Este é um dos temas que vejo mais gente queixar-se: a falta de inspiração que por vezes nos assola e nos impossibilita de debitar uma linha sequer. Não é que eu seja um expert mas a escrever diariamente há mais de cinco anos, muitas vezes sobre temas completamente diferentes, tenho algumas técnicas que utilizo quando estou bloqueada. A falta de inspiração e ideias é perfeitamente normal, está tudo relacionado com o nosso estado de espírito, com o nosso dia-a-dia e até o facto de termos dormido, ou não, uma boa noite de sono.
Há quem defenda que os bloqueios não são propriamente falta de inspiração mas sim vazios emocionais. O que, neste caso, significa que apenas nos temos que voltar a encher. Tal como nos obrigamos a sair da cama, a tomar banho e a ir trabalhar – porque tem de ser – o mesmo se diz do acto de escrever.
Como combater a falta de inspiração
Leiam. Samuel Johnson diz que a maior parte do tempo de um escritor é passado na leitura, para depois escrever. E este é o meu conselho #1 exactamente porque funciona. Sempre que leio qualquer coisa – um conto, um livro, um artigo na internet – acabo por ter ideias. Ou a ler um artigo lembro-me de um tema, ou há frases que despertam qualquer coisa em mim. Escrevam as vossas ideias. Eu ando sempre com cadernos nas malas e escrevo lá tudo. Escrevo coisas que as pessoas me dizem e, de qualquer forma, têm algum significado, escrevo frases de livros que quero guardar, escrevo histórias pessoais que as pessoas me contam e sinto que, um dia, vou querer lembrar-me dessa história. Tenho cadernos e cadernos de coisas escritas, coisas que nunca usei, coisas que, ao ler agora, já não sei o que significam, coisas que já não fazem sentido mas são tudo ideias, palavras, frases, coisas que li. E todas elas contêm em si infinitas ideias.
Tenham marcadores sempre convosco. Eu não gosto de riscar livros, por isso marco todas as páginas onde leio qualquer coisa que quero guardar. Isto é útil para quem costuma ler em movimento (por ex, no comboio ou no metro) e não tem tempo para pegar no caderno, na caneta e ficar a escrever. Marquem simplesmente as páginas e, no fim do livro, tirem meia hora para escrever todas as frases que marcaram.
Usem o telemóvel. Que é como quem diz: há lá uma aplicação chamada notas, onde podem anotar tudo o que quiserem. A minha tem mais de 100 entradas de coisas completamente dispares. Desde contactos que queria guardar, a frases, a palavras que ouvi, a livros que vi e que quero explorar mais tarde, a ideias que pessoas me deram. Ou mesmo coisas que sonhei e, quando acordo, quero escrever imediatamente e não tenho tempo de estar a pegar numa caneta e num caderno.
Deixem as ideias marinar. Muitas vezes, ando de volta de uma ideia mas não me sai bem. Às vezes significa apenas que não estou no timing certo de escrever. Nessas alturas, normalmente, pego noutra ideia. E já me aconteceu acordar de manhã e a ideia que há dois dias não conseguia desenvolver, flui agora naturalmente.
Isolem-se. Para quem precisa obrigatoriamente de debitar qualquer coisa que não está a fluir, isolem-se. Não significa que têm de sair do escritório ou fechar a porta do quarto e deixar os vossos filhos à solta em casa. Comigo funciona bastante bem colocar os headphones nos ouvidos e simplesmente desligar-me do que está a acontecer à minha volta. Por vezes, estou a escrever em cafés mas é como se estivesse completamente sozinha porque o mundo acontece à minha volta e eu nem dou por ele.
Falem com pessoas. Eu falo muito e partilho o que estou a fazer com os meus amigos de mais confiança. Às vezes, coitados, eles não têm interesse nenhum no tema de que preciso de falar (eu obrigo-os a fazer brainstormings involuntários) mas, depois de ouvir as suas ideias, acabo por conseguir organizar as minhas.
Não procurem seguir uma lógica. Tive uma colega de trabalho que começava a escrever todos os artigos pelo início e dizia que não entendia como é que eu conseguia organizar um tema se começava a escrever à toa. Mas eu gosto de deixar fluir. E nunca, nunca, nunca começo a escrever nada do início (nem artigos, nem textos, nada). Simplesmente começo a escrever e a por a ideia no papel e, à medida que as frases se começam a acumular, aí sim, começo a ver a sua organização.
Agora que chegaram ao fim, eu não escrevi este post do início nem da forma como o leram. Na verdade, comecei com algumas das minhas sugestões e fui juntando tudo.
Não parem de escrever só porque estão sem inspiração nem fiquem dois dias em autocomiseração e a arranjar desculpas para vocês próprios. Leiam, escrevam tudo o que tem significado para vocês, discutam com amigos, falem com pessoas, ouçam o que têm para vos dizer. Esta é a melhor forma de, partindo do principio que estão vazios, se voltarem a encher. 🙂
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