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Foto do escritorHelena Magalhães

A única forma de prender uma relação é deixar-lhe a porta aberta


A Xtininha Aguilera cantava, nos anos 90, uma musiquita que lá no meio dizia qualquer coisa como “they say if you love something let it go, if it comes back it’s yours, that’s how you know” (agora fiquei nostálgica e fui ouvir). E por mais cliché, trivial e banal que isto seja, pfff… os clichés são, na sua grande maioria, verdades que tentamos menosprezar.

Há uns tempos andei a sair com um tipo e, numa noite, ele deixou-me plantada no Saldanha. Depois de várias mensagens a que não me respondeu – e eu ali entediada sem saber se me ia embora ou se tinha acontecido alguma coisa -, mandou-me uma a dizer que tinha sido desencaminhado pelos colegas de trabalho e estava no bar X na rua Y mas que eu podia lá ir ter se quisesse. Há aqui vários cenários possíveis que podiam ter acontecido: 1) eu passava-me porque ele me tinha deixado mais de uma hora à espera; 2) respondia-lhe uma merda qualquer a mostrar exactamente que estava fula; 3) cobrava o tempo que me deixou plantada; 4) dizia-lhe que nunca mais me iria fazer uma destas; 5)

dizia que, para a próxima, podia avisar mais cedo que tinha mudado de planos porque tinha arranjado outra coisa melhor para fazer. E de certeza que não iria haver uma próxima depois desta verborreia toda.

Na verdade, o que eu fiz foi simplesmente responder-lhe a dizer que mais valia, então, ele ficar essa noite com os amigos, para se divertir e, no dia seguinte, combinávamos nós qualquer coisa.

Só consigo imaginar que ele estivesse habituado a cenas, cobranças, dramas e discussões porque, depois desta mensagem, ele saiu do bar X onde estava – já não importava que o tinham desencaminhado – e apareceu-me em casa. Tornou-se tão chato depois disto que fui eu que me fartei dele.


A única forma de sermos felizes numa relação é sermos livres nessa relação

Mas o que importa para esta história é exactamente o acto de “deixar ir”. O que é que iria mudar a situação – ele estar atrasado por estar com os colegas – se eu começasse com uma discussão? Não ia mudar em nada e, eventualmente, iria diminuir a sua vontade em estar comigo. Tem tudo a ver com as energias que transmitimos uns aos outros. E odeio quando me começam a cobrar a mim. Então a minha perspectiva das coisas é sempre deixar que as pessoas sejam livres – tal como eu gosto de ser livre. 

Às vezes ouço conversas de amigas e colegas sobre estes temas. Porque ele foi sair com os amigos e chegou às cinco da manhã. Porque ele preferiu ir ali ou acolá do que acoli comigo. Porque ele vai passar fins de semana fora. Porque é sexta-feira e já está a fazer planos. Porque ele isto. Porque ele aquilo. Mas a única forma de sermos felizes numa relação é sermos livres nessa relação. E quanto mais cobrarmos, menos vontade a pessoa vai ter de (se) dar. 

Ele chegou às cinco da manhã? Chegou vivo, é o que importa. Ele preferiu ir ali ou acolá? Então vão vocês fazer qualquer outra coisa que vos apeteça. Ele foi passar o fim-de-semana fora? Aproveitem para estar com a família, com os amigos, para ler, ir à praia, ao cinema ou simplesmente estar sozinhas e tranquilas da vida. É sexta-feira e ele está a fazer planos? Façam um outro plano que vocês tenham. Porque razão – quando estamos numa relação – sentimos a necessidade de nos tornarmos siameses com a outra pessoa? Porque razão cobramos o tempo que não está connosco? Porque razão cortamos as asas uns dos outros?


A única forma de prender um homem (e quem diz homem, diz mulher) é soltar-lhe as amarras. Sempre odiei aqueles tipos controladores – onde vais? vens quando? que fazes hoje? vais novamente sair? com quem é que estás? quando é que estamos juntos? tipo, nunca, adeus – e sempre senti que os homens deveriam odiar o mesmo com mulheres assim – que controlam e cobram todos os seus passos.


A melhor coisa da vida é termos vontade de ir para casa porque sabemos que a outra pessoa também vai chegar. É sabermos que podemos fazer a nossa vida porque, algures a meio do caminho, cruzamo-nos com a vida dela.

Quando digo que a única forma de prender uma relação é deixar-lhe a porta aberta é exatamente isto. É deixarmos que a outra pessoa, connosco, se sinta em casa. É deixar-lhe a porta aberta porque sabemos que ela vai sempre querer entrar.

Porque nós somos a sua casa.


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