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Foto do escritorHelena Magalhães

A Partir de Uma Historia Verdadeira de Delphine de Vigan


Uma das coisas com que sou questionada uma série de vezes é se as histórias d’O Amor é Outra Coisa são reais ou inventadas/imaginadas por mim. E eu estou sempre a dizer que a linha entre o real e a ficção é muito ténue. Porque a partir do momento em que cada pessoa interpreta uma realidade à sua maneira, cada um de nós faz a sua própria ficção.

E é esta mesma premissa que está por detrás do novo livro de Delphine de Vigan, um thriller psicológico intenso que nos deixa sempre na duvida se o que estamos a ler é real ou um romance baseado na realidade – se é que isto existe. Escrito na primeira pessoa, a personagem principal também se chama Delphine e está a viver um período de grande sucesso após a publicação de um livro pessoal que se tornou um estrondo (tal como a autora, após ter escrito Rien Ne S’Oppose à La Nuit, sobre a sua própria mãe). E, ao longo da leitura, ficamos sempre na dúvida se isto é meramente uma ficção ou se aconteceu realmente à própria autora. Vamos mergulhando página atrás de página nesta narrativa curiosa sobre a amizade de Delphine (a personagem principal, não a autora) com L., uma mulher que entra na sua vida, lhe lê os pensamentos, adivinha tudo aquilo que deseja e se torna, dia após dia, assustadoramente presente, chegando a assumir a própria identidade de Delphine.

Poucas pessoas sabem quando devem aparecer se não as chamarmos. Poucas pessoas sabem passar por cima das barreiras que erguemos na terra movediça e lamacenta das nossas trincheiras. Poucas pessoas são capazes de vir buscar-nos onde realmente estamos. Mas pedir ajuda no presente, no momento em que te afundas, em que te afogas, tenho a certeza de que nunca o fizeste.

O que continuamos a questionar ao longo da leitura é: quem é L.? E o que vai acontecer a Delphine?

Aquilo que mais gostei, mas a título pessoal, claro, são as questões que Delphine levanta sobre a vida de um escritor. Como prosseguir depois de se escrever um grande sucesso? Como conseguir escrever qualquer coisa que pode vir a ser uma merda? E isto aplica-se a qualquer um de nós, nas nossas vivências e profissões. O que fazer depois de se ter atingido um grande sucesso? É preciso igualar o sucesso prévio com um ainda maior? E fazemo-lo para nós ou para os outros?

É um romance psicológico e bastante peculiar, em que assistimos na primeira fila a tudo o que se passa na mente do narrador/personagem principal e questionamo-nos continuamente: será L. real ou não? Li-o de uma assentada em três ou quatro dias, bastante embrenhada para chegar à conclusão, sempre na expectativa do que iria acontecer.

E o final? Está em aberto – o que significa que qualquer leitor o deixa à sua consideração. Mas, deixo-vos uma dica. Termina com: Fim*. E o leitor atento vai, finalmente, perceber o que aconteceu a L. e a Delphine.

A Partir de Uma História Verdadeira de Delphine de Vigan, publicado por Quetzal.

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