Há uns tempos, tive acesso a uma troca de mensagens entre duas bloggers. Falo de bloggers devido à concorrência cega que se vive neste meio, embora esteja longe de me considerar blogger. Entre as várias coisas que falavam sobre várias pessoas, eu aparecia no meio. Era chamada de sopeira (talvez por gostar de falar da forma simples como podemos viver a vida) e, a páginas tantas, de pseudo-escritora. Até aqui tudo bem. Pouco ligo às coisas que me chamam ou possam dizer. Mas incomodou-me pensar que alguém se dê a tanto trabalho diariamente. Passarão assim tanto tempo a ver e a escrutinar todas as redes sociais das outras mulheres para verem o que recebem, o que fazem, onde vão, que marcas lhe estão a pagar? Em que momento é que entra a sua própria vida pessoal? Porque se deixam absorver tanto por isto – isto que é uma vida virtual que não vale nada – ao invés de perderem realmente tempo a cultivar a realidade?
E dei por mim a pensar que é isto que move o mundo. É o poder entre as mulheres. Mulheres que odeiam mulheres não podem ir a lado nenhum. Foram as mulheres da minha vida que me fizeram chegar onde estou. Se o meu livro existe foi graças a elas. Todo o tempo que passamos juntas a conversar e a partilhar partes da nossa vida inspiram-me e fazem-me cultivar tudo o que tenho dentro de mim. Embora possa parecer que o livro é 100% eu, eu, eu, qualquer leitor atento vai perceber que não o é. São os meus pensamentos e as minhas reflexões sobre as experiências e os sentimentos de todas elas. É fácil para mim, estando de fora, calçar os seus sapatos e escrever sobre as suas emoções como se fossem minhas. E isto só é possível porque as mulheres têm esta capacidade incrível de viver a vida umas das outras.
E, acreditem, a minha vida é completamente diferente da das minhas amigas. E eu vejo a vida de formas completamente diferentes. Estando nos seus sapatos, provavelmente faria escolhas diferentes. Mas é essa a beleza da coisa. Mesmo sabendo que faríamos diferente, conseguimos ter empatia pela forma como as nossas amigas decidem viver.
Ontem à noite fui a um centro comercial com uma das minhas melhores amigas. Andámos por lá a deambular com ela a ver lojas e a comprar, comprar, comprar comigo a chamá-la de consumista por querer tudo o que está na moda. Ela ria-se e dizia: não levamos o dinheiro para a cova. O que até certo ponto é verdade. E eu comprei umas bolachas e levei-a ao cinema para vermos um filme francês ao fim da noite. Teremos tudo para ser amigas? Claro que não. Somos mulheres totalmente diferentes e vivemos a vida de uma forma totalmente diferente. Mas temos empatia para perceber as escolhas uma da outra e respeitá-las. Sabemos ver, uma na outra, a beleza daquilo que somos e o que temos a aprender uma com a outra. E eu aprendo com ela constantemente. Aprendo de tal forma que ela entra no livro em vários capítulos. Ela inspira-me. Ajuda-me a ser uma pessoa melhor. E a ver o mundo de outra forma. E não só ela. Todas as mulheres que me rodeiam o fazem.
Este é o poder das mulheres. Quando nós somos a nossa melhor versão umas para as outras, conseguimos mudar o mundo e fazer coisas incríveis. Conseguimos tornar-nos mulheres ainda melhores. Temos mais força. Mais conhecimento. Mais poder.
E confesso que me custa horrores – neste meio digital em que me vou movendo – sentir todo o ódio, o escrutínio, a ganância, a cobiça negativa, a ambição com mau fundo que nos torna inimigas de nós mesmas. Que nos faz odiar alguém só porque, de alguma forma, tem algo que queremos. Ou cobiçamos.
Sempre que falo da forma como as jovens se expõem e influenciam negativamente outras jovens, longe de mim estar a passar uma mensagem pessimista. Cá dentro, sinto sempre que estou a tentar mostrar que há mais para lá de batons, sapatos, maquilhagens, selfies e compras. Que viver para tirar fotografias de roupa não pode ser um objectivo de vida. Que continuar a fomentar que quanto mais corpo se mostra mais fama se tem, não pode ser uma estratégia. Eu procuro sempre mostrar que todas podemos chegar onde queremos, principalmente se nos rodearmos de outras mulheres poderosas, mas tal como me custa ver miúdas de 14 anos a maquilharem-se como se tivessem 24, também me custa ler e assistir à forma como as mulheres se atacam umas às outras. Se rebaixam. E se odeiam.
Vai haver sempre alguém a fazer algo melhor que nós. Vai haver sempre alguém a ter mais sucesso. Mais dinheiro. Mais tudo. Independentemente de a ofendermos e de escrutinarmos toda a sua vida para tentar encontrar qualquer coisa mínima por onde atacar.
Se eu gosto de toda a gente? Claro que não. Também não sou uma santa cheia de boa vontade. E as redes sociais também são tóxicas por isso. Seguia muita gente que me irritava diariamente, incluindo mulheres, claro. Ver as suas fotografias deixava-me incomodada e, como tal, optei por deixar de as seguir. Mas não as ofendo. Não as odeio. Apenas não quero ver as suas fotografias todas as manhãs porque não me identifico com elas. Quero rodear-me de mulheres que me inspiram e absorver daí também mais poder para mim.
E esta é a mensagem que quero deixar. Somos nós, mulheres, que nos levamos umas às outras mais longe. Ao invés de perderem tempo a odiar-se, saibam aprender umas com as outras.
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