No outro dia escrevi no Observador uma peça muito simples, com base em algumas investigações, que falava dos hábitos diários das pessoas hiper-produtivas. Sendo muito honesta, é completamente impossível ser-se assim diariamente. Porque tal como o nosso corpo tem dias, também a nossa cabeça os tem. E, desde que comecei a trabalhar em registo de freelancer, a minha própria forma de estar e de encarar o trabalho mudou. Para melhor, se querem que vos diga.
Reuni, por isso, alguns dos meus hábitos diários. Algumas das coisas que faço, outras que deixei de fazer, e que tornaram o meu trabalho muito mais produtivo.
Quando trabalhava numa redacção, estava sempre a parar de fazer uma coisa para fazer outra que me pediam. Dava por mim, às cinco da tarde, atolada em coisas que não tinha terminado e isso criava-me uma pressão desgraçada porque, depois, começava a tentar despachar tudo à pressa. Hoje em dia, se estou a fazer uma coisa, faço-a até ao fim. Por ex, não paro um artigo para escrever um post no blogue de uma ideia que me lembrei. Assento a ideia no meu caderno e, mais tarde, exploro-a. Uma das coisas que costumo dizer (a brincar, claro, mas faz algum sentido) é: não sou cirurgiã, nada do que eu faço é de vida ou de morte. Então, uma coisa de cada vez.
A imagem que uma pessoa tem de uma blogger é de alguém constantemente agarrado às redes sociais e a tirar fotografias e a filmar todos os passinhos que dá. Bem, pode ser. Mas isso é uma imagem extremamente irreal e floreada. No meu caso em particular, a primeira coisa que faço quando começo a trabalhar é efectivamente ir às redes sociais todas e aqui ao blogue. Depois, começo a fazer o que tenho para fazer nesse dia e não me deixo interromper por notificações de conversas constantes. Uso as redes sociais exatamente como “recompensas”. Se estou fora de casa, é normal estar mais atenta ao telefone mas, enquanto escrevo, desligo-me completamente.
Quando trabalhava num registo “normal” das 9h às 18h, fazia maratonas ao ponto de, em 2014, ter tido um problema lombar que me obrigou a fazer hidroginástica (e sim, numa turma da terceira idade, mas gostei muito). Essas dores (algo parecido com a ciática) surgiram por passar dias inteiros sentada numa cadeira. Como não queria ter de ficar até mais tarde, trabalhava que nem maluca durante o dia. E isso é altamente contraprodutivo. É o oposto de se ser produtivo. Ficava indisposta, com dores de cabeça, sem inspiração, motivação e passava metade do tempo nas redes sociais para, como dizia a mim própria, arejar as ideias.
Hoje em dia, estou sempre a fazer pausas. Se trabalho de manhã, por exemplo, paro ao início da tarde. Vou até ao café, encontro-me com outras pessoas ou vou beber um chá. Se, por outro lado, decido tirar a manhã, passo, então, o resto da tarde concentrada. Normalmente, escrevo os posts do blogue ao final do dia (depois de fazer tudo o que tinha para fazer nesse dia) porque já é, para mim, uma maneira de descomprimir. Claro que há dias em que me cai mais trabalho e sou obrigada a, nesse dia, fazer uma mini-maratona mas, acreditem, são raras as vezes em que isso acontece porque, normalmente, consigo organizar-me. Faço um calendário do que tenho para fazer, coloco metas e, sempre que atinjo uma, faço algo para descomprimir antes de começar a outra.
Ao início, quando me despedi e comecei a trabalhar em casa, deixei de ter horários. Ficava a ver séries até às tantas da manhã, dormia até à hora de almoço, trabalhava à tarde ou pela noite dentro. Fiquei completamente desregrada e isso cansava-me ainda mais. Havia dias em que acordava ao meio dia e estava mais cansada do que na noite anterior (já para não falar do estado em que a minha pele estava). No último ano, mudei completamente a minha rotina. Passei a acordar cedo, a adoptar hábitos regulares, a fazer as refeições todas e a obrigar o meu corpo a assumir um horário. Para quem trabalha em casa, nem sempre isto é fácil. Porque a televisão ou o sofá falam, por vezes, mais alto. Daí que é preciso termos a capacidade de nos auto-obrigarmos a ter horários.
No verão, como já partilhei, estive a fazer um projecto que me obrigou a uma dose de concentração brutal durante 2 meses e meio (em breve, já poderei mostrar hihihi). Foi das experiências mais bizarras que tive na vida mas que, ao mesmo tempo, me mostraram quem sou, a minha cabeça, as minhas capacidades e a forma como o meu corpo trabalha. Mesmo assim, com toda a pressão em cima de mim, tentei ao máximo não me deixar absorver por isso. A não cair na tentação do perfeccionismo nem do medo de falhar. Todos os dias acordava e pensava que ia dar o meu máximo e, se não desse, no dia seguinte iria correr melhor.
Esta é a minha forma de trabalhar todos os dias. Cada dia dou o meu melhor e não penso nas melhorias que poderia fazer. Porque em tudo na vida, podemos sempre fazer melhor. Quando leio artigos antigos, penso sempre em coisas que queria alterar mas não me deixo consumir por isso, caso contrário, passaria a vida a reescrever coisas, a corrigir, a editar, a tentar fazer melhor.
Claro que há dias em que acordo com menos motivação e isso também vos irá acontecer. Eu, pessoalmente, prefiro não lhe dar demasiada importância. Opto por tirar esse dia para fazer outras coisas e não me obrigo a trabalhar à pressão. Afinal, essa é a vantagem de não termos um patrão à perna a controlar tudo o que fazemos dentro do horário de trabalho.
Comments