Há um fenómeno de agências altamente estúpido na nossa sociedade – as agências de modelos que depois pedem pessoas reais para publicidade. Queremos pessoas gordas, magras, altas, baixas, bonitas, feias normais e reais, disseram-me. Mas eu não sou modelo, reforcei. Sou fotogénica mas apenas isso. Porque num cenário, não tenho jeito nenhum. Eu rio-me, faço caretas, fico toda torta e a única coisa para que, na verdade, tenho jeito no que toca a fotografia é para ser eu própria. Daí que num blogue acho que funciona.
Adiante, quando cheguei à agência para me fazerem a inscrição enquanto pessoa real (e por real eu concebo uma pessoa banal, normal, singela, familiar, ordinária, comum, corriqueira, trivial… mais adjectivos?), analisaram tudo em mim ao pormenor. O perfil, o queixo, os olhos, as medidas entre os olhos, se a minha medida entre a boca e o queixo era simétrica, se isto, se aquilo, os dentes, as orelhas, os braços, as mãos, as unhas, o cabelo… Fiquei ali de pé em frente a uma câmara a pensar que se haviam enganado e eu estava no grupo dos modelos de alto gabarito e de seguida iam por-me ao lado da Sara Sampaio. Isto é o grupo das pessoas reais?, perguntei. Obviamente, responderam-me. Obviamente, pois claro, duhhhh!
Estas agências são a coisa mais tóxica que existe neste meio. E aconselho toda a gente, real ou não, que não saiba lidar com o escrutínio de um grupo de pessoas, que estão ali a cochichar e a olhar-vos de cima abaixo, a não meter lá os pés. Porque vão analisar-vos ao pormenor, vão fazer-vos sentir como se estivessem nus no meio de uma multidão e, de seguida, vão abanar a cabeça e dizer-vos que, afinal, são mais feias que as pessoas reais.
Afinal, nem para pessoa real eu sirvo e não me quiseram. Bye bye até à próxima, disseram. Eu podia ter saído de lá completamente arrasada. Seria tão feia assim que nem para aparecer como figurante durante meio segundo num anúncio eu servia? Nem para uma publicidade a cotonetes como uma rapariga banal a limpar as orelhas em segundo plano ou a um antibiótico para as hemorróidas? Eu ri-me, abanei o cabelo e desfilei porta fora como se o Johnny Depp estivesse atrás de mim, mas eventualmente algumas das pessoas reais que lá estavam não levaram aquilo tão bem como eu e saíram com a auto-estima debaixo dos pés.
Eu olho para mim ao espelho e não vejo defeitos. Claro que já vejo rugas, celulite e coisas que gostava de mudar mas não vivo obcecada com isso. Vejo a minha cabeça, a minha personalidade, a minha alma, o meu humor sarcástico, a minha criatividade, o meu sorriso, as minhas palavras, a minha barriga cheia de abdominais (que muito me doem a fazer todos os dias) e tudo o que de bom tenho. Olho ao espelho e vejo-me bonita. Por isso, se uma agência tóxica me analisa e mede os meus traços para ver se são simétricos e decide que, afinal, eu não sirvo como pessoal real, eu rio-me.
O que vos queria dizer é que não vivam tão obcecadas com estas coisas. Não percam metade da vossa vida a pensar na pessoa que gostariam de ser mas tirem o maior partido daquilo que realmente são. Não deixem que pessoas tóxicas vos mandem abaixo ou vos digam que não são suficientemente boas. E se há algo que querem mudar e isso está ao vosso alcance, trabalhem para isso. Se querem emagrecer, procurem um plano de vida saudável que se adapte às vossas necessidades. Se querem uns dentes direitos, juntem algum dinheiro e coloquem um aparelho nos dentes (foi o que eu fiz). Se querem tonificar as pernas, façam alguns exercícios diários que não custam nada (eu gosto da Blogilates e das Tone it Up – mostram muitos exercícios rápidos que podemos fazer todos os dias em casa).
Porque ao fim e ao cabo, a beleza está dentro de nós e na forma como nos projectamos para os outros.
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