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Foto do escritorHelena Magalhães

Eu não os salvei. Salvaram-me eles a mim. Era uma vez 2 gatos que mudaram a minha vida


No dia 13 de Fevereiro de 2014 à noite meti-me no carro e fui ver de um gato que o meu irmão tinha visto. E é incrível os pormenores que nos ficam na memória. Não consigo lembrar-me de nada do que fiz nesse dia. Mas lembro-me como se fosse hoje do momento em que o vi. Chovia torrencialmente, estava um frio de fazer doer os ossos e ele ali estava: muito pequenino, muito peludo, muito molhado e muito assustado. Eu, que nunca gostei de gatos, dei por mim com ele no carro a tremelicar por todos os lados. Olhava para ele de lado sem saber muito bem o que fazer. Para mim, era temporário. A minha ideia era levá-lo para casa, tirá-lo da rua, até podia ficar com ele alguns dias mas o objectivo era arranjar um dono para ele. E os meus pais também não faziam grande questão. Nós éramos pessoas de cães, pensávamos nós.

Mas, afinal, ele era para nós. Ou nós para ele, nem sei. Depois de andar pela casa a explorar e a tentar conhecer o espaço, escolheu o seu sítio – a minha cama. E por lá ficou. Lembro-me daquela primeira noite. Lembro-me de acordar a minha mãe de madrugada e dizer que aquele gato tinha um problema qualquer de saúde. Lembro-me de perguntar se os gatos tinham tuberculose porque ele fazia barulhos a respirar e estava há horas assim. Lembro-me de pensar que se calhar tinha cometido um erro porque agora era responsável por ele e um gato doente era a última coisa que queria. Lembro-me da minha mãe responder: deve estar a ronronar. E lembro-me de olhar para ele na minha cama, agarrado a um boneco que lá estava e de me apaixonar por ele.



Há uma coisa que só quem adoptou um animal vai entender: os traumas que eles trazem das suas vidas antes de nós. Este gato não foi propriamente abandonado. Ele veio de uma ninhada de Seal Point Lynx Ragdoll (não faço ideia como seja o nome da raça em português) em que ninguém o quis porque tinha os olhos meio tortos e ele para lá foi ficando ao abandono, à espera que alguém o apanhasse. Pensei que tinha durado pouco tempo, mas quando fomos ao nosso veterinário percebemos que, afinal, ele já tinha, pelo menos, sete ou oito meses. E isso implica cinco meses de vida sei lá eu em que condições. Em cima de uma cama, pelo menos, sei que nunca tinha estado. Porque a sua felicidade era tal que, na primeira noite, ronronou durante horas e horas e horas. Maldita tuberculose, pensava eu.

Ao longo dos meses fui começando a conhecer realmente a fundo este gato – Eddy, que nós gostamos de nomes cool. Mas claro que não é assim que o chamo. Tal como o meu pai me chamava de Helena Isabéééééél quando eu fazia asneiras em miúda, Eddy é o nome próprio de quando ele está a asneirar. Imaginem as mais parvas variações que se possam lembrar. A minha imaginação para o chamar não tem fim. Dinho de Eddinho, pirilampinho, príncipe das trevas (não me perguntem porquê), meu rei (quando ele está a ser realmente fofinho), Edico pardalico (não sei explicar) e a lista continua. E ele responde a todos. Ou só responde à minha voz porque sou a pessoa dele.

Lembro-me da primeira vez que senti o amor dele. Tinha-o deixado no veterinário para ser esterilizado dois ou três meses depois de o ter. E quando cheguei, disseram-me que ele era um gato tão doce e fofinho que tinha andado no colo de toda a gente. Qual orgulho de mãe que vai à escola ouvir elogios do seu filho, fiquei ali de peito inchado a acenar com a cabeça que sim, ele era mesmo um gato dócil. Quando o vi a chegar ao colo do enfermeiro e comecei a chamar pelo meu Dinho, só tive tempo de o apanhar porque ele voou para o meu colo, agarrou-se ao meu pescoço tal e qual um bebé abraçado ao pescoço da mãe e ali ficou, colado a mim sem querer que o largasse para nada. Emocionei-me com isto porque, sei lá, este gato pateta e meio parvo, afinal, gostava mesmo de mim.

Conhecê-lo e viver com ele também implicou compreendê-lo. Este gato tem medo de tudo o que possam imaginar. Pessoas novas? Tem medo. Árvore de Natal? Tem medo. Sacos das compras? Tem medo. Sapatos? Tem medo. Banho? Só tentei uma vez. Campainha? Tem medo. Som do telefone? Tem medo. Pessoas na rua? Tem medo. Gosta de as observar à janela. Mas se falam alto tem medo. Brinquedos novos? Tem medo. Aspirador? Tem medo. Esfregona? Tem medo. Se um dia um ladrão entrar por esta casa dentro ele é, sem dúvida, o primeiro a fugir de medo.

E o que é que aconteceu quando a Tita apareceu na nossa vida? Claro, ele teve medo.

Eu achava que este era um gato único mas apaixonámo-nos os dois pela Tita

Eu sempre achei que os gatos eram animais parvos, independentes, que bufam, sobem aos cortinados, arranham e têm o diabo no corpo. Quão errada eu estava, eu sei. Mas a minha parca experiência no convívio com felinos fez-me ter esta ideia durante muito tempo. E cheguei a pensar que o Eddy era um caso raro, um gato medricas por natureza, doce, carinhoso, que sobe por mim, deita-se no meu peito, coloca o focinho no meu pescoço e dorme na minha almofada.

Mas isto até aparecer a Tita antes do Natal, em 2015. E já há algum tempo que pensava em arranjar uma companhia para o Eddinho porque talvez isso o arrebitasse, o tornasse menos dependente de mim e até menos medricas. Falaram-me numa senhora que tinha comprado uma gata mas precisava de lhe arranjar um dono porque ela não se tinha dado com os seus gatos. Sendo o Eddinho tão pachorrento, pensei que talvez se desse bem com esta gata. E lá fui eu buscá-la sem nunca a ter visto na vida. Posso dizer que não me apaixonei assim à primeira vista, como foi com o Eddy. Ela era minúscula, persa tartaruga – soube quando a vi – e a ideia era fazermos um teste e ver se ela se adaptava a nós. Talvez por isso, eu tenha mantido uma distância emocional. Mas mal a viu, o Eddy escondeu-se no meu quarto e não saiu durante dois dias, não obstante as tentativas da Tita em se aproximar.


Há uma coisa engraçada que nunca pensei vir a viver. Não são só os gatos de rua que vêm com traumas. A Tita veio de outra casa e com muitos mais problemas dentro dela que o Eddy. Na altura não sabia mas iria demorar mais de um ano até ela estar verdadeiramente adaptada. Mas já lá vamos.

Ao fim de dois dias, a curiosidade ganhou ao medo. E o Eddy começou a sair do quarto para a ver. Não consigo explicar a euforia. Vê-lo ali a rastejar pelo chão em pânico mas a querer conhecê-la foi mágico. Mas a Tita veio com muitos traumas e hoje em dia acredito que a vivência na antiga casa dela talvez não tenha sido a melhor. Não tenho fotografias dos primeiros tempos dela porque ela simplesmente não se deixava fotografar. Durante meses não se deitou na minha cama nem sequer se aproximou. Enquanto o Eddy dormia comigo, ela ficava no tapete. Tinha medo quando a agarrávamos, não deixava que lhe dessem festas. Não é que ela fizesse alguma coisa porque é meiga, mas miava, chorava e encolhia-se toda de medo. Cheirava-nos as mãos mas se déssemos um qualquer sinal de que lhe iríamos tocar, afastava-se em medo. O meu pai dizia que ela era uma gata carinhosa mas independente, daquelas que não quer saber dos humanos para nada mas, na verdade, eu não acreditava nisso. A primeira vez que ela subiu para a minha cama (provavelmente uns seis meses depois de estar comigo) e veio até mim, eu chorei de alegria. Porque foi, para mim, um sinal de que finalmente ela se estava a adaptar.

E foi o que aconteceu mas muito gradualmente. A primeira vez que amassou a minha barriga, gritei de felicidade e ela deu um salto e foi embora. Mas depois voltou. A primeira vez que veio dormir a meio da noite para a cama, fiquei ali congelada sem me mexer para não a assustar. A primeira vez que me deixou dar uma festa sem se encolher de medo, quase que chorei. Durante mais de um ano, houve muitas e muitas primeiras vezes e todas elas foram mágicas.

Quem a vê hoje em dia não consegue acreditar que nunca foi assim. Talvez o facto ter vindo viver sozinha e os ter trazido comigo fortaleceu ainda mais a relação deles comigo. A gata que ficava horas isolada numa divisão porque não queria estar ao pé de ninguém, agora segue-me por todo o lado. Se estou a trabalhar no sofá, deita-se ao meu lado. Se estou na secretária, deita-se à janela. Dorme na minha cama, já pede carinho, deita-se em cima da minha barriga a dormir e longe vão os dias em que parecia gelatina quando lhe tocava.

E claro que também ela tem um rol de nomes. Ela não se chamava Tita. Era Mia. Mas eu disse logo que Mia não iria ficar porque não me soava bem. O nosso veterinário disse que ela tinha de se chamar Chanel ou Gucci e rimos muito porque, sou honesta, acho meio estúpido quem dá aos animais nomes de marcas de luxo. Na altura eu disse: é apenas uma gatita. E foi daí veio o Tita com as suas diversas variações conforme os estados de espírito. Desde Tita Pardalica a sardanisca (porque ela é mesmo minúscula) e, o mais normal do dia a dia, “minha Tita”. Como se o “minha” também fizesse parte do nomes dela. Onde está a minha Tita? É mais ou menos isto ehehe.

Viver com um gato com uma doença crónica e fazer tudo pelo seu bem-estar

Quem me segue já teve a oportunidade de ler as pequenas coisas que partilhei sobre a doença dela. Quando a trouxe para minha casa, a Tita vinha com os olhos inflamados. Na altura não liguei, li que os persas deitavam muita secreção e fui limpando e desinfectando mas não melhorava. Levei-a, então, ao nosso vet. E foi quando soube que a Tita tem uma doença crónica e estava então explicado porque razão a antiga dona não a queria. Era impossível não se dar com os gatos dela porque esta gata é a coisa mais meiga que vi na vida e, sim, é muito mais carinhosa que o Eddy. Esta foi provavelmente a desculpa que a antiga dona deu quando eventualmente percebeu que ela tinha um problema de saúde. Foi nessa altura que me apaixonei por ela. E foi nesse dia que soube que de minha casa ela nunca mais ia sair.

Basicamente, o organismo dela não consegue combater as bactérias do ambiente o que a deixa vulnerável e frágil. O que acontece é que, em crises, fica com as orelhas, olhos, nariz e queixo em carne viva e parte o coração vê-la assim. Foram longos meses e meses de tratamentos até termos, finalmente, conseguido chegar a um pequeno milagre: uma medicação que, até ver, está a conseguir controlar estas crises. Mas isto também significa que, além de uma medicação diária, tenho de lhe colocar de manhã e à noite um óleo próprio nas zonas mais propensas a infectar. E vamos andando em corda bamba, com alturas melhores e outras piores, com pequenas crises que vamos conseguindo controlar e com uma grande dose de paciência – principalmente dela – para lidar com isto tudo.

Quando me dizem: salvaste dois gatos. Não, eles é que me salvaram a mim. Porque me estão a deixar viver com eles, aprender a amar com eles e a ser um bocadinho mais feliz. Vê-los a correr à minha volta quando chego faz-me ter vontade de vir a voar para casa. Acordar com eles a esfregarem-se na minha cabeça faz-me não ficar chateada por não me deixarem dormir. Estar no sofá com os dois em cima de mim, faz-me perceber que não fui eu que os escolhi, foram eles que me escolheram a mim.


No dia dos namorados, namorem com os vossos filhos de quatro patas 🙂 Como me estão sempre a perguntar de onde são os brinquedos e acessórios que mostro no Instagram, vai começar a feira Pet no Jumbo onde podem encontrar algumas dessas coisas. Andei a fotografá-los na última semana e mostro-vos a minha casa felina. Convido-vos ainda a fazerem parte do Pet Club do Jumbo (nós já somos membros) que é um site com promoções exclusivas, curiosidades sobre os animais, uma área de “dating” (para quem quer fazer criação), passatempos e até se pode colocar questões e os veterinários respondem 🙂 Podem inscrever-se aqui.


Claro que num primeiro impacto, o Eddy teve medo deste brinquedo. Mas mal viu a Tita a brincar e percebeu como funcionava, começou também a brincar 🙂 É um estimulante até porque os incentiva a apanhar a bola. É este aqui mas eu não montei o passarinho porque o Eddy tem tendência a comer penas.


Este já é o terceiro “arranhador” que temos. O primeira tinha uma base em cima e era da altura em que só tínhamos o Eddy mas ele é tão grande e pesado que o partiu. Depois tivemos outro que desmontei e fiz um arranhador grande e está aqui no hall de entrada. E este, pelos vistos, como tem um rato pendurado, eles gostaram (é este aqui mas podem ver muitos outros aqui).


Esta ovelha tem de um lado um arranhador e, do outro, o buraco. Mas só a Tita lá cabe e, então, esconde-se debaixo da ovelha e, pelo buraco, brinca com o Eddy que fica de fora a olhar para ela.


Este é o cestinho dos brinquedos deles. Às vezes, quando acordo de manhã, está todo virado porque durante a noite foram lá buscar brinquedos. Agora tem dois brinquedos novos que ainda não abri (porque gosto de lhes dar coisas novas de forma gradual tal e qual uma mãe responsável com os seus filhos hihihi) e o Eddy anda sempre lá de volta deles super curioso. O que ele estava a cheirar é este aqui.


Este é o armário na cozinha que tem as coisas deles. O Sanicat foi a melhor coisa para limpar o chão que descobri porque é um detergente que elimina todas as bactérias e reduz o efeito das alergias aos gatos. Tem uma fórmula hipoalergénica com pH neutro especialmente indicado para casas onde um dos membros tem alergias. Podem ver mais aqui e há também vários aromas. 




Tive de comprar um destes tapetes (nem sabia que existiam) porque eles espalham-me areia por toda a casa. Eu sei que devia ter duas casas-de-banho para eles mas, felizmente, consegui habituá-los a usarem a mesma mas tive de trocar aqueles caixotes pequenos por esta casa-de-banho mansão. A nossa já é velhinha mas comprei também no Jumbo o ano passado e é esta aqui. E os Catisfaction são os doces favoritos dos dois – podem ver todos os sabores aqui 🙂 A Tita agora como está a fazer o tratamento a longo prazo e troquei toda a alimentação dela para hiopalergénica, já não pode comer estes doces. O Eddy agradece que fica tudo para ele.


Os animais são a melhor coisa do mundo para se ter em casa, uma companhia que torna a nossa vida mais rica e feliz. Por favor não comprem. Adoptem. 

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