobre mim onde se dizia que era “uma escritora lol”. Porque, por eu gostar de roupa, trabalhar em beleza e tirar fotografias é, veja-se lá, demasiado fútil para depois me poder auto-considerar “escritora lol”.

Na verdade, e quando penso na minha trajetória, acho que a imagem que passo por aqui é do mais elegante e virtuosa possível. Tento, em tudo o que faço, colocar uma mensagem positiva. Sei que param por aqui bastantes raparigas jovens e a minha missão é sempre passar bons valores e, acima de tudo, marcar alguma diferença. Tenho sérias dúvidas que haja alguma coisa a apontar sobre mim nesse aspeto. Não me veem em bikini, em mini-saias, com decotes, soutiens subliminares ou em qualquer tipo de exposição que passe uma mensagem sexual. Se calhar, se o fizesse, as minhas fotos tinham quatro dígitos de likes mas essa é a última coisa que me importa. Mas também não julgo quem o faz. Está tudo relacionado com os objectivos de cada pessoa. E o que quero, no final do dia, é mostrar que não precisamos de nos sexualizar para ter sucesso.

Eu gosto de contar histórias e de criar, por aqui, um pequeno universo que tem a porta aberta a qualquer leitor. Gosto, acima de tudo, de criar alguma felicidade a quem por aqui passa. Nem que seja durante cinco minutos ou o tempo que demorem a ler cada post. E gosto de vos convidar a viver mais e melhor a vossa vida. Foi por isso que, apesar de estar de directa, decidi pegar nos convites que a BIC me enviou e ir passar a tarde ao último dia do Iminente em Oeiras. Também moro lá ao lado, não aceitar seria o cúmulo da inércia.

Não vi nenhum dos músicos que por lá passou – porque estava física e emocionalmente cansada de duas noites a trabalhar – e estive apenas a absorver a arte urbana e as exposições de Bordalo II (os flamingos), Maria Imaginário (alguns dos quadros), Vhils, Wasted Rita (as frases luminosas), David Oliveira (as esculturas de animais dentro da Estufa Fria e na colecção de oito isqueiros da BIC), Gonçalo Mar (os troncos de eucalipto que parecem um banquete de carne viva) ou SLAP (os grafittis e as pinturas na carruagem de metro).

Este é o tipo de histórias que gosto de criar – inspiradoras, bonitas. Se houver alguém que, a ler este post, pense “porra, no próximo Iminente tenho mesmo de ir”, o meu trabalho aqui já foi feito. Porque, ao fim e ao cabo, o objectivo da arte (qualquer arte – escrita, música, artes plásticas, desenho, escultura…) é fazer-nos passar um bom bocado. É fazer-nos sentir qualquer coisa. É fazer-nos chegar a casa e pensar: este foi um bom dia. E, embora de directa, este domingo foi um bom dia. Espero que as fotografias vos façam sorrir.


























Chapeu e botas, H&M; casaco, Aly John; vestido, Lefties.

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