Parece-me que todos os meus antigos colegas de escola e de faculdade estão literalmente a deixar sementes por este mundo fora. E todos os dias no Facebook sou bombardeada com todas estas lembranças de como o tic-tac não para. Não é que os inveje – longe disso. É até bastante engraçado ver como todos percorremos caminhos diferentes em prol de um único objectivo: a felicidade. E, no final do dia, esse sentimento de plenitude chega até nós de diferentes formas e não temos de percorrer loucamente os padrões que vemos nos outros.
No outro dia, uma leitora enviou-me um email (depois de ter lido o Diz-lhe Que Não) e disse-me que sentia que depois dos 30 era muito difícil manter amizades quando toda a gente começa a casar, a fazer vida a dois e a desaparecer para o resto do mundo porque conviver com os solteiros é – para eles, claro – uma grande merda. Não podem falar de bolos de noiva, nem de fraldas, nem de doenças infantis, nem de gravidez, nem de inscrições em creches, nem de subsídios pré-natal… E, para eles, estamos todos – coitados de nós – aqui parados no limbo à espera de embarcar na viagem da vida a dois e poder usufruir da felicidade plena e satisfatória que todos eles vivem e que nós – os solteiros, coitados – desconhecemos.
Eis o que aprendi enquanto toda a gente está a casar e a parir:
1.
Nunca, nunca, nunca vou fazer parte daquele grupo de pessoas que estão apaixonadas e perdem a noção das coisas e do que devem ou não partilhar. Fotografias das alianças? Não. Da barriga? Não. Dos pezinhos na água na lua de mel? Não. Dos mil problemas da gravidez? Não. Da ecografia da gravidez? Não. Do umbigo que caiu podre com a molinha azul? Estou a brincar. Mas não. RIP redes sociais.
2.
Nunca vou ter esta necessidade absurda de corresponder a um padrão da sociedade, daquilo que temos de fazer a seguir. Se já acabámos a faculdade, se já temos trabalho, está na hora de casar. Não interessa com quem – o importante é dar o próximo passo. E eu sei que isto pode soar um pouco azedo mas, acreditem, conheço imensa gente exactamente assim. Então, o comentário que mais vezes dou por mim a fazer é: “vai casar? Mas estão juntos há meia dúzia de meses” ou “está grávida? Mas estão juntos há meia dúzia de meses”. É a proliferação deste sentimento de urgência e pânico, uma espécie de FOMO (fear of missing out), não das redes sociais mas de juntar os trapinhos e casar urgentemente que parece atingir toda a gente a partir dos 30.
3.
Não tenho um desejo propriamente gritante de me casar. Passei grande parte da minha vida em relações e pseudo-quase-relações. E depois de praticamente 10 anos (18-28 anos) a saltar de telenovela em telenovela sem pausas pelo meio, simplesmente deixei de ter energia para continuar neste rol de histórias que deram um livro, é verdade, mas também me deixaram com uma bagagem enorme espalhada pela casa. Então, estou solteira há três anos por escolha minha. Deixei de ter vontade de namorar só pelo desejo absoluto de ter alguém. Porque esse desejo também vem acompanhado de drama, desilusões e mágoas. Talvez de acordo com o cinema, a cultura popular e as músicas de amor, eu deveria chorar todas as noites e questionar os meus gatos porque razão continuo sozinha enquanto toda a gente à minha volta está a casar mas, na verdade, estou mais ocupada a viver a minha própria vida do que estar numa ânsia absurda em encontrar alguém dê por onde der. Quando esse alguém aparecer, fixe. Mas ele também tem de estar ocupado a viver a sua própria vida e não obcecado em encontrar uma mulher – de modo a que eu não seja a primeira que apareceu. Não quero ser o bote salva-vidas de ninguém. É que vou furar facilmente…
4.
Nunca me vou guiar pelo barómetro de felicidade da vida dos outros. Isto não é um jogo, por amor de Deus. Não está a acontecer a toda a gente menos a nós. Não devíamos ter ficado com a pessoa X que gostava tanto de nós porque, pelo menos, não estaríamos sozinhos agora. E não, não vamos ficar sozinhos para sempre. As pessoas encontram-se no timing certo. Acredito que estamos todos a caminhar uns para os outros. Há quem se encontre mais cedo, há quem se encontre mais tarde.
5.
Muitas das relações virtualmente maravilhosas que vemos são uma fachada para vidas de merda. Muitos dos colegas de trabalho com vidas perfeitas no Facebook sentem-se mais sozinhos que nós – coitados, os solteiros. Uma relação não valida rigorosamente nada na nossa vida. Não nos torna melhores ou piores. Não temos um problema por estarmos solteiros e termos 20, 30 ou 40 anos – bem, se forem como o Fascista Sexual têm, sim, de facto um problema.
6.
Não faz mal sentirmo-nos sozinhos de vez em quando. Nos jantares de amigos. Nas fotografias de grupo em que somos a pessoa solteira sentada no braço do sofá. Nas noites de sábado em casa a ver televisão porque toda a gente está num plano qualquer perfeito a dois. Nos cinemas ao domingo quando a nossa amiga leva o namorado, eles usam o cartão MEO para ter desconto e nós temos de pagar o bilhete completo. Nas raras vezes em que vamos a uma discoteca e todas as amigas casadas nos querem arranjar um homem à força e qualquer um para que olhem parece perfeito para nós. Nos almoços de família quando nos perguntam “entãããããããão, já encontraste alguém?” Há mil e uma situações em que nos podemos sentir sozinhos e isso não nos torna desesperadamente desesperados por casar.
Faz-nos, sim, perceber que temos emoções, que estamos abertos à vida e ao amor. Faz-nos perceber que ansiamos mais por um companheiro com quem partilhar a vida e não tanto alguém para nos fazer mostrar ao mundo que, afinal, não temos um problema. Faz-nos perceber que queremos um amor, mas não precisamos dele para atingir um qualquer Nirvana da felicidade que desconhecemos por completo porque – coitados – estamos solteiros.
Nenhum de nós está do outro lado da vedação a ver a vida perfeita dos casados passar, eternamente à espera de uma alma caridosa que repare em nós.
Então, enquanto todos os meus amigos estão a casar e a ter filhos… eu estou simplesmente a viver a minha vida da melhor forma que a sei viver. E isto, sim, é felicidade.
FYI: pijama e roupa de cama do Jumbo Moda.
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