Como já tinha contado, nunca tive um interesse muito grande pela moda do Hygge e do Lagom porque são modas culturais e é difícil colocá-las em prática na nossa realidade. Mas gosto quando me surpreendem e me fazem dizer: se calhar, isto vale a pena. Que foi o que me aconteceu quando comecei a folhear este novo Lagom de Niki Brantmark da editora Planeta. Em Portugal já foram lançados nos últimos meses, se não me engano, outros três Lagom de autoras e editoras diferentes. Li por alto um deles e não me interessei muito mas achei a abordagem de Niki interessante porque ela não é sueca. Inglesa, mudou-se para a Suécia há 10 anos e foi quando se apaixonou pela cultura “Lagom”: trata-se de desacelerar, de aproveitar o tempo e de simplificar a vida. E o que ela propõe é exactamente uma forma de uma pessoa estrangeira – como ela – conseguir adaptar estes conceitos à sua própria vida e cultura. Ou seja, nós.
Lagom significa algo como “no ponto”. Assim, a água do banho pode estar lagom. Podemos trabalhar uma quantidade lagom. Estas calças assentam de forma lagom. É uma palavra que se pode usar em quase todos os contextos e aplicada ao trabalho, ao lazer, à família, às relações, à casa, à beleza, a tudo.
Como não vou estar a replicar o livro – e teria de replicar 300 páginas – vou deixar aqui alguns conceitos que eu gostei particularmente e que espero que vos incentivem a levar este livro para casa. É também um bom livro para se ter na mesa da sala, para se folhear e estudar de tempos a tempos e tem ilustrações e fotografias bonitas de inspiração e todos os temas têm dicas práticas e exemplos de do it yourself para por em prática.
Em casa…
– Os suecos odeiam ter coisas atafulhadas e isso significa que não se tem a casa (e a vida) organizada. Uma das palavras de ordem é não acumular e se demora mais de cinco minutos a encontrar algo que procura é um sinal de que necessidade de desatafulhar.
– Novo não é necessariamente melhor. Isto significa que a melhor forma de decorar a casa é misturar móveis e encontrar o equilíbrio entre o novo e o velho, o vintage e o moderno. Acho que a minha corresponde a esta descrição. Tenho uma casa lagom.
– Os suecos também são engenhosos e apostam em grande neste conceito criativo de reutilizar e criar coisas a partir de outras coisas.
– E usar sapatos em casa está proibido. Mesmo quando se dá jantares em casa, os sapatos de todos os convidados ficam à porta e ninguém acha isto estranho. Toda a gente convive de meias. Já quero incutir isto na minha vida.
No bem-estar…
– Relaxar é tão obrigatório no dia-a-dia como trabalhar, comer ou dormir. E uma das coisas que os suecos veem como fundamental é dormir bem. E aquilo que fazemos antes de dormir é essencial para o descanso. Ou seja, perseguir ex-namorados no facebook ou ficar a ver instagrams na cama dificulta um sono pleno e contribui para a ansiedade. E também recomendam que se evite o uso de qualquer ecrã durante cerca de uma hora antes de ir dormir. Bye bye séries da netflix na cama. Eles recomendam ler um livro, ouvir música, tricotar, bordar, colorir e estar com a família e animais.
– O mergulho matinal é fundamental para o bem-estar. É a única coisa necessária para acordar e estar-se preparado para o dia. Quem não está perto do mar ou do rio, eles sugerem um duche diário com água fria. Brrr não sei se terei coragem de experimentar.
– A natureza é uma das formas simples de viver em bem-estar. Para os suecos a vida não se vive longe da natureza. Caminhadas, piqueniques, passeios na praia, campismo, andar de bicicleta… tudo o que nos faça passar tempo ao ar livre é uma boa opção.
Na felicidade física…
– Lagom também significa comer com moderação, o que na nossa cultura pode ser difícil de conceber porque adoramos comer. Mas não é à toa que eles estão no topo do ranking dos países com mais alta esperança média de vida. A dieta nórdica é considerada das melhores do mundo, boa para o coração e para a cintura.
– O exercício físico faz parte da vida sueca mas não necessariamente na forma que nós a vemos: ginásios e corridas. Eles sugerem outras formas de incorporar o exercício no dia-a-dia: ir para o trabalho de bicicleta (quando possível), estacionar o carro no fundo do parque para se andar mais, usar as escadas em vez do elevador, ficar em pé em vez de se sentar e andar e conversar em vez de estar sentado no café.
– Os suecos são adeptos de roupa simples e prática, o que talvez seja difícil de implementar na nossa realidade consumista. No livro, Niki mostra como ter um guarda-roupa minimalista.
No sucesso…
– Madrugar (oh meu Deus!) é a palavra de ordem. E esta para mim parece-me difícil de conseguir por em prática.
– Fazer pausas. Tão simples quanto isso. A fikapaus é uma pausa para tomar café e comer qualquer coisa, para conversar um pouco, para relaxar. E isto é obrigatório no conceito sueco de sucesso e aplica-se em todas as empresas. Por os pés em cima da secretária de vez em quando faz todo o sentido porque ser-se produtivo só é possível quando se tem a mente (e o corpo) fresca.
– Não temos de trabalhar vinte e quatro horas. Para os suecos é obrigatório chegar a casa e desligar. Ou seja, sem ver emails, sem falar com os colegas no facebook, sem telefonemas, sem pensar no que há para fazer no dia seguinte.
E que mais?
Isto é apenas uma décima parte do que o livro tem. Podem encontrar o guia lagom para a amizade, como receber amigos em casa, encontrar o equilíbrio nas relações, o casamento lagom, o guia lagom para ser pai, a abordagem lagom aos brinquedos, incentivar as crianças a estar ao ar livre, viver de forma lagom durante as celebrações como o Natal, como respeitar a natureza, reciclar, poupar energia em casa e até reduzir a nossa pegada no mundo.
É um livro que se lê muito bem de uma assentada. Eu li-o em meia dúzia de dias e fui marcando páginas e páginas e, no fim, já tinha umas oitenta páginas marcadas de coisas que quero guardar, reler e tirar notas.
Lagom de Niki Brantmark, Editora Planeta.
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