Gosto de sugerir leituras diferentes, apelativas a vários tipos de leitores. Porque tal como eu não gosto só de romances históricos, embora sejam dos meus favoritos, acredito que também desse lado existam pessoas com gostos completamente diferentes. E também gosto de leituras leves, de comédias, de romances actuais, de fantasia… Para quem leu A Cabana, já pode imaginar que Eva siga o mesmo registo bíblico onde é preciso, enquanto leitores, sabermos distinguir o romance da teologia. E sermos, acima de tudo, leitores de espírito aberto.
Para quem leu a palavra bíblico e já esta a revirar os olhos e a pensar ‘esta treta não é para mim‘, eu também achei isso mas acabei por ser surpreendida. Em traços rápidos, Eva é um romance fantasiado mas baseado na ideia da criação e queda da humanidade, onde Eva foi a culpada por ter provado do fruto proibido, o que levou à cultura misógina que marca toda a nossa história e que continua a ajudar os homens a perpetuar a ideia de que as mulheres são o sexo fraco.
E o que o autor faz é criar duas histórias num só livro: à superfície, acompanhamos a história de uma jovem que é encontrada num contentor, juntamente com mais raparigas traficadas, que dá à costa de uma ilha mágica cheia de personagens, refúgios e um outro universo para lá da vida real. Ao longo do livro vamos acompanhando a sua cura e redenção face ao seu passado (a mãe vendeu-a, foi violada, traficada, literalmente esterilizada para poder ser violada sem engravidar e acaba num contentor) e como a cura exterior (está fisicamente mutilada) precisa de acompanhar a cura interior. Mas debaixo desta leitura fácil, desdobra-se uma história muito mais profunda onde acompanhamos uma releitura bíblica da expulsão de Adão do Jardim do Éden onde, neste caso, o autor procura absolver Eva da total culpa, expondo (fantasiosamente) o lado fraco de Adão.
Todos temos a liberdade de confiar e a liberdade de nos irmos embora. Este é o mais profundo e, por vezes, doloroso mistério de comunidade e amor.
Mas a verdade é que, neste romance, mergulhamos num universo cheio de criaturas mágicas criado por Wm. Paul Young onde o enredo fantasioso se mistura com a história de Adão e Eva e nos toca directamente ao coração. Somos confrontados com conceitos tão básicos mas que, no dia a dia, nos esquecemos: felicidade, perdão, redenção, cura, crescimento. E com questões tão práticas como o bem e o mal e como, não importa o que a vida nos traga, nunca estamos sozinhos. Mesmo uma pessoa não-religiosa consegue ler e identificar-se com a premissa e ensinamentos deste livro.
A única coisa menos boa, ou que podia ter sido melhor explorada pelo autor, é o universo mágico da ilha. Isso acaba por ser esquecido e, ao ler, estava com imensa curiosidade em conhecer mais das pessoas da ilha, do que fazem, dos seus mistérios. Quiçá, isto fica para um outro livro.
O meu conselho? Se se sentirem confusos durante, sei lá, 80% do livro, é normal. Eu também estava. Mas, apesar de confusa, também estranhamente envolvida. Então continuei a ler. E a ler. E a ler. E no fim, percebemos tudo 🙂
Eva de Wm. Paul Young, publicado por Porto Editora. Foi publicado em Portugal no mês passado e está em desconto na Fnac online. Aproveitem yey!
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