Depois de ter lido tanto sobre Elena Ferrante, antes do natal comprei o primeiro volume, A Amiga Genial. Vou ser honesta: nas primeiras trinta ou quarenta páginas não me cativou por aí além. Achei a escrita cansativa por ser 90% em descrição e pensamentos. Há poucos diálogos e, para o tornar ainda menos apelativo, este primeiro livro da tetralogia é o período da infância. Mas quando achei que não aguentava mais e ia morrer a ler isto, o meu próprio cérebro entrou dentro da história. Ou então, acabei por me afeiçoar às personagens. Ou, o mais certo, Elena Ferrante utilizou a famosa técnica de prender o leitor – escreve em vaivém. Desvenda algo para, a seguir, retroceder e, mais tarde, voltar a mais mistérios.
Sempre achei que a amiga genial fosse Lila – a personagem que a narradora (ou Elena) está a descrever, a sua melhor amiga de infância e a mulher que, no início do livro, desaparece. Só já quase no fim é que se entende que a amiga genial é a própria narradora pelos olhos de Lila. O que mais gostei neste livro é a escrita crua de Elena, a forma como descreve aquela amizade envolta em obsessão, apesar de me ter incomodado um pouco o facto da narradora se colocar sempre numa posição inferior à sua amiga, Lila.
Também gostei bastante, bastante, bastante da forma como Elena conseguiu criar todo este universo de personagens que vivem no bairro, todas elas cheias de camadas e personalidade, o que nos faz sentir como se lá vivêssemos. E criar muitas personagens não é um trabalho fácil. E por ser um livro em memória, é interessante ler os pensamentos infantis das personagens aos catorze anos misturado com as próprias opiniões da narradora enquanto adulta a recordar esses momentos.
Além disso, quando se chega ao fim deste primeiro volume, consegue-se perceber que isto é uma história de mulheres para mulheres, com personagens que colocam à prova as normas da sociedade e querem ser sempre mais, desafiando tudo e todos em prol do desenvolvimento. E isto é muito #girlpower.
O livro acaba num momento de catálise da história, deixando-nos literalmente em pulgas pelo segundo volume que vou comprar neste fim-de-semana.
A Amiga Genial de Elena Ferrante, publicado por Relógio d’água.
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