Ser feliz, ter um casamento duradouro, enriquecer, emagrecer, ser um líder, ter sucesso… os livros de auto-ajuda tornaram-se nas bíblias de toda uma sociedade em busca de respostas imediatas. “O Poder do Agora“, “O Segredo“, “O Poder do Hábito” são alguns dos mais vendidos no mundo e que prometem mudanças revolucionárias que nos vão ajudar a conseguir tudo o que precisamos na vida.
Right.
A única razão porque nunca me interessei por estas teorias de gurus comprados nas tele-vendas é porque estes livros dizem exactamente aquilo que queremos ouvir. Sentimo-nos conectados porque é como se aquela mensagem tivesse sido escrita para nós. Claaaaaro, somos todos iguais. Todos passamos pelas mesmas dúvidas existências a dada altura da nossa vida. O problema é que estas teorias de terceira categoria indicam caminhos, mas não resolvem nada sozinhas. Se não tivermos espirito de líder, não nos vamos tornar num porque o guru X assim o diz. E como tendemos a seguir os mesmo padrões, intrínsecos ao nosso comportamento, não conseguimos colocar nenhum dos ensinamentos mágicos em prática. É aí que surge outro livro, outra teoria hiper revolucionária. Essa sim é que vai funcionar. E voltamos novamente à estaca zero. Livro atrás de livro, teoria atrás de teoria, compramos todas as ideias que nos vendem mas não conseguimos colocar nenhuma em prática. Se conseguíssemos, este mercado já teria estagnado.
Já perdi a conta à quantidade de livros que já li. Devo ser uma das pessoas que mais livros de auto-ajuda leu, ossos do ofício. Fui obrigada, nos últimos anos, a ler, analisar e estudar as teorias mais absurdas vindas de todos os cantos do mundo. Mas há um tema que me fascina particularmente – os livros de auto-ajuda focados em relações. Porque este é o tema que toda a gente acha que pode escrever, homens e mulheres – Fui traída por isso vou escrever todo um livro sobre homens porque sei do que falo. Não, não sabe. E as mulheres continuam a comprar estes livros e continuam a alimentar teorias rí-di-cu-las sobre a vida e os relacionamentos que, em última análise, não só as vão prejudicar ainda mais como vão tornar todos estes pseudo-gurus nos novos milionários. Melhor teoria para enriquecer do que esta?
“Homens são de Marte, mulheres são de Vénus“. “He’s just not that into you“. “Porque os homens amam as mulheres poderosas“… Li, li, li. E as teorias são sempre as mesmas. Enrolam e enrolam sobre as atitudes dos homens, o que as mulheres não devem fazer, os sinais que nos mostram que um homem não está interessado, os parâmetros certos para conseguir uma relação perfeita… podia continuar e continuar. Quando é que a literatura se transformou nesta fantochada? Aprendi mais com Jane Austen, Virgínia Woolf, Danielle Steel ou Simone de Beauvoir e com as suas narrativas que analisam a postura e o papel da mulher nas relações, do que com qualquer livro de conselhos baratos da tão proclamada vaga literária chamada auto-ajuda.
Por mais que não queiramos ouvir, na verdade é tudo muito simples. Se um tipo está interessado em nós, vai mostrar-nos e ponto final. Não vamos ter de questionar as suas atitudes ou intenções porque vão ser genuínas. Não vai haver espaço para dúvidas. Não nos vamos deitar na cama a pensar “e se?”. Não vamos perder tempo a ler um livro barato que nos ajuda a perceber se, afinal, ele vai ou não casar connosco. Porquê? Porque vamos estar a usar todo esse tempo para viver e criar momentos com ele.
Perdoem-me todas as mulheres que compram e continuam a comprar estes livros. Mas quem é que ainda engole as tretas embrulhadas em conselhos que envolvem temas como “ele está só a passar por uma fase má”, “ele não atende o telefone porque tem muito trabalho”, “ele não está preparado para compromissos”, “ele vai deixar a mulher para ficar comigo”? Nenhuma mulher com mais de 25 anos deveria identificar-se com estes conceitos/dúvidas/problemas tããããão famosos entre os livros de relações. Porque se se identifica… é provavelmente por isso que as suas relações não funcionam. E é exactamente por isso que se deixa enganar pelos homens. E as respostas que precisa não estão de certeza absoluta nas 150 páginas desse livro.
Quando Greg Behrendt e Liz Tuccillo os lançaram, no seu super aclamado livro “He’s just not that into you”, chamaram-lhes revolucionários e visionários. Isto foi em 2004 e os livros de relações (ainda) não estavam na moda. Eles deram voz a estas dúvidas que, eventualmente, ainda muita gente tinha. Eu, pessoalmente, achei este livro hilariante mas pela negativa. Porque retratou uma mulher tontinha que se deixa enganar por homens que: não querem ter sexo com ela, não a convidam para sair, só lhes ligam quando estão bêbados, saem com outras mulheres, não querem assumir uma relação, desaparecem durante semanas para, depois, voltarem como se nada fosse… Ao ler o livro, senti-me ofendida enquanto mulher. Senti-me insultada por os autores assumirem à priori a estupidez da mulher que aceita estas condições para a sua vida como normais e que, por isso, precisa de ajuda para compreender que um homem assim, afinal, não gosta dela.
Dez anos passaram e, afinal, estas teorias continuam a alimentar livros. Por mais apaixonada que uma mulher esteja, quero acreditar que, ao deparar-se com algumas destas situações, os seus neurónios vão accionar o código vermelho e fazê-la acordar para a realidade e impor-se enquanto mulher. Quero acreditar que ela não precisa de comprar um livro barato numa prateleira de uma livraria para perceber o seu valor.
Porque se precisa… estamos a regredir e a estupidificarmo-nos ainda mais.
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