Uma das coisas que mais me perguntaram no domingo foi como consegui estar tranquila no Rock in Rio. A palavra tranquila é muito exagerada. Acho que, na verdade, nunca estou tranquila neste tipo de situações e não tem mal nenhum assumir isto. Não podemos é deixar que a ansiedade domine a nossa vida e nos defina. Do género: não vou aqui ou acolá porque tenho ansiedade. Não faço isto ou aquilo porque tenho ansiedade.
Então este é apenas um post para relembrar que não faz mal sentirmo-nos menos tranquilos em várias situações. Porque eu sinto constantemente. E um festival é uma delas.
Não fiquem constantemente a relembrar o passado ou quando não viviam com ansiedade
Podia pensar nos anos em que ia para concertos e festivais excitada, em paz, sem qualquer preocupação na minha mente a não ser estar o mais próxima possível do palco. Muitas vezes dou por mim a lembrar-me de quando vi Lily Allen, Amy Winehouse, Guns’n’Roses, Sting, Bon Jovi, Alanis, Morissette, Jamiroquai, Elton John, Corinne Bailey Rae, Stevie Wonder, Bryan Adams, Jessie J, Lana del Rey, Justin Timberlake, Maroon 5, Beyoncé, Lady Gaga e tantos outros concertos sem pensar nestas coisas. Mas, acreditem, recriminar-me ou dar cabo da minha cabeça com ideias de como era antigamente não é a solução. Já tive alturas da vida piores, já tive melhores. Já fui para o Sudoeste para ver Lily Allen sem bilhete e entrei com a pulseira de outra pessoa. Fui de mota, de boleia, para o Meco para ver Lana del Rey e entrei no festival com a equipa de uma marca a fingir que trabalhava lá. Nem sequer sabia como vinha para casa. Fui para Sagres sem ter onde dormir para ver alguém que ia actuar no festival e, no próprio dia, cancelou. Era a bitch da Lily Allen que, no ano seguinte, me obrigou a ir ao Sudoeste para a ver. Fiz trinta por uma linha sem nunca sequer pensar em ansiedade. Porque ela pairava num canto esquecido da minha mente.
Agora ela paira mesmo no centro da minha cabeça e não há como fugir. Então, ao invés de passar todo o meu tempo a lembrar-me de quando fazia tantas coisas sem me preocupar, prefiro preocupar-me em arranjar soluções para continuar a fazer essas mesmas coisas (dentro do possível) sem deixar que a ansiedade me domine as ideias.
Agora vou de carro para saber que me posso ir embora quando me apetecer sem depender de ninguém, levo a minha própria comida para não estar em filas de gente e tento ter sempre tudo organizado para ter a certeza que, já que não posso controlar o ambiente que me rodeia, controlo a minha forma de estar nele.
Algumas dicas SOS que partilho convosco
Isto são coisas que funcionam comigo. Não estou com isto a dizer que vão funcionar com toda a gente ou a incentivar a repetirem as minhas experiências. São apenas algumas ideias pessoais.
Não fiquem no meio da multidão Se querem ver mesmo, mesmo um concerto o mais perto possível, vão para as laterais. Mesmo nos meus tempos mais loucos (a palavra louca é mesmo irónica porque nunca fui louca, só tinha a ansiedade mais adormecida) vi muitos concertos nas laterais dos palcos onde dá para estar mais ou menos confortável. E é preferível estarem longe mas bem, do que lá à frente e serem retirados em braços com um ataque de pânico e acabarem por não ver nada. Em recintos fechados como o Pavilhão Atlântico, fico sempre nas bancadas sentada e ao pé de uma saída.
Não tenham vergonha da medicação Eu tomo sempre o meu calmante SOS nestas situações. E isto não é nenhum bicho papão. Uma das coisas que mudou a minha vida e a forma de viver com ansiedade foi quando me disseram há uns anos: quando temos dor de cabeça, tomamos um benuron ou qualquer coisa para as enxaquecas. Por que razão não havemos de tomar algo para a ansiedade quando nos sentimos desconfortáveis? É uma coisa tão simples e tão óbvia e que, na verdade, vai evitar todo o sofrimento por antecipação que se tem nestas situações. Tomarem um calmante SOS não quer dizer que estão dependentes de uma medicação. Claro que o cenário ideal seria não terem de tomar nada mas a ansiedade não se controla. E a partir do momento em que pararem de a tentar controlar, vão ser capazes de viver mais em paz com ela. Além disso, vai evitar que tenham um ataque de pânico e a bola de neve que é ter ansiedade à ansiedade. Ou o medo da ansiedade (que me acontece muito a mim). Ou começarem a pensar que vão ter um ataque e, voilá, eis um ataque.
Podem também beneficiar de soluções naturais Comigo funcionam. Já falei taaaanto sobre isto mas sinto sempre que nunca é demais voltar a falar. Eu sou absolutamente fã dos florais de Bach. Mas para quem não tem conhecimentos ou confiança para fazer as misturas (é o meu caso), a marca Rescue Remedy tem uma série de produtos para a ansiedade já com as misturas certas. Eu gosto bastante das pastilhas (são discretas porque é só colocar uma na boca), do spray de língua e das gotas. As gotas é o que uso mais porque é muito localizado e de acção rápida. Basicamente: 4 gotinhas na língua e pode-se repetir de 10 em 10 minutos até nos sentirmos bem. Podem comprar no Celeiro.
Outra marca que gosto bastante e que tenho usado é o roll-on SOS stress da Puressentiel com uma mistura de 12 óleos essenciais que ajudam a controlar a agitação, o medo e os nervos. Aplicam nos pulsos, nas têmporas e nas artérias do pescoço e esfregam os pulsos e inspiram dez vezes o aroma. Claro que isto pode ser estranho fazer no meio de um concerto mas, lá está, a respiração é a base da ansiedade e a melhor forma de a aliviar. Podem usar este aroma para ajudar na respiração.
E vão com pessoas/amigos com quem se sintam protegidos Já contei noutro post a história da amiga que me deixou sozinha num concerto de Joss Stone enquanto tinha um ataque de ansiedade no meio de uma multidão de gente. E isto não pode acontecer. Viver com ansiedade também nos ensina a rodearmo-nos de pessoas que nos transmitam confiança. Amigos que sabemos que vão saber lidar connosco, acalmar-nos e ajudar-nos numa situação destas. Amigos que sabem que vocês não querem ir para o meio da multidão, amigos que vos respeitam e com quem se sintam de certa forma protegidos.
Eu sei que a ansiedade é tudo uma questão psicológica e grande parte do trabalho está em sabermos estar connosco próprios. E isto é um trabalho para a vida toda – aprender a conhecer o nosso corpo e a não ter vergonha das nossas fragilidades.
Era isto que levava na minha malinha à cintura. Eram as coisas que queria ter sempre à mão: o Rescue e o roll-on da Puressentiel; um desinfectante de mãos porque sou obcecada com bactérias e num festival estamos sempre com as mãos no chão ou vamos à casa de banho e já não há sabonete…; um creme de mãos para não ficarem a cheirar a comida; um bálsamo em stick para não ter de colocar os dedos lá dentro; e pastilhas porque não dá para lavar os dentes.
E esta malinha é mesmo da parte de crianças do Jumbo. Eu gosto de fazer muito DIY, então adaptei o fio, coloquei-lhe uma espécie de presilha e transformei-a numa bolsa de cintura para mim. Original e personalizada.
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