Há uns anos tive a sorte, e o privilégio, de entrar num projecto fantástico e que mudou a minha forma de ser, de pensar, de agir e, claro está, a minha vida. Era um projecto da Rede Portuguesa de Jovens para a Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens e onde aprendi a pensar na condição feminina como igual e a comunicar, para o mundo, esse empowerment e a necessidade de Portugal reconhecer a mulher como igual (ou como eu gosto de dizer, a brincar, melhor!) ao homem.
Isto pode não parecer nada de especial. No nosso dia-a-dia, até somos levadas a crer que já atingimos a igualdade, que somos reconhecidas como poderosas, as mulheres já lideram empresas, algumas das pessoas mais influentes do mundo são mulheres, na nossa rotina diária não nos sentimos discriminadas, já podemos falar de sexo à vontade, podemos usar mini-saias e vestirmo-nos como bem nos apetecer… A vida passa e vamos a ver e estas são questões tolas vindas de feministas extremistas agarradas a uma causa obsoleta nos dias de correm.
Acreditam mesmo nisso?
Há umas semanas, estive num grupo editorial que me fez uma proposta para trabalhar lá e eu até estava interessada, apesar de não me identificar pessoalmente com a publicação em si, porque iria aprender mais sobre o meio editorial e a realidade noutra empresa. Fui entrevistada por duas mulheres (da parte da direcção) que me questionaram se tinha filhos. Não, não tenho, respondi. Ainda bem, porque não queremos mulheres com filhos. Faltam muito, disse-me uma delas. Eu, uma mulher, fui discriminada por outras duas mulheres, mais velhas e certamente com filhos. Porque elas consideraram, à priori, que, se tenho filhos, sou menos válida para a posição do que outra mulher sem filhos e, claro está, menos válida que um homem. Porque um homem, tendo ou não filhos, não vai faltar taaaaanto quanto eu faltaria se tivesse filhos.
E como é que duas mulheres, que discriminam outras mulheres, escrevem e lideram uma publicação para mulheres? Ainda agora estive a ler a Margarida Rebelo Pinto numa crónica para a Flash Vidas com conselhos amorosos para mulheres que, a existirem realmente, não as coloco numa faixa etária acima dos 20 anos. E isto vindo de uma escritora que diz que quer resistir ao machismo e disse numa entrevista, passo a citar, ‘o folclore feminista irrita-me imenso, acho uma coisa foleira, démodé‘.
Entre os vários conselhos do artigo, ela diz que:
– Não devemos dizer a um homem que gostamos muito dele porque vai assustar-se. Devemos é elogiá-lo, mimá-lo e mostrar-lhe que nos preocupamos.
– Os homens são muito complicados, trabalham muito e, às vezes, não têm tempo para nos telefonar. Por isso, se eles se ausentam, não lhes devemos cobrar os dias de silêncio.
– Nunca, em circunstância alguma, devemos propor fazer uma viagem longa porque ele vai achar que já estamos a pensar numa lua-de-mel.
Como é que uma escritora que, nas entrevistas, defende a liberação da mulher escreve estas ideias? Eu ainda conseguia imaginar este tipo de conselhos numa revista juvenil para um público feminino adolescente mas apenas isso.
Como é que a imprensa feminina em Portugal vai avançar se continua a aceitar, de cabeça baixa, a propagação deste tipo de conteúdos e se continua a discriminar a própria mulher?
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