Adoro comprar livros antigos em promoções e desencantar coisas que nunca iria ler se não fosse de outra forma. As Vidas Privadas de Pippa Lee é um exemplo. Só depois de o ler é que percebi que, em 2009, havia sido feito um filme com Robin Wright no papel de Pippa actual e Blake Lively com a Pippa adolescente. E este é um livro interessante para se ler porque ao longo das páginas vamos descascando as várias camadas da personagem feminina e a forma como aquilo que os outros veem é apenas uma percentagem daquilo que somos nas nossas várias vidas.
Resumidamente, Pippa é casada com um homem de sucesso trinta anos mais velho, tem dois filhos, vive em Nova Iorque mas tudo muda quando o marido, já com 80 anos, decide vender tudo o que têm e mudar-se para um condomínio residencial de idosos. É aqui que a fera que Pippa tinha sido no seu passado, e que com o marido acabou por ser domada, volta a vir ao de cima ao ver-se presa num condomínio e numa vida como que terminada quando só tem 50 anos. É neste momento que mergulhamos no passado de Pippa, nos seus conflitos interiores e aquilo que a levaram a tornar-se a mulher que é, numa procura incessante de si mesma. À medida que vamos revisitando a Pippa adolescente, vamos compreendendo as várias relações que se cruzam: de Pippa com a filha, com o marido, com o filho, com a mãe… e percebemos que durante toda a sua vida, Pippa foi-se construindo enquanto ser humano e todas essas pessoas que vão passando a vão transformando – o que me deixa a pensar exactamente na forma como as coisas que vamos vivendo não são meros acasos mas lições que precisamos de viver.
É um livro leve de se ler, com uma narrativa fluída que nos faz pensar nas nossas várias camadas enquanto seres humanos e de que forma nos vamos adaptando àquilo que a vida nos dá. Mas, quando acabei, não senti o desfecho final que quase queremos obrigatoriamente sentir quando lemos um livro sobre relações humanas. É quase como se, de repente, a autora não se lembrasse de mais nada para acrescentar e decide terminar o livro, deixando as personagens ao deus-dará. Entretanto, vi o filme – que é uma excelente adaptação – mas não senti que o argumento ou as personagens tivessem a densidade e a construção que a autora lhes dá no livro. Há muita dramatização excessiva no filme em certas cenas e, noutras, que precisavam de uma carga emocional maior, é tudo relatado ao de leve.
Se vale a pena ler? Claro que sim – nem que seja para pensarem nas vossas vidas e no porquê de certos comportamentos que têm. Mas não o leiam à procura de um final com uma grande conclusão ou um desfecho emocional grande.
As Vidas Privadas de Pippa Lee de Rebecca Miller, publicado por ASA.
Opmerkingen