Um dia destes na aula de hidroginástica conheci uma rapariga e, porque aquelas aulas são mais conversa que exercícios, acabámos a falar de Tinders e Happns e relações e homens e afins. Não é defeito, é feitio. E ela contou-me uma das histórias mais bizarras que ouvi nos últimos tempos. E eu já ouvi muita coisa, acreditem.
Então começa assim: ela tem uma amiga que andava feliz da vida a sair com um tipo que tinha conhecido e de quem até estava a começar a gostar. Era um tipo giro, cheio de pinta e uma boa conversa. E não é que a relação estivesse assim tãããão assumida, entendem? Mas as coisas são como são. As pessoas deixam fluir e vão confiando. Porque, na verdade, é assim que tem de ser. Umas vezes corre bem, outras corre mal. Até que um dia a amiga dá por ela num chat de whatsapp com mais nove ou dez outras mulheres e ele larga a bomba: apanhei a doença X e foi uma de vocês que me pegou, por isso vejam quem é que também está infectada e peço desculpa por qualquer coisa.
Não sei se foi bem assim, mas foi assim que ela me contou. Eu dei uma gargalhada enorme. Pensei que ela estivesse a gozar. Mas depois ela garantiu que era verdade e eu disse: foda-se, que idiota. Idiota por vários motivos. Por andar na cama com várias sem protecção, por enganar, por mentir e, no fim, por nem sequer se dar ao trabalho de falar individualmente com cada uma.
Isto pode ter piada, eu sei. Mas porque não foi connosco. Ela disse-me que amiga estava mal com isto tudo. Porque não é só a nossa auto-estima que fica na merda. É também a nossa capacidade de confiar e, no final do dia, de amar.
E no fim desta história toda só retiro uma coisa: grande parte dos homens (e mulheres, claro) que andam por aí a dar desculpas para serem uma merda de pessoas e a saltar de relação em relação como se nada fosse, não são inatingíveis ou descontentes ou eternos insatisfeitos. São, na verdade, pessoas sozinhas sem capacidade de se abrir aos outros.
Já cantava o Mike Posner “And I can’t keep a girl, no / Cause as soon as the sun comes up / I cut them all loose and work’s my excuse / But the truth is I can’t open up”.
É por isso que não consigo ter empatia e fico mesmo intolerante a homens cheios de parlapiê. É tudo demasiado pomposo, demasiado fabricado e demasiado falso.
Há uns tempos fui fazer um trabalho e, entre as pessoas, estava um tipo com quem nunca tinha trabalhado ou estado. E já aconteceu estar em trabalhos com pessoas que mal falam, são demasiado formais, é tudo demasiado chato e as horas demoram a passar porque as pessoas não saem do seu modus operandi profissional e querem manter uma certa distância. A verdade é que ele era efectivamente divertido e soube rapidamente cortar o gelo com toda a gente.
Mas a coisa descambou. Ele passou rapidamente de um profissional de fácil trato a um tipo que está a chamar “malandra” e “gostosa” às mulheres com quem está a trabalhar há duas horas e que não conhece de lado nenhum.
E o que é que isto significa? Nada. Provavelmente ele até estava a ter piada. Eu é que não gosto (nem nunca gostei) de homens espalha-brasas e fico mesmo com comichão. Porque isto requer prática. Não é só uma questão de personalidade. E um tipo que chega a um trabalho, não conhece ninguém e já está a fazer comentários engraçados e sexuais e a cantar “vai malanda”, deixa de ter piada e chega a roçar o inconveniente. E sempre que ele garantia que tinha namorada, como se isso fosse um qualquer troféu, eu já só revirava os olhos e dizia para mim: sê simpática Lena, sê simpática.
A verdade é que também sou uma pessoa que não dá muita confiança aos outros. Não tenho a postura do flirt porque não tenho paciência (nem necessidade) para isso. E gosto de homens que se dão a conhecer, que partilham experiências, que criam empatia com os outros, que querem acrescentar qualquer coisa mais e não de homens que só sabem ter este tipo de conversa de discoteca ao sábado à noite totalmente fora do contexto.
Nesse mesmo trabalho estava outro tipo que era o oposto: um tipo calado, profissional, discreto, que estava a fazer o que tinha para fazer e, nos tempos livres, conversava sobre coisas do dia-a-dia, partilhou algumas experiências de outros trabalhos, deu-me dicas relativamente a este meio e como criar um negócio, vendendo por minha conta.
Não falou da vida pessoal, não faço ideia se é casado, sem tem namorada ou filhas ou se é gay. Não fez comentários, não se armou em chico-esperto e foi simplesmente um tipo simpático e profissional com quem se cria boa empatia e se espera voltar a trabalhar.
Então o que é que tenho para dizer com isto? Nada. Só queria mesmo contar estas duas histórias que têm um gancho em comum: fujam dos tipos demasiado pintarolas e cheios de lérias. Servem para rir e para depois contar uma história engraçada às amigas. Mas não servem para nos apaixonarmos por eles.
Comments