… e esta é uma frase que ando a tentar não dizer em voz alta há muito tempo. Mas que me está a consumir.
Eu adoro mulheres. Podia ser lésbica como já me perguntaram porque só escrevo sobre homens maus… mas não, infelizmente não sou. Eventualmente era mais feliz com mulheres. E adoro ler sobre mulheres. Adoro a perspectiva das mulheres. Sempre quis trabalhar com e para mulheres. E escrever para mulheres é a minha vida.
Mas, porra, as mulheres são umas cabras. E vou contar duas histórias.
A rapariga que gostava do meu namorado
Tive uma relação bastante longa há uns anos. E antes dessa relação começar, esse tipo andava num rolé anda-não-anda com uma rapariga. E ela gostava dele. Acontece que, a meio daquele rolé, ele se apaixonou por mim (e eu por ele, claro) e acabámos por ficar juntos sendo que ele era (e continua a ser porque não morreu) um bom tipo e foi sempre transparente com ela e ficaram amigos. E ficam a saber um facto sobre mim: não sou uma mulher ciumenta, mesmo nada. E sempre apoiei aquela amizade. Quando ela fez questão de me conhecer e ele implorou para eu ir jantar com eles os dois, eu fui. E tentei gostar dela e ser simpática – apesar de ao fim de cinco minutos já ter percebido que nós as duas não tínhamos nada a ver uma com outra. Mais tarde, e por outro amigo em comum, soube que ela tinha dito qualquer coisa do género: “pfffff não sei o que ele vê nela, aquilo não vai durar muito tempo“. E, mesmo nessa altura, eu respeitei e percebi que ela apenas estava triste e frustrada por eu ter aquilo que ela sempre quis – estar com ele. Já me aconteceu o mesmo. Já me apaixonei por um tipo que preferiu ficar com outra e me deixou. Acontece a toda a gente…
Anos passaram e um dia ela adicionou-me no Facebook (já eu e ele não estávamos juntos) e eu, bem, aceitei porque, na verdade, não tinha nada contra ela. Falou comigo meia dúzia de vezes e eu respondi sempre, quis saber se ela estava bem e fui o mais simpática possível relativamente a uma pessoa com quem não tenho nenhuma empatia. Passado uns tempos, ela apagou-me do Facebook e disse a ele que não me queria lá. E eu continuei com a minha vida sem nunca mais me ter lembrado dela até, tempos depois, me ter começado a seguir no Instagram e eu, por simpatia, lá segui de volta. Até metia likes em fotos dela que achava piada. E eis que ela volta a deixar de me seguir e a ele disse que foi porque me metia likes e eu não correspondia.
É cansativo, eu sei. Mas continuem a ler porque vai vir daqui uma boa história.
Um dia, o ano passado, vou à rádio falar sobre o Vive a Tua Beleza e ela (que trabalhava lá) vem falar comigo bastante simpática, ofereceu-me um café e eu fiquei genuinamente feliz por vê-la bem. Pensei que os seus traumas contra mim tinham terminado. Afinal, já se tinham passado vários anos e, pensando bem, eu não lhe tinha feito nada a não ser apaixonar-me pelo tipo que ela gostava e ele ter-se apaixonado por mim.
– ESSA PUTA VEM CÁ À RÁDIO? NÃO A QUERO CÁ. ESSA GAJA É UMA PUTA – foi isto que, dias depois, soube que ela tinha dito quando, nessa manhã, viu o alinhamento e viu lá o meu nome.
Portanto, eu era uma puta.
E o lado mau desta história toda não é o facto de, na prática, eu nunca lhe ter feito nada. Nem é o facto de terem passado anos. É o facto de, no meio profissional, e com pessoas que me iam entrevistar e não me conheciam de lado nenhum, ela ter dito que eu era uma puta. Assim, sem mais nem menos.
A rapariga que dizia mal de toda a gente… a toda a gente
História número dois:
Há uns tempos, comecei a trabalhar com uma rapariga porque ela parecia mesmo uma pessoa divertida, aberta, de bem com a vida e bem disposta. E eu até gostava dela, apesar de ser quase 10 anos mais nova do que eu e não ter rigorosamente nada a ver comigo, nem na forma de pensar, nem na forma de ser nem na forma de estar. Mas acredito que não temos de ser todos iguais para gostarmos uns dos outros
Partilhei com ela muitas coisas de trabalho, deste blogue, ideias, projectos… E apesar de ela estar constantemente a contar-me histórias de outras pessoas com quem ela trabalhava, sempre acreditei que não o fazia por mal e nem andaria a falar de mim aos outros – porque não teria nada de mau para contar. Oh well…
O que é que acontece quando vivemos num país tão pequeno onde toda a gente se conhece? É que tudo se sabe. E as mulheres nisso são peritas em descobrir os podres mais fundos. Afinal, da mesma forma que ela me dizia mal de outras pessoas com quem trabalhava, também dizia mal de mim a essas pessoas. E como não tinha, na verdade, nada de mau para contar sobre mim, inventava.
Se calhar perguntam-se qual era o objectivo disto. Eu também me perguntei várias vezes. Mas tal como ela queria criar uma relação próxima comigo ao confidenciar-me coisas sobre outras pessoas deste meio com quem ela trabalhava, fazia o mesmo com as outras pessoas ao confidenciar-lhes coisas sobre mim. E isto até é meio perverso. Porque é calculado e premeditado.
A mim dizia-me que a pessoa X não sabia escrever e não pagava às pessoas que trabalhavam para ela ou pagava mal, a ela dizia-lhe que eu era ressabiada e estava sempre a comparar-me com outras bloggers mais giras que conseguiam marcas e eu não.
Claro que alguém que me conheça minimamente vai achar esta observação meio estúpida. Primeiro porque eu não me comparo a outras pessoas, segundo porque não comparo a beleza de ninguém e, já numa parte mais de trabalho, sou eu própria a fugir das marcas porque, como já disse mil vezes, não quero que este blogue se transforme num catálogo. Além disso, eu tenho 31 anos por amor de Deus. Não tenho idade, nem paciência, para brincar às bloggers de moda quando o que faço da vida é escrever e contar histórias.
Não interessa o motivo. Nós somos cabras mesmo assim.
Há muito em comum com estas duas histórias: estas duas raparigas foram umas grandes cabras sem motivo aparente. Sem eu lhes ter feito nada. Só porque sim. Talvez se sentissem ameaçadas por mim de alguma forma. Talvez quisessem ter um trunfo ao falar de mim.
E isto é o que menos gosto nas mulheres.
Somos umas cabras umas para as outras. Só porque sim. Só porque nos apetece. Ou porque acordámos mal dispostas. Ou porque a outra consegue vestir umas calças 34 e nós não. Ou porque ela tem dinheiro para comprar malas Michael Kors e nós não. Ou porque ela tem um namorado e nós não. Ou porque ela tem um carro bom e nós não. Ou porque ela trabalha naquele sítio tão fixe e nós temos um emprego de merda. Ou porque ela nem acabou a faculdade e nós estudámos que nos matámos e ela ganha mais do que nós.
Não interessa o motivo. Nós somos cabras mesmo assim.
Não estou com isto a dizer que sou um anjo. Que não falo mal de ninguém. Que não gozo. Que não faço juízos de valor. Claro que sim… somos todos humanos. Mas nunca faço ou digo algo que vá prejudicar directamente outra mulher por mais irritada, frustrada, triste, e invejosa também claro, que esteja.
Não sabemos a forma como as nossas acções vão ter impacto na vida da outra pessoa. A primeira, ao desabafar com os colegas de trabalho que eu era uma puta, podia ter feito com que cancelassem aquela entrevista. A segunda, ao dizer que eu vivia ressabiada a comparar-me com outras bloggers, poderia ter-me prejudicado profissionalmente caso as mentiras dela passassem de boca em boca.
A nossa ‘cabrice’ pode ter consequências graves porque não fazemos a mínima ideia do que se passa na vida das outras pessoas. E não é por prejudicarmos a vida de alguém que a nossa se vai tornar melhor.
Girl power.
Yey.
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